Na época em que redigir notícia produzia barulho – o dos teclados das Olivettis, as máquinas de escrever – o consultório médico do Estadão/JT ficava no térreo da nova sede, na Marginal do Tietê. O médico que nos atendia era um senhor de maneiras conservadoras, com a fala de um avô dando conselhos.
O mal que me levou ao consultório, certa vez, era corriqueiro. Resfriado… no máximo uma gripe. O doutor talvez tenha colocado aquele palito que comprime a língua da gente, para ver como estava a garganta. Isto só imagino, porque seria próprio dele. Por fim, me liberou com uma receita escrita e outra oral. A primeira, tomar certo medicamento. A segunda, usar chapéu.
Passados bons anos, redigia uma notícia, provavelmente ainda batucando nos teclados da Olivetti, e me senti mal. Um atordoamento… Optei por pegar o elevador e subir ao consultório médico, em um dos andares mais altos. Eram mesmo outros tempos. A atendente mediu minha pressão e constatou que estava alta. E o médico (na verdade uma médica, se estou certo) simplesmente me mandou para um hospital!
No andar térreo estava a ambulância a serviço do jornal, permanentemente de plantão. Com isso, embarquei e ela tocou para o Hospital São Camilo, na Pompéia. Ali, o pessoal do pronto atendimento novamente me examinou e veio com a medicação, uns comprimidos.
– Obrigado – eu disse, me despedindo. Nada. Me mandaram para um leito. E lá fiquei olhando para o teto, achando-me vagamente ridículo, com a matéria por redigir. No entanto, com meia horinha, a pressão foi novamente medida e recebi alta. Liguei para a redação, e com pouco tempo um carro da reportagem estacionou à porta do hospital.
Se pessoas que estavam por ali acharam que um fato grave tinha ocorrido, se enganaram. Viram apenas um sujeito embarcando. Em pouco tempo estava na redação, à frente da minha mesa, seguindo com o texto interrompido. Sem receita, e sem instruções para usar chapéu.
1º/3/2021