“Acabei com a Lava Jato porque não tem corrupção no governo!”
Que frase é essa? Como assim? Como acabou com a única esperança do brasileiro de ver político bandido na cadeia, seu Jair?
Desde que foi criada a Lava Jato em 2014, mais de mil mandados de busca e apreensão, de prisões temporárias ou preventivas e de conduções coercitivas já foram expedidos e executados com a finalidade de caçar os corruptos, os lavadores de dinheiro, os quadrilheiros, enfim essa putada toda que passou a mão na nossa grana sem que, até então, tivesse sofrido qualquer punição.
Embora tenham surgido controvérsias no modus operandi de algumas autoridades, tipo vazamentos de conversas proibidas entre os juízes e procuradores, de um modo geral ela tem se mostrado justa e eficiente. Por causa dela, passamos a ter o prazer de ver a turma que se refestelava com caviar e champanhe em Paris traçando agora uma quentinha em Bangu.
E, como a operação caiu no gosto do povo, o então candidato à presidência Jair Bolsonaro pegou carona nessa cauda de cometa e partiu com Sérgio Moro na garupa, prometendo o fim da corrupção no Brasil.
E não é que ele conseguiu? Nesta última terça-feira, em discurso no Palácio do Planalto, o presidente “decretou” o fim da corrupção:
“É um orgulho, uma satisfação que eu tenho de dizer a essa imprensa maravilhosa nossa (ironia, claro. Por ele a imprensa já teria desaparecido), que eu não quero acabar com a Lava Jato…Eu ACABEI com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo.”
A frase foi amplamente comemorada por bandidos de várias categorias, inclusive pelos membros da sua família metidos em tramóias (e ói que não são poucos. Além dos filhos, tem ex-mulher, ex-sogro, ex-cunhados, ex-vendedores de Açaí, “ex-púrios” e por aí afora) e pelos velhos lobos corruptos da política nacional.
Um deles, Renan Calheiros, mais sujo que pau de galinheiro, tá que não se aguenta de tanto rasgar elogios ao presidente.
Renan, o probo, declarou em entrevista a William Waack, da CNN, esta semana, que Bolsonaro deixará um “grande legado” ao país com “o desmonte desse estado policialesco”. Aproveitou também para elogiar o fim do COAF (claro, né? Afinal quem tem cu tem medo), a nomeação do Procurador-Geral da (sempre tenho vontade escrever Procurador Geralda) República, Augusto Aras, e a demissão do Sérgio Moro.
Palmas para os envolvidos, pois! (Ironia.)
Ah, tem outra! Falando em bandidos, sabem o Centrão do Roberto Jefferson et caterva, com quem Jair Bolsonaro tem andado de mãos dadas ultimamente?
O mesmo que mereceu música cantada pelo general de pijamas, Augusto Heleno (aliás, pelo tanto de bobagem que tem falado por aí, já devia ter pendurado os coturnos há muito tempo), nos tempos em que se indignava com a corrupção? Tanto que, na ocasião, encarnou um Bezerra da Silva e mandou ver no plenário: “se gritar pega Centrão não fica um meu irmão”
Então tudo isso só pra avisar que eles poderão, em breve, ter mais um ministério inteirinho pra chamar de seu.
Palmas para os envolvidos, de novo! (Ironia.)
Sobre Bolsonaro ter indicado Kássio Marques para ocupar a vaga no STF e sobre seu currículo mentiroso, nem vou comentar. É só voltar uns meses atrás e procurar pelos textos que falam do professor Carlos Alberto Decotelli, nomeado ministro da Educação em 25 de junho de 2020 e derrubado pelas mentiras no dia 30 de junho de 2020. É tudo igual.
Mas se, com mentira e tudo, passar pela sabatina no Congresso e for nomeado, já vou adiantando por aqui as palmas para os envolvidos! (Ironia.)
Este texto foi originalmente publicado em O Boletim, em 9/10/2020.
E palmas para você, Vera Vaia, cujos textos são um prazer ler.