Um tronco de mogno tem 25 a 30 metros de comprimento, 50 a 80 centímetros de diâmetro. Como é embarcado ilegalmente para o exterior sem ninguém notar? Se fosse uma carga de palitos de dente, vá lá.
Uma explicação que encontrei, examinando o tema, é que as toras nobres são embarcadas junto com as primas pobres, madeiras de uso vulgar, liberadas para exportação. Na hora do vamos ver, isto é, não ver, a boiada passa.
Ou: documentos falsificados dizem que aquele tronco de ipê é um mero eucalipto. Pesquisei acuradamente a situação, examinei hipóteses, e achei a solução. Coloquem para fiscalizar o embarque pessoas com elementar conhecimento de nossa flora. Se o documento diz que aquilo é pinho, mas tem jeito de mogno, segura. Outra qualidade indispensável é que o sujeito seja comprovadamente honesto.
O inefável Bolsonaro, que nos preside, protagonizou cena patética ao discursar na reunião virtual dos Brics. Mandatários de países europeus, que foram tratar de candentes temas universais, se viram sob suspeita de crime de receptação de madeira. E ficaram sabendo que, nos próximos dias, os nomes serão revelados, como acontece com meliantes procurados.
Investigações da Polícia Federal revelaram, recentemente, que madeira nobre da Amazônia chegou a compradores daqueles países. Volume insignificante, mas bastou para a performance de Bolsonaro. Alguém precisa lembrar a ele que, se as toras chegaram ao destino, foi porque ninguém as impediu de sair da origem.
Novembro de 2020