Eita Semaninha Ruim, Sô!

Já tem dois dias que estou tentando me inspirar em alguma notícia que valha a pena comentar, mas tá difícil.

Quando se liga a TV, a primeira imagem que aparece é aquela de cortar qualquer coração humano. A do pequeno Henry mancando pelos corredores da câmara de tortura em que foi transformado o apartamento onde moravam aquele tal jairo — sim, em letra minúscula, do tamanho da sua alma — e daquela que pariu a criança (não consigo falar o nome nem olhar a cara da pessoa).

Já chorei muito diante dessa cena e diante das novas informações que estão aparecendo, e ficando cada dia mais estarrecida com o grau de crueldade que algumas pessoas podem atingir.

Ligo na GloboNews pra assistir aos meus programas favoritos, à tarde o Studio I e depois a Edição das Seis, e cadê Gabeira e seu gato gordo deitado no sofá? Cadê Natuza com seus comentários ácidos sobre essa turma que governa o país? Cadê o Camarotti com as notícias fervilhantes vindas de Brasília? Nada!

Dois dias seguidos que aqueles ministros do STF falam horas e horas para votar sim ou não sobre um determinado assunto.

Entre outras coisas, discutem sobre a decisão individual de Luís Roberto Barroso que mandou o presidente do Senado tirar o bundão da zona de conforto para que instaurasse, sim, a CPI da pandemia. Afinal, todo mundo quer saber por que razão o presidente da República não comprou as vacinas quando precisavam ser compradas e por que, no lugar de oxigênio, o Pazuellão foi distribuir cloroquina no Amazonas.

Mas daí a turma do deixa-disso começou a criar caso e quis melar a decisão do Barroso.

Então a solução foi levar a votação para o plenário. Depois de muitos discursos, centenas de datas vênias, cumprimentos a fulano, beltrano, sicrano, e muitas horas de vossas excelentíssimas excelências, chegaram enfim ao placar quase unânime que confirmou o que Barroso já tinha decidido em alguns minutos.

No dia seguinte, você liga lá e pensa: oba! Acabou aquela ladainha, vou poder ver o gato do Gabeira dormindo tranquilamente na poltrona como se não morasse no Brasil.

Ledo Ivo engano, como costuma dizer o jornalista Sérgio Vaz. Lá estão eles, de novo, falando, falando e falando — agora sobre se o ministro Edson Fachin agiu certo na decisão de anular as condenações de Luiz Inácio.

Caramba! Se a decisão individual de um juiz levanta tanta lebre, por que eles não resolvem logo que é melhor julgar sempre juntos seja lá o que for?

Isso é mais chato do que ter de assistir àquela tormentosa ópera de Richard Wagner, em 5 atos, e em alemão, depois de já entorpecidos por todos os vinhos que o reino do Reno nos oferece.

Desculpem pela comparação, fãs do Richardão, e pela minha falta de sensibilidade artística, mas esses julgamentos intermináveis do STF me levaram ao Rienzi, o Último dos Tribunos, a ópera que leva umas seis horas para contar sobre os atos do tribuno Rienzo, um personagem da Itália Medieval que pretendia promover um levante popular. Era a preferida de Hitler, que a assistiu mais de quarenta vezes (ufa), e serviu de inspiração para a criação do partido nazista…

Bem, pelo menos o assunto é atual. Vocês vão querer que eu conte o resto? Posso contar, mas já vou avisando que vai levar um tempo!

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 16/4/2021. 

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