Aos 23 anos, estudante, animada, encantada com todas as belezas de Paris, uma cidade apaixonante, eu subia a Avenue des Champs Elysées em direção ao Arco do Triunfo, distraída com meus pensamentos, quando começou a transmissão que ecoou no mundo inteiro: a voz entusiasmada do astronauta soviético Iuri Gagarin a dizer “La Terre est bleue!”. Repetida umas cinco vezes, tal o entusiasmo do astronauta russo com a maravilha que via, a Terra toda azul, de um azul maravilhoso.
Sabem quando uma cena de um filme, por um problema qualquer, congela, e ficam as pessoas e as coisas imóveis? Pois foi assim que ficou aquela linda avenida, como um filme congelado. Todos, pessoas, carros, pararam, estarrecidos com o que ouviam! Eu chorei. Fiquei mesmo muito emocionada.
Isso foi em 12 de abril de 1961. Anos depois, em 20 de julho de 1969, outra emoção, ver o homem pisar na Lua. Impressionante visão, jamais esquecida. Confesso que foi uma emoção diferente da provocada pelo Iuri Gagarin, o primeiro homem a ver a Lua de bem pertinho e a poder constatar que todas aquelas lindas canções que embalavam nossas festas não mentiam: “Blue Moon”, “Fly Me To The Moon”, “Harvest Moon”, “Se a Lua Contasse”, “A Lua é Dos Namorados”…
A Lua tem a luz mais linda que existe, ela nos guia e nos inspira desde que o mundo é mundo. Mas é ela também que dá gás aos maluquinhos que andam aumentando em números escandalosos. Não sei se é sob o luar que eles juram fazer todas as besteiras que fazem, e como fazem! Não sei também se eles não têm medo que a Lua um dia caia sobre suas cabeças, mas sei que os lunáticos estão por toda a parte, alguns até fantasiados de astronautas.
A Lua é tão especial que influencia as marés, as colheitas, algumas de nossas dores e muitas de nossas etapas na vida. A Terra, que ela ilumina e enfeita, vem sofrendo agressões horríveis que mexem com nosso clima e com nossa saúde. Gelo em Guadalajara, México, em pleno verão; calor no Rio de Janeiro no mês de junho, a ponto de para dormir sossegados o ar-condicionado ter que estar a pleno vapor; o sul da França, onde os felizardos abonados iam passar o verão para fugir do calor, estar sofrendo sob uma temperatura de 45º à sombra; a Califórnia derretendo sob incêndios devastadores; o mundo inteiro sem saber o que está havendo com o clima na Terra. Só se sabe que está tudo muito diferente de poucos anos atrás e que desrespeitar a vida em nosso planeta pode nos levar ao fim do mundo.
Hoje não posso deixar de falar na Laika, a cadelinha russa que foi o primeiro organismo vivo a suportar umas horas no espaço, a uma gravidade zero. A coitadinha, hoje já sabemos, viveu poucas horas após o lançamento do Sputnik 2 que a transportava, em abril de 1958. Foi a experiência com Laika que permitiu que anos depois seres humanos participassem de missões espaciais. Por isso, apesar de não sabermos o que Laika pensou sobre sua aventura, é ela que consideramos nossa primeira heroína espacial.
Espero que o espírito da Laika penetre na carapaça dos lunáticos que não acreditam nas mudanças climáticas na Terra e que os faça lutar pelo respeito ao Clima, para que o Homem possa viver bem… e mais.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 5/7/2019.