Jornalistas Coalas!

“O jornalista é uma espécie em extinção.”

“Jornalistas precisam ser cuidados pelo Ibama.”

Com essas demonstrações de ignorância explícita, Jair Bolsonaro já começou a semana na boca do povo.

Em sua live de segunda-feira, o presidente mais uma vez atacou a imprensa e disse que quem lê jornais fica “desinformado”. Como assim?

Se isso fosse verdade, poderíamos jurar de pés juntos que ele lê diariamente todas as edições do país.

O pior de tudo é que ele encontra respaldo numa parte da população que acredita cegamente em tudo que diz.

Os seguidores que aplaudem seus insistentes ataques à imprensa (segundo levantamento, tem, pelo menos, um ataque a cada três dias) deveriam cair na real e concluir que sem a imprensa eles nem teriam sabido que Bolsonaro era um dos candidatos à presidência da República. (Opa! Tô começando a ver alguma vantagem nisso.)

Brincadeiras à parte, a imprensa escrita ou falada é fundamental. Sem ela, não saberíamos, por exemplo que a terra é REDONDA (copiou, Olavo de Carvalho?). Não teríamos conhecimento de que o mundo já passou por duas grandes guerras mundiais e que, se derem munição para o maluco dos cabelos vermelhos, acabaremos assistindo à terceira. Não saberíamos que a Yogurteira Top Therm faz milagres (eu nunca usei com medo de ficar com a voz da apresentadora do produto), que Nescau tem gosto de festa e se prepara sem bater ou que as Casas Pernambucanas não deixam o frio entrar no seu lar. Enfim…

Querer o fim da imprensa é uma atitude tipicamente ditatorial. Em Cuba, desde que a Ditadura foi implantada, só existe um jornal, o Granma, e serve para divulgar as “maravilhas” do governo.

Parece que essa ideia agrada a muita gente. Se escuta muito por aí: “é, mas falar que estão construindo estradas ninguém fala”. Para quem não sabe, no jornalismo isso é uma NÃO notícia. Divulgar um episódio que transcorre normalmente é leitura de press release emitido pela assessoria de imprensa do governo.

Matérias sobre crianças brincando no esgoto a céu aberto que passa no quintal de suas casas, ficam doentes e até morrem por causa disso é notícia. E ela serve pra mostrar que mais uma promessa de político não foi cumprida.

E sobre ficar “desinformado”, parece que outro que anda lendo muito jornal – segundo a teoria do presidente – é o nosso ilustre ministro da Educação Abraham Weintraub.

Primeiro ele disse que ia acabar com o “kit gay” nas escolas. Ouviu o galo cantar e mandou ver a fake news sobre o tal kit que nunca existiu, conforme afirma o site G1 de 16/10/2018. Esse foi o apelido do projeto “Escola sem Homofobia”, voltado a educadores e não às crianças.

E segundo — tapem os ouvidos e fechem os olhos— foi o twitter enviado ao deputado Eduardo Bolsonaro na última quarta-feira: “caro @BolsonaroSP, agradeço seu apoio. Mais IMPRECIONANTE. Não havia a área de pesquisa em Segurança Publica….

O que é isso? Como pode um ministro da Educação grafar agradeço com cê-cedilha e não com dois esses?

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 10/1/2020. 

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *