Lelé e fascistóide

Ernesto Araújo era um funcionário inexpressivo do Itamaraty, antes de ser ministro. Nunca tinha sido embaixador. Foi indicado pelos filhos de Bolsonaro porque tinha um blog facistóide de que eles gostavam muito.

Vejam que o termo fascistóide não é gratuito.

Lembram do episódio no Senado em que o assessor internacional da Presidência, Felipe Martins, sentado logo atrás de Araújo, fez o sinal da supremacia branca?

Não foi a única manifestação favorável à supremacia branca que ocorreu naquele exato momento. O então ministro de Relações Exteriores de Bolsonaro aproveitou para fazer também a sua manifestação fascista.

Araújo, sem nenhuma justificativa plausível, começou a discorrer misteriosamente sobre uma sigla usada pelas legiões romanas, o SPQR – Senatus Populus Que Romanus, ou, o Senado e o Povo Romano.

É a mesma sigla que aparece destacada pelo círculo verde na foto acima.

O governo de Mussolini utilizava muito a sigla SPQR como uma inspiração para o fascismo, porque sonhava com a restauração do poder do exército romano.

A sigla SPQR é usada frequentemente em manifestações nazifascistas e também como tatuagem por grupos neofascistas e supremacistas brancos. Eles cultuam a referência dela ao militarismo das legiões romanas.

SPQR e símbolos nazistas costumam aparecer juntos.

O Ministro das Relações Exteriores e o assessor de Bolsonaro estavam, ao mesmo tempo, em plena audiência no Senado, enviando mensagens cifradas para seus seguidores neofascistas e fazendo apologia da supremacia branca.

Achavam que não seriam detectados.

Na Europa, a técnica usada é fazer essas manifestações de forma a ser notada apenas pelos seguidores, mas discreta o suficiente para ser negada, ou posta em dúvida, para evitar problemas com a lei.

Porém, observadores que conhecem os símbolos atuais dos movimentos nazifascistas detectaram a manifestação da dupla, que veio se somar a outros episódios anteriores do mesmo tipo, promovidos por membros do governo Bolsonaro.

Como a performance do ex-secretário de Cultura Roberto Alvim, na sua imitação de Goebbels. Ou a marcha nazifascista dos 300, de Sarah Winter, assessora da ministra Damares, realizada em plena Esplanada dos Ministérios.

Considerando o tipo de colaboradores que o governo Bolsonaro atrai, a saída de uma figura com o perfil de Ernesto Araújo significa uma mudança apenas superficial na diplomacia brasileira. Ele era visto no exterior como um encrenqueiro, adepto das maluquices do QAnon, que conseguiu entrar em conflito com vários países e, inclusive, boicotar o esforço diplomático do Brasil para adquirir vacinas.

A substituição dele pelo diplomata que aceitou o cargo de Chanceler disposto a se curvar às insanidades de Bolsonaro não vai melhorar muito a atuação do Itamaraty, porque Araújo executava a política externa segundo as diretrizes do seu chefe. E ninguém assumindo agora um cargo no governo poderá alegar depois que não sabia em que tipo de pocilga estava entrando.

Mas a reação, tanto externa, como entre os diplomatas brasileiros, foi de tamanha reprovação ao antigo Chanceler, que dificilmente Bolsonaro deixará de recuar um pouco, como faz sempre que é pressionado.

Ernesto foi o símbolo do momento mais ridículo da história da diplomacia brasileira. Pelo menos a saída dele equivalerá à retirada de um bode da sala. Não melhora muito a situação da sala, mas qualquer alternativa é sempre um melhor do que tolerar a presença de um bode tão empolgado com o neofascismo.

Este artigo foi originalmente publicado pelo site de perguntas e respostas Quora

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