Fora, Bolsonóquio!

Na semana em que se completam mil dias de seu desgoverno, Jair Bolsonaro – inacreditável, torcida brasileira! – falou uma verdade: “Nada está tão ruim que não possa piorar”.

Uma verdade, em mil dias de seguidas, incessantes, escandalosas mentiras, falsidades, burlas, fraudes, imposturas, invenções.

Tudo pode piorar ainda mais.

Ele mesmo é a prova viva disso. A prova ambulante – nojenta, asquerosa prova disso.

Por exemplo: só foram mil dias do desgoverno – e, portanto, como muito bem lembrou Mary Zaidan no seu artigo deste domingo, 26/9, ainda faltam 457 dias. Se não for processado e impichado, se o Brasil só conseguir vê-lo pelas costas em janeiro de 2023, ainda temos 457 dias em que a situação vai piorar, e muito.

Outro exemplo:

Quem poderia imaginar, ali por 1980, 1981, que Paulo Maluf, então o político mais mentiroso da História do Brasil, iria se transformar quase num mentirosinho bobo, um pescador de fim de semana que conta umas balelas entre os amigos, comparado ao atual presidente da República?

Quando Maluf foi governador de São Paulo, entre 1979 e 1982 – governador biônico, indicado pela ditadura militar –, uma de suas mentiras mais escandalosas era de que havia petróleo no Estado, e ele iria fazê-lo jorrar, com a empresa estatal que criou e batizou como Paulipetro.

Por causa dessa mentira absurda, e de tantas outras, outras tantas, o vibrante, alegre, talentoso Jornal da Tarde começou a publicar uma série de desenhos em que o nariz de Maluf crescia como o de Pinóquio. Nos editoriais – escritos por Ruy Mesquita, ou encomendados e melhorados por ele a mão, naquela letra que só a Milai Cardoso de Almeida e o Oswaldo de Camargo entendiam perfeitamente  –, o Jornal da Tarde desancava com o governador mentiroso e corrupto. E, nas primeiras páginas desenhadas pelo diretor de redação Fernando Mitre, brilhavam as ilustrações da dupla Gepp & Maia. Haroldo George Gepp e José Roberto Maia de Olivas Ferreira.

***

E aqui me permito uma rápida digressãozinha.

Meu, como tinha talento dentro daquela saletinha ao fundo da redação do JT no que a gente chamava de “prédio novo”, o gigantesco prédio que parecia um transatlântico ancorado (alguns diziam encalhado) às margens do Rio Tietê.

O nome da seção era “A Arte”. “Pede lá na Arte”,  a gente dizia. “Fala lá com o pessoal da Arte”. O chefe era o Sacramento, figurinha carimbada. Ao menos teoricamente o Sacra era o chefe – mas todo mundo sabia que ele não mandava coisa alguma nos talentos daquela moçada. Em talento não se manda.

E que moçada, meu Deus do céu e também da Terra.

Sandra Abdalla.

Patrício Bisso.

Ariel Severino.

Cláudio Morato.

Hilde Weber.

Marguerita Bornstein.

Rubens Matuck.

E Gepp & Maia.

Não creio que algum outro jornal – brasileiro ou de qualquer outro país – tenha tido numa saletinha junto de sua redação um time como esse.

Gepp & Maia desenhavam os lances dos melhores gols da rodada. Era uma invenção deles, algo que não me lembro de ver em nenhuma outra publicação.

Ficaram famosos pelos seus mapas ilustrados – plantas de São Paulo, de trechos de São Paulo, de bairros de São Paulo, sem grandes preocupações com a exatidão métrica, com desenhos das atrações de cada lugar. Uma maravilha absoluta. Agora mesmo, quando perguntei ao Carlos Bêla, designer gráfico de primeiríssima qualidade, o que construiu este site e o + de 50 Anos de Filmes, se ele se lembrava de Gepp & Maia, disse que sim, é claro, é óbvio – e se lembrou de algo de que eu mesmo tinha esquecido. Que depois dos mapas a dupla também passou a fazer grandes maquetes de cidades. Uma delas, lembrou o Carlos, foi exposta no Masp. Verdade, verdade – e agora me lembro que há uma maquete de São Paulo criada por eles num dos prédios do Memorial da América Latina, aqui pertinho de casa.

Até mesmo uma grande maquete das Ilhas Falkland/Malvinas eles construíram, ocupando quase toda a área da Arte, durante a guerra – e o Roberto Godoy, o especialista em armamentos do jornal, usava fotos da maquete para explicar o andamento do conflito.

Os gols, os fantásticos mapas, aa ilustrações, as caricaturas, as charges, as maquetes – e o Paulinóquio.

O famoso Maluf de nariz que crescia sem parar na primeira página do Jornal da Tarde.

***

Agora, quase 40 anos depois, o Maluf parece mesmo um mentirosinho de nada comparado a Jair Bolsonaro.

Da mesma maneira com que os roubos de Maluf, comparados com os praticados durante os governos lulo-petistas, viraram fichinha, café pequeno, coisa de pouca monta, pecadilho.

Comparado com o mensalão e o petrolão do lulo-petismo,  Maluf é um batedor de carteira. Um punguista que jamais usou uma arma de fogo.

Nunca nenhum presidente da República mentiu tanto quanto Jair Bolsonaro.

E então, logo depois do lamentável, vergonhoso discurso na Assembléia Geral da ONU em que ele disse, entre outras coisas, que tudo na Amazônia vai bem, nunca esteve melhor, eu tive a idéia de pedir ao Gepp uma ilustração do Bozo mentiroso.

Não poderia imaginar o presente que receberia. Not even in my wildest dreams, como dizem as moças nos filmes americanos.

O cara não é mole.

Muito obrigado, Gepp!

27/9/2021

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