¿Por qué no te callas? – Do Rei Juan Carlos de Espanha, para Hugo Chávez, presidente da Venezuela, que havia chamado o primeiro-ministro espanhol de fascista, em cúpula no Chile de 2007.
Pai, afasta de mim esse cálice (cale-se) – Da letra de “Cálice”, canção de Chico Buarque e Gilberto Gil lançada em 1978.
Cala a boca já morreu – Da ministra do Supremo Tribunal Federal Carmen Lúcia, depois de liberar as biografias não autorizadas, em 2015.
Cala a boca! – Do general Newton Cruz, irritado com reportagens sobre a decretação do estado de emergência, a um repórter que lhe fizera uma pergunta, em 1983.
Cala a boca! – Do presidente Jair Bolsonaro, descontrolado, para um jornalista que lhe fez uma pergunta sobre a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio, à saída do Palácio da Alvorada, na terça-feira.
Cala a boca! – Idem para um segundo jornalista que fez outra pergunta.
A reação do rei Juan Carlos, que se sentiu atingido pela grosseria de Chávez, é perfeitamente compreensível. E ela manteve a dignidade do monarca, não mandou expressamente o outro calar a boca. A letra de “Cálice” disfarçava um desafio à censura imposta pelo regime militar, sem contar a qualidade de letra e música.
Carmem Lúcia foi só até a metade do dito. Agora, para Bolsonaro, a resposta dos jornalistas poderia ser a frase completa: Cala boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu.
Isto, é verdade, talvez fosse arriscado. Bolsonaro podia mandar prender os insolentes por desacato a autoridade. Francamente, não sei como o Código Penal trata esta questão. Mas com Bolsonaro todo cuidado é pouco.
Para o general Newton Cruz, a frase seguramente não seria possível.
Maio de 2020