Pelo que temos assistido nestes últimos dias, bem que CPI poderia ser a sigla de Como Pode Isso?
Não dá pra acreditar nas acrobacias que a bancada governista vem fazendo para tentar salvar a pele do chefe da Nação na questão da (má) condução da pandemia.
Aliás, nem vejo a necessidade de uma CPI para apurar se o presidente foi negligente na compra de vacinas ou se estimulou o uso de medicamentos que não servem para combater a Covid. Até as emas do Palácio sabem disso.
Mas concordo que o trabalho dos senadores seja necessário, para que não restem dúvidas. O que não dá pra aguentar é aquela babação de ovos dos governistas na tentativa de eximir Jair Bolsonaro de culpa.
Na sessão da última quinta-feira, o senador do MDB Fernando Bezerra, líder do governo no Senado, escorregou na baba enquanto balia defendendo o presidente. Praticamente culpou a Pfizer pelo fato de o governo não ter adquirido vacinas ano passado, quando a proposta foi apresentada. E mandou ver perguntas do tipo “que garantias vocês davam de que iam entregar as vacinas”? Menos, né, Bezerra! Achou que vocês estariam comprando imunizantes da Ali Express?
Mas isso até que foi o de menos. No dia anterior teve o (falso) testemunho do ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fábio Wajngarten. Esse nadou de braçada num mar de mentiras a ponto de levar uma enrabada a seco do presidente da CPI Omar Aziz, no fim da sessão: “A prisão vai ser seu menor castigo”, disse. E continuou dizendo que ele, Wajngarten, vai ter de conviver com a falta de credibilidade, de confiança, que suas mentiras não agradaram a ninguém, nem aos senadores, nem ao Bolsonaro. Faltou dizer que ele era um bosta, mas deve ter entendido que não precisava.
Só que ele não foi o único mentiroso da CPI. O atual ministro da Saúde, Eduardo Queiroga, digo, Marcelo Pazuello. Péra, acho que não é nada disso, mas tanto faz, é aquele um-manda-outro-obedece cover que copiou e colou as atitudes do seu antecessor. A diferença é que o ele engana melhor nas entrevistas.
Até agora, pouca coisa mudou na condução de medidas contra a Covid. Quem esperava que Queiroga viesse para pôr ordem no galinheiro vê agora que o galo continua cantando mais alto.
Só que não dá para generalizar e afirmar que todos mentem na CPI. Semana que vem tem uma testemunha convocada que provavelmente não vai mentir. Dependendo da caneta do ministro Lewandowski, Eduardo Pazuello vai poder ser manter calado.
Entre todas as baixarias apresentadas durante o inquérito, o destaque da semana ficou entre rotos e rasgados. Renan Calheiros, o relator da CPI, e Flávio Bolsonaro, que apareceu de bicão no recinto, trocaram farpas das pesadas: “você é um vagabundo”. “E você tirava dinheiro dos seus funcionários na Câmara”.
Apesar de impertinente a peleja entre os dois e de ter sido essa a maior das baixarias, não se pode dizer que estejam errados. Muito embora, neste momento, entre o vagabundo que está ajudando o país a achar o verdadeiro culpado pela mortandade que ainda não acabou e o bandido das rachadinhas, tenhamos de torcer pelo vagabundo. A que ponto chegamos!
Pobre Brasil! Pobres de nós!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 14/5/2021.