Lula não tem noção do que é democracia

“Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?” “Por que Margaret Thatcher pôde ficar 12 anos no poder, e (Hugo) Chávez não?”

Ao fazer as perguntas, Luiz Inácio Lula da Silva ficou nu. Expôs-se inteirinho. Sem qualquer sinal de pejo, de vergonha na cara – muito ao contrário, até com a jactância, a soberba dos que se acima do bem e do mal, acima de todos os outros, mostrou ao mundo quem é, o que pensa, o que defende.

Não se trata apenas da prova provada de que Lula defende ditaduras e ditadores, desde que sejam de esquerda – como afirmou em belo artigo na Folha de S. Paulo desta terça-feira, 23/11, o economista Joel Pinheiro da Fonseca.

É isto, sim, é claro.

Mas é mais.

Com as perguntas ridículas, estapafúrdias, o czar do Partido dos Trabalhadores demonstrou cabalmente que não tem a menor idéia do que seja democracia.

A menor, a mais vaga, a mais distante idéia do que seja democracia.

Não é apenas a comprovação de que Lula não é um democrata. É a comprovação de sua cabeça não consegue compreender o que é democracia.

Bem… Provou também que não é tão inteligente, tão esperto, quanto querem nos fazer crer. Porque esse tipo de declaração, obviamente, é um claríssimo suicídio para um político em busca de votos fora da seita de seguidores fiéis. Um perfeito sincericídio. Mas isso é o de menos.

O que importa é isto: Lula demonstrou, em alto e bom som, que não faz a menor noção do que seja democracia. (Sérgio Vaz)

Lula em sua melhor forma

Editoriais, O Estado de S.Paulo, 23/11/ 2021

Uma recente entrevista de Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal El País confirma que o líder petista não mudou nada: continua achando que pode impor sua realidade paralela, com a pretensão de que tudo, rigorosamente tudo, deve se sujeitar a seus interesses. Sem qualquer constrangimento, debochou dos fatos, da inteligência alheia e do regime democrático. Quem julga merecer o voto de seus concidadãos não pode se esconder em um mundo imaginário, regido pela irresponsabilidade e pela mendacidade.

A título de defender a permanência ilimitada no poder de autocratas esquerdistas latino-americanos, seus amigos do peito, teve a audácia de compará-los a líderes de inquestionáveis credenciais democráticas que governaram por mais de uma década. Questionado sobre as escandalosamente fraudulentas eleições na Nicarágua, que serviram para manter o governo ditatorial de Daniel Ortega, Lula comparou o tirano, pasme o leitor, à premiê alemã, Angela Merkel: “Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?”, perguntou o petista – que, convicto de que o leitor é mesmo um cretino, foi além: “Por que Margaret Thatcher pôde ficar 12 anos no poder, e (Hugo) Chávez não?”.

Lula acrescentou que não pode “interferir nas decisões de um povo”, desconsiderando que o povo a que ele se refere não pôde tomar decisão nenhuma, já que as “eleições” na Nicarágua e na Venezuela são apenas cenográficas, como sabem os governos de países civilizados que contestam seus resultados.

A respeito da proibição de manifestações em Cuba, Lula não teve pudor em relativizar mais essa incontestável violação de direitos humanos, tratando como coisa corriqueira, comum em todos os lugares. “Essas coisas não acontecem só em Cuba, mas no mundo inteiro. A polícia bate em muita gente, é violenta. (…) Precisamos parar de condenar Cuba e condenar um pouco mais o bloqueio dos Estados Unidos”, disse o líder petista.

É realmente impressionante a devoção de Lula a um regime violento e opressor. Estamos em pleno século 21, não há nenhuma dúvida sobre o caráter autoritário do Estado cubano e mesmo assim o líder petista segue em absurda subserviência. Sempre foi vergonhosa a atitude do PT em relação a Cuba; no momento atual, é estupidez negacionista em sua face mais desumana.

Como gosta de se dizer perseguido pela Justiça, Lula deveria ao menos ter alguma empatia por presos políticos de outros países; afinal, são pessoas que, em tese, estariam em situação similar à sua. Mas não. Lula não tem qualquer apreço pelos cidadãos perseguidos, por exemplo, por Daniel Ortega. “Não posso julgar o que aconteceu na Nicarágua. Eu fui preso no Brasil. Não sei o que essas pessoas fizeram. Só sei que eu não fiz nada”, disse o petista, sugerindo que os presos políticos na Nicarágua talvez tenham feito por merecer o calabouço.

Além de indiferença com os direitos humanos e de explícita simpatia por ditadores, Lula mostrou, na entrevista, ideias bem peculiares sobre o funcionamento de uma democracia. “O problema da democracia em Cuba não será resolvido instigando os opositores a criar problemas para o governo”, disse o líder petista.

A mensagem é clara. Lula não quer ver ninguém criando problema para governos que são seus amigos. Nesses casos, cabe à oposição apenas colaborar com o governo. E se não houver essa gentil parceria, os opositores perseguidos não devem esperar solidariedade de Lula ou do PT. Afinal, não fizeram a sua parte.

Tal proposta, por si só, avilta a ideia de democracia e pluralidade. Feita por Lula – que sabotou todos os governos a quem fez oposição – é pura desfaçatez.

Na entrevista, Lula defende Hugo Chávez, Daniel Ortega e a ditadura cubana, mas, ora vejam, não se encontra uma mínima defesa de Dilma Rousseff. Está claro que o líder petista não deseja falar daquela que lhe sucedeu no Palácio do Planalto. Compreende-se: é um tema difícil, que remete à brutal crise social e econômica que o PT legou ao País. Melhor falar do bloqueio americano a Cuba.

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(Não consegui copiar e colar o texto do artigo de Joel Pinheiro da Fonseca na Folha de S. Paulo; aqui vai uma reprodução. )

23/11/2021

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