Bilhete ao editor:
Servaz, estava este seu companheiro de tantas lutas e tantos assombros almoçando com um grupo de pessoas, quando a conversa se volta para a decisão de Bolsonaro de não assinar o diploma do Prêmio Camões concedido ao Chico Buarque.
Até então só se falava de amenidades do cotidiano (pauta indigesta…). A nova abordagem animou a mesa, trouxe exclamações e risos, centrando-se na resposta de bate-pronto do agraciado: “A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prêmio Camões”.
Nisso, a conviva sentada ao meu lado volta-se para mim e diz, séria: “Estão dizendo que ele (Chico) pagava uma pessoa para fazer (compor) suas músicas”. Demorei um pouco para me convencer do que tinha ouvido. A pessoa é funcionária pública, costuma conversar razoavelmente bem, embora não sobre política. Respondi qualquer coisa, sem levar a sério.
Quando, afinal, o meu anjo da guarda me deu um chute no traseiro, percebi que ela havia engolido alguma “plantação” das redes sociais. E tratava de desagravar Bolsonaro. O assunto, no entanto, havia mudado, e não me vi em condições para mais nada. Mas me arrependi.
Devia ter dito: “você acha mesmo que uma pessoa compõe músicas de excepcional qualidade e, em vez de buscar fama, fortuna, admiração internacional, fatura um dinheirinho e se encolhe em um canto, curtindo o anonimato?“.
O pior é que ela talvez dissesse ser uma questão de timidez…
Outubro de 2019
Nota do Editor: Perdoai-os, Luiz Vaz! Eles não sabem o que dizem!
Meu Deus, a que ponto vão os apoiadores do triste Mito! Chico dispensa a assinatura do capitão que, com certeza não se deu conta do que fez… Como disse, com intimidade, o Sergio Vaz, só nos resta pedir ao Luiz Vaz que nos perdoe…
Olavo de Carvalho, guru do clã Bolsonaro e da extrema-direita tupiniquim, inventou recentemente que Lennon e MacCartney não são autores das músicas dos Beatles. Sempre em busca das “manchetes” das redes sociais, o genial astrólogo da corrente terraplanista garantiu que o verdadeiro autor dos clássicos foi o filósofo alemão Theodor Adorno, em mais uma conspiração do marxismo cultural. Mal sabe Olavo que Adorno desprezava os Beatles e a cultura de massa. Dizia que a música deles era coisa de retardados. Se Adorno presenciasse o Brasil de hoje, se descobrisse quem indica ministros para o governo, iria rever seus conceitos sobre retardo mental.
Depois de ler os excelentes comentários, resolvi perdoar a pobre senhora…
É pra rir, e não chorar. Já nos fragmentos da história musical lembremos que o drible nos censores foi justamente o fato de o Chico adotar o pseudônimo de Julinho da Adelaide. Será que a senhora sabe disso? …possivelmente não.