Se Rembrandt fosse brasileiro

Sob um céu crepuscular, o menino deitado às margens do Reno vê as pás do moinho refletidas na água. Súbito, é tomado de intensa emoção, pois parece enxergar naquelas pás a cruz de Cristo. As sombras, as cores, cambiam com o avançar dos minutos, e isso agora o atordoa.

Rembrandt em nada era parecido com seus sete irmãos. O moleiro Harmen, o pai, preocupava-se com as colheitas, os impostos escorchantes. E o futuro dos filhos. A vida girava em torno do moinho.

O pai, no entanto, permitiu que Rembrandt seguisse seu caminho. Cedo estava em um ateliê de pintura, como aprendiz. Daí, como todos sabemos, alcançou o apogeu.

Para sua felicidade, não havia na Holanda nenhuma autoridade com poder para decidir, ou influenciar, o futuro profissional dos jovens. Alguém que pensasse como o atual ministro da Cultura brasileiro, Abraham Weintraub.

Que por estes dias declarou:

“Precisamos escolher melhor nossas prioridades. Não sou contra estudar filosofia, mas imagina a família de agricultores que o filho retorna da faculdade com título de antropólogo? Acho que traria mais bem-estar para ele e para a comunidade se fosse veterinário, dentista, professor, médico.”

Imagino se Rembrandt tivesse nascido no Brasil. Ei-lo na escola, esboçando desenhos, pintando. Os professores se encantam. Cuidam de estimular seu talento. Dessa forma, chega ao momento de entrar para a Faculdade.

Chegando para o Enem, um colega o reconhece.

– Você pretende prestar para quê?

– Dentista.

Maio de 2019

 

 

 

 

 

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