Leio tudo que posso sobre política, sigo todo o noticiário, acompanho as entrevistas, não perco os artigos de nossos ótimos jornalistas, mas não encontro nem um fio de explicação sobre os motivos que levam Rodrigo Maia a ignorar os pedidos de impeachment que dormem em sua gaveta.
Hoje, indignada com o que via, concluí: será que Rodrigo Maia está esperando que Bolsonaro invada o Congresso, ocupe a mesa diretora, sente na cadeira da presidência da Câmara e tripudie sobre o Legislativo assim como tripudiou sobre o STF?
Seria um escândalo? Seria, mas isso não incomoda o Bolsonaro. Ele até gosta, pois sem gastar um tostão furado seu nome continua a ser repetido pela Imprensa diariamente, contribuindo para que ele mantenha os índices de popularidade que o convencem de que vai ser reeleito em 2022.
Hoje, creio que talvez recordando o comentário esperto de seu filho Bananinha, no meio de uma reunião com empresários, Bolsonaro pensou: ‘dispenso o cabo e o tanque, vou só com nossos empresários’. E assim fez. O grupo animado saiu a pé do Planalto para o STF. Ele ocupou a mesa principal, abriu a reunião, deu voz ao seu ministro da Economia e só depois de ouvir aquilo que queria ouvir passou a palavra ao presidente do STF, que estava ali apenas como espectador interessado…
Um dos empresários fez o seguinte comentário:
“… durante reunião com o presidente, fomos convidados por ele a ir ao Supremo e não houve nenhum estresse. Foi importante termos ido ao STF. Se o Congresso estivesse funcionando, também teríamos ido até lá relatar os nossos problemas. Não teve constrangimento e o ministro Toffoli foi receptivo e sugeriu criar um comitê de avaliação. Achamos importante ter ido até lá mostrar o mundo real”.
Quer dizer, além de tratarem o STF como se fosse a Casa da Mãe Joana, ainda ofendem seus membros ao dizer que a invasão foi importante por mostrar aos juízes togados como é o mundo real, espaço que eles acreditam é ignorado pelo Supremo.
O que o presidente Rodrigo Maia achou disso tudo? Pelo menos nada que o faça abrir a santa gaveta onde guarda os pedidos de impeachment de Bolsonaro, que já são muitos.
Agora é esperar a próxima aglomeração no cercadinho do Alvorada e torcer para que a Imprensa saiba manter sua dignidade, não faça perguntas, só fotografe, sem permitir que Bolsonaro a mande calar a boca. Deixem que ele fale sozinho. Afinal, o que ele tem a dizer não se escreve.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 8/5/2020.