Antes mesmo da pandemia provocada pelo coronavírus, o mundo já passava por intensas transformações. Elas vinham provocando impacto direto na forma de a sociedade produzir e se organizar, em um claro indicativo de que estamos no limiar de uma nova era.
O Brasil, por absoluta incompetência e falta de foco, segue firme para, mais uma vez, ser retardatário na Educação. Perdem-se tempo e energia discutindo uma agenda ideológica que não terá o condão de alterar o quadro sofrível do sistema educacional brasileiro. No governo de Jair Bolsonaro, o Ministério da Educação foi transformado em uma trincheira do olavismo em sua guerra contra o “marxismo cultural” e é incapaz de articular Estados e municípios na tarefa de garantir o aprendizado necessário para dezenas de milhões de estudantes.
Enquanto patinamos, a Educação passa por intensas transformações em escala planetária.
Tudo está em mutação, desde o currículo e a arquitetura da sala de aula ao papel do professor, cada vez menos detentor do monopólio do conhecimento e mais um gestor do processo de aprendizagem. Também já não se concebe mais uma educação com disciplinas estanques, que não se comunicam entre si.
O pano de fundo dessas transformações é a quarta revolução industrial, com o advento da Robótica, da Inteligência Artificial e do Big-Data. O novo desafio da Educação é formar os jovens em um mundo volátil, instável, complexo e ambíguo, para utilizar a definição do Plano Educação 2030 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico-OCDE.
E a Covid-19 tem acelerado o redesenho de nossas vidas. Na economia, na cultura, na maneira das pessoas se relacionarem, na política e na própria educação.
Nos próximos 15 anos, muitas profissões desaparecerão e o trabalho rotineiro – manual ou intelectual – será realizado por máquinas. Sobreviverão apenas as atividades em que robôs e a inteligência artificial não têm condições de substituir o homem. Cada vez mais o mercado exigirá de seus profissionais resiliência, curiosidade, autorregulação, capacidade de liderança, cooperação, entre outras habilidades socioemocionais.
As escolas só conseguirão desempenhar a contento a nova missão se trouxerem o aluno para o centro, transformando-o em protagonista da sua própria aprendizagem. O ensino de matemática, português e ciências naturais continua tão importante quanto antes, mas tão fundamental quanto esse conhecimento é desenvolver no aluno essas habilidades não cognitivas que farão a diferença na construção do seu futuro.
A reforma do Ensino Médio e a definição da Base Nacional Curricular Comum para o Ensino Básico, aprovados no governo anterior, foram passos decisivos no sentido de colocar o Brasil em sintonia com as mudanças já adotadas nos países com melhor lugar no ranking do sistema internacional de avaliação.
A falta de continuidade de políticas educacionais, uma das causas do nosso atraso, é responsável, entre outros efeitos, para o fato de que apenas 5% dos concluintes do Ensino Médio tenham uma formação satisfatória.
Ao chegar a 1.000 dias de governo, Bolsonaro tem muito pouco a mostrar em matéria educacional. Simplesmente porque não entendeu até agora que a única ideologia pertinente é a da aprendizagem.
Essa deveria ser agenda de uma política educacional transformadora e de Estado.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 29/9/2021.