Que falta fez o analista em Bagé

Alguém aí tem uma dica para um coroa cair na balada? Esse sou eu, um trouxa que há três meses não põe o pé fora de casa (um apartamento), com medo de que o corona esteja espreitando para me pegar. Já pensei em tomar um simples cafezinho na padaria, mas me assustei com o obituário. No vacilo, deu bacilo.

Por que agora resolvi jogar tudo para o ar? Porque o nosso presidente explicou direitinho o que está acontecendo, na viagem que fez à gaúcha Bagé, em campanha para a reeleição, na sexta-feira. Na situação que lhe é predileta, o corpo a corpo com pessoas sem máscara, e com uma criança no colo, disse o que achava da doença. “Todos vocês vão pegar um dia. Têm medo do quê? Enfrenta!”

Ora, se todo mundo vai pegar, se eu vou pegar, vou viver meus dias como se fossem o último. Sabem o que eu sempre quis fazer? Nadar pelado na piscina do prédio. Também sempre quis ir a uma dessas baladas muchodoidas, que você chega e já vai se acertando com as belezudas. Vou encher a cara para compensar o ridículo de ter tido medo de um simples cafezinho.

Sorte de Bolsonaro que o analista de Bagé é apenas um personagem de ficção criado pelo Luis Fernando Verissimo. Se existisse de carne e osso, é muito provável que, diante do que todos ouviram, o analista carregasse o vivente, como diz, para seu consultório, e o submetesse a um dos seus métodos terapêuticos revolucionários: a terapia do joelhaço. Um golpe na virilha para “sacudir as ideias e restabelecer as prioridades”.

Agosto de 2020

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