Luiz Maklouf Carvalho tinha, entre tantas qualidades, a ousadia. Este grande amigo que faleceu hoje, levado por um câncer aos 67 anos, deixa um legado de obras e prêmios importantes. Livros sobre Lula, Bolsonaro, para citar os mais recentes; prêmios Esso, Vladimir Herzog, Jabuti.
A ousadia? Ia cobrir encontros de estudantes, na época barra pesada, com sua câmera. E o que fazia? Fotografava os agentes da polícia infiltrados entre os jovens e publicava a foto deles no jornal em que trabalhava. Isso em Belém, sua terra natal.
Contou-me outros fatos, mas a memória me falha… No dia em que embarcaria em um barco de pesca profissional, para matéria de dois dias, foi acometido de um problema de saúde. Era uma coisa com dor, talvez pedra no rim. O que fez? Tomou de uma vez três ou quatro comprimidos contra a dor e embarcou.
Suas entrevistas eram um interrogatório educado, não deixava escapar nada. Maklouf era amável, bem-humorado, mas nesses momentos fechava o cenho e mandava bala. Tive o prazer de dar o título de um de seus livros, Contido à Bala, sobre a morte do advogado de posseiros do Pará Paulo Fontelles.
Aí por 1988, Mak, como o chamávamos, empregou-se na sucursal do Jornal do Brasil aqui em São Paulo. Passado algum tempo, foi convidado pelo Jornal da Tarde. Na sucursal do JB, tinha ouvido falar de um certo repórter do JT, que havia trabalhado lá, na sucursal, por seis meses, e chamado de volta para o JT. Era este que voz escreve.
Maklouf seguramente achou que se veria à frente de algum super profissional, um figurão… Certa tarde entro na redação e vejo um cidadão sentado à uma mesa, na área em ficavam os repórteres especiais. Sério, compenetrado, lia um jornal. Cheguei na mesa e disse: “Você é o Maklouf? Sou o Valdir. Seja bem-vindo”. Ele viu-se diante de uma pessoa absolutamente simples, apenas um colega amável. Fizemos uma grande amizade.
Além da Olivetti, a máquina de escrever, Mak comandava bem as panelas. Ele e Elza, com os filhos Luíza e Felipe, nos recebiam com muita frequência no seu apartamento, na Zona Sul. O anfitrião preparava lombo (à falta de pato) no tucupi, maniçoba (ingredientes como os de feijoada, com maniva, folha de mandioca moída), isto tudo com coentro.
Haydeé, minha esposa, e Dena, a cunhada, torceram o nariz ao ouvir falar em coentro. Mas, nos pratos, assimilaram inteiramente. Viraram paraenses. Em contrapartida, Mak, Elza e os filhos também vinham muito em casa, e apreciavam os pratos preparados pelas anfitriãs, alguns de feição italiana, ou do mar, um salmão grelhado. No inverno, se calhasse, fondue.
Para cobrir a posse do Collor, o JT destacou nós dois, e Vera Dantas, da área de Política. Chegamos alguns dias antes, para mostrar os preparativos e o clima em Brasília. Em uma das noites, resolvemos jantar no Piantella, restaurante preferido de políticos do MDB. Maklouf comandou: pediu um bom scotch (Vera tomou vinho), para comemorar o momento e a vida.
16/5/2020
Valdir, muito boa a homenagem prestada ao Maklouf. Entre as lembranças que você mencionou, as fotos de agentes policiais feitas por ele na convulsionada Belém, renderam-lhe altas pressões da PF. Numa conversa comigo e com o Vasconcelo Quadros, na casa do segundo em São Paulo, ele disse que a circulação do jornal “Resistência” foi uma epopeia. O jornal juntou organizações não-governamentais, partidos políticos, movimentos sociais, sindicatos e segmentos da Igreja Católica. E desafiou os poderosos, ao defender a luta pela terra no Pará, que sempre foi um caldeirão, de norte a sul.
Grande Montezuma. Suas informações foram valiosas para enriquecer meu texto. Forte abraço.