Engana-se redondamente quem pensa que Jair Bolsonaro não faz nada.
Vivemos a pior crise sanitária em cem anos – e ele trabalha muito, arduamente, insistentemente. Faz de tudo para piorar o que já é apavorante, assustador, infernal.
No mês de fevereiro, enquanto o número de mortos pela Covid-19 no Brasil dobrava a cada 26 dias e ultrapassava a marca de 250 mil, o monstruoso idiota que ocupa a Presidência da República não apenas não moveu uma palha sequer para tentar minorar os efeitos da pandemia, como se esforçou tremendamente para atrapalhar o trabalho de quem cumpria seu dever – desde os médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem até secretários de Saúde, prefeitos, governadores.
Chegou ao absurdo total de contestar o uso de máscaras, um dos recursos mais absolutamente básicos na luta contra a pandemia.
De fato, só falta ele discursar numa live para o gado dele que esse negócio de lavar as mãos com água e sabão é coisa de maricas.
Nada disso aí – apesar de chocante – chega a ser novidade. Faz já 2 anos e 2 meses que Jair Bolsonaro não faz nada, absolutamente nada que preste, e assim às vezes temos a impressão de que não há ninguém na Presidência.
Como diz aquele meme que eu mesmo postei no Facebook, e muita gente gostou e compartilhou:
“Fique em casa! Estamos sem presidente, sem ministro, sem teste, sem vacina, sem vaga em hospital e sem paciência para gente idiota.”
É uma boa brincadeira, uma boa piada – mas não exprime a verdade dos fatos. Um balanço ainda que rápido, e uma excelente reportagem de O Globo, mostra que não estamos sem presidente, não.
Temos um presidente muito ativo em fazer o mal.
Apenas em fevereiro, Bolsonaro fez nove viagens a diferentes cidades brasileiras, para compromissos sem qualquer importância – como a inauguração de um centro de treinamento de atletismo em Cascavel, Paraná, a entrega de alguns veículos em Florianópolis, Santa Catarina, a entrega de títulos de propriedade em Alcântara, Maranhão, ou o acionamento de comportas em Sertânia, Pernambuco.
Compromissos sem qualquer importância, dos quais nem um governador ou um prefeito se dariam ao trabalho de participar. Viagens que na verdade são claramente, obviamente atividades de campanha eleitoral, pura e simples.
Além das cidades listadas logo acima, em fevereiro ele foi também a Campinas (SP), Rio Branco (AC), Foz do Iguaçu (PR), Tianguá (CE) e Fortaleza (CE).
Essas nove viagens estão na agenda oficial da Presidência da República. O que não está na agenda é que em todos esses locais o candidato palanqueiro não usa máscara e provoca aglomerações – duas atitudes que servem de péssimo exemplo para milhares de pessoas humildes, sem acesso a informação confiável de médicos, sanitaristas, cientistas.
Mas há mais ainda.
Em cada uma dessas viagens, Bolsonaro aproveita para fazer paradas em outras cidades que não constam do roteiro oficial – mas, evidentemente, já haviam sido visitadas por agentes de segurança nas chamadas viagens precursoras.
Essa prática escandalosa, absurda, inacreditável, foi revelada numa reportagem do jornal O Globo nesta segunda-feira, 1º/3.
A reportagem – assinada por Jussara Soares e Daniel Gullino – merece prêmio.
Tem que ser amplamente divulgada.
Ela demonstra uma continuada prática criminosa de uso do dinheiro público em campanha eleitoral – e de difusão do vírus da Covid-19 Brasil afora.
Eis a reportagem:
Bolsonaro testa popularidade no interior em visitas-surpresa
Por Jussara Soares e Daniel Gullino, O Globo, 1º/3/2021
Sem máscara e acenando, o presidente Jair Bolsonaro desce sorridente do helicóptero e vai ao encontro de uma pequena multidão que começa a se aglomerar movida pela curiosidade despertada pelo barulho vindo do céu. Desde o segundo semestre do ano passado — em plena pandemia —, a cena se repetiu ao menos 12 vezes, em um prática que o presidente passou a chamar de “paradas não programadas”. Elas ocorrem em cidades pequenas, no caminho para compromissos oficiais, ou na volta para Brasília. Na última quarta-feira, foi a vez do município de Sena Madureira, no Acre, de cerca de 46 mil habitantes, receber a visita quando Bolsonaro seguia para Rio Branco, capital do estado.
Apesar da tentativa de aparentar improviso, as visitas, sempre registradas em vídeos, não são decididas em rompantes presidenciais. Previamente, a segurança presidencial faz uma vistoria, incluindo todo o mapeamento de risco, e escolhe o local para pouso.
Desde o ano passado, Bolsonaro passou a pedir a inclusão de cidades pequenas entre Brasília e o ponto final. O movimento de Bolsonaro rumo ao interior ocorre no momento em que as pesquisas de opinião apontam uma rejeição maior do presidente nas metrópoles.
Mesmo sem nenhuma entrega do governo federal, a ação, que já mira a reeleição em 2022, gera conteúdo paras as redes sociais — assessores presidenciais negam que apoiadores sejam convocados por WhatsApp para inflar a recepção.
As cenas publicadas são gravadas com ângulo fechado, o que gera a impressão de que mais gente o ovaciona — a maioria, sem máscara, reproduzindo o comportamento do presidente. Além de cumprimentar os moradores e tirar fotos, Bolsonaro costuma parar em lugares como lanchonetes e padarias.
O interesse pelo interior coincide com a queda de popularidade de Bolsonaro nos grandes centros urbanos. De acordo com pesquisa do Datafolha realizada no fim de janeiro, o índice de pessoas que avaliam o governo como ótimo ou bom é maior no interior (34%) do que nas regiões metropolitanas (28%). Já entre os que avaliam a gestão como ruim ou péssima, a situação inverte: o número é maior nas regiões metropolitanas (45% contra 37%).
Um levantamento do Globo com base em pesquisas do Ibope mostrou que a avaliação positiva do governo Bolsonaro caiu ou oscilou para baixo (quando fica na margem de erro) em 23 das 26 capitais brasileiras entre os meses de outubro e novembro, durante as eleições municipais.
Para o cientista político Leonardo Avritzer, da UFMG, a estratégia de Bolsonaro de privilegiar o interior tem semelhança com a do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que nas duas eleições que disputou teve uma votação muito maior no interior do que nas grandes cidades.
— Na eleição passada, se você olhar alguns mapas de estados que foram decisivos, ele (Trump) fez diversos comícios em cidades muito pequenas e deixou praticamente abandonadas cidades grandes. Pode ser uma mudança de estratégia dele (Bolsonaro), tentando já reagir à baixa avaliação nas grandes cidades.
Em outubro do ano passado, uma dessas paradas ocorreu em Caçapava (SP). A cabeleireira Edna Santos estava inaugurando seu pequeno salão quando observou uma correria. Segundo ela, não houve qualquer tipo de aviso aos moradores.
— Quando ele (Bolsonaro) passou na frente do salão, minha irmã o convidou para entrar, falando que era a inauguração. O presidente me abraçou e pediu para se sentar na cadeira. Só fizemos a foto, mas ele não cortou o cabelo de verdade — contou Edna.
A foto do alto, que ilustra a reportagem do Globo, é de Diego Gurgel/iShoot.
2/3/2021
Este post pertence à série de textos e compilações “Fora, Bolsonaro”.
A série não tem periodicidade fixa.
O país tem que escolher: ou Bolsonaro ou a vida. (39)
Só o julgamento da História não basta: a Justiça tem que punir Bolsonaro. (38)
Sobram argumentos para defender o impeachment de Bolsonaro. (37)
Lamentável que o que está escrito seja verdade. A situação é grave. Mais que nunca precisamos nos unir para reverter tudo isso. Ele tem que ser julgado, não só politicamente, mas como crime humanitário
Li agora que o Brasil bateu o record de mortes por Covid-19 : 1.641!
É horroroso.
Lamento profundamente.
Olá, caríssimo José Luís.
A situação aqui está de fato muito, muito grave.
Estamos no pior momento da pandemia, desde que ela começou.
Um horror.
Sérgio
1726 mortes em 24 horas e esse depravado continua na sua meta mortífera, reunindo pessoas, não usando máscara (e dizendo que é prejudicial o seu uso. Com o seu blablabla, chega nas pequenas cidades ou melhor, em pequenos lugarejos, mostrando sua virilidade, indo aos botecos e até em salão de beleza, tentando encantar a gente simples do lugar. O que os brasileiros estão passando neste momento , sofrendo com perdas nas familias e amigos, não lhe toca. Além de não fazer nada, atrapalha. Esse cara precisa ser julgado e condenado, ´e um criminoso!