Das mentiras proferidas por alguns de nossos personagens na semana, duas mereceram destaque.
Na mais recente, a mentira serviu de recheio para o bolo que o nosso presidente levou e dividiu com seus fiéis escudeiros lá na ONU. Eles elogiaram a receita e se lambuzaram com a guloseima. (Para os outros, levou um refogado de jiló amargo e distribuiu para os representantes dos países que ele considera inimigos, fechando assim as porteiras do entendimento entre as nações.)
Entre as bravatas contadas, Jair Bolsonaro tomou pra si a prisão do assassino italiano Cesare Battisti (pronunciado por ele com acento agudo no último i), esquecendo-se de que o bandido de estimação do Lula só foi preso por determinação do ex-presidente Michel Temer. Ele foi achado na Bolívia e de lá mandado diretamente para a Itália, apesar dos esforços de Bolsonaro em trazê-lo para cá – decerto para poder passear com a presa em praça pública com uma coleira no pescoço e assim levar os louros josé da fama.
Outra inverdade do discurso foi dizer pra todo mundo que a mídia inventou a devastação e os incêndios descontrolados na Amazônia. Que existem, sim, alguns focos de incêndios provocados por pequenos agricultores e pela própria população indígena. (Ah, esses índios que não perdem a mania de assar tudo na fogueira! Perigo, viu? Não tá na hora de adquirirem uma bela churrasqueira com grill giratório? Fica a dica.)
Esse trecho do discurso foi muito aplaudido pelos latifundiários do agronegócio, pelos capitalistas e pelas mineradoras que se beneficiam com essas queimadas.
E pra tentar fazer parecer verdadeira sua preocupação com a “cuestão” silvícola, Bolsonaro levou a tiracolo uma índia da tribo Jairniquim e a apresentou para o público como um símbolo de satisfação geral dos povos. Enquanto isso, aqui os índios das tribos que não engolem sapos faziam a dança do fora presidente, repetindo o refrão: uh, uh, uh! Bolsonaro vai plantar batatas! Afinal, é de conhecimento de todos que ele não simpatiza com a turminha do arco e flecha. Declarações como “pena que a cavalaria brasileira não tenha sido tão eficiente quanto a americana, que exterminou os índios” não deixam dúvidas.
Mas chega de falar nisso, porque o assunto já deu. Quem é bolsonarista aplaudiu o discurso em pé. Quem não é continua metendo o pau. É normal.
Passemos para a mentira da semana que levou o prêmio “Lorota de Ouro”, ou, se preferirem, “Meleca De Ouro”.
A judoca brasileira Rafaela Silva de 27 anos, várias vezes campeã na categoria, foi pega num exame antidoping durante os jogos Pan-Americanos ocorridos em Lima, mês passado.
Encontraram a substância Fenoterol, um broncodilatador usado para tratar doenças respiratórias, em seu organismo.
Em entrevista coletiva, chorou e se defendeu. Como? Da maneira mais nojenta possível. Disse que foi contaminada por um bebê que usava seu nariz como CHUPETA!
Depois dessa explicação, fiquei esperando ela se virar e perguntar “é mentira, Terta?”
Ô lorotona braba, Rafaela! Não ficava mais bonito dizer que tomou um xaropinho porque tava tossindo que nem uma vaca véia? (Nunca entendi direito essa expressão. Vaca velha tosse?) Infelizmente, Rafaela ganhou esse troféu aqui mas acabou ficando sem a medalha de ouro que ganhou lá.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 27/9/2019.