Escatologia!

Depois de passar a semana ouvindo essa palavra por parte de críticos do presidente da República, fui pesquisar sua origem no Google só pra me certificar. Descobri dois significados diferentes para “escatologia” no dicionário Priberam. (Me lembrei agora do Aurélio. Que fim deu ele?)

Um, de fundo religioso, que se refere à teoria sobre o fim do mundo, e outro, de fundo mais, digamos, bostífero, que se refere ao tratado dos excrementos. O que não quer dizer necessariamente que são assuntos antagônicos, porque, segundo Moacir Franco e Rita Lee, no final “tudo vira bosta” mesmo!

E, de uns dias pra cá, a escatologia também foi parar na boca do nosso presidente. A palavra cocô tem sido seu jargão nos discursos que tratam do meio ambiente, da Funai, ou ainda quando quer cutucar a esquerda.

No último dia 9, Bolsonaro questionado sobre medidas a serem adotadas em relação ao meio ambiente, respondeu ao repórter: “é só você fazer cocô dia sim, dia não que melhora bastante a nossa vida”.

Até que seria divertido ter um presidente espirituoso, piadista, engraçado, desde que esse e outros assuntos fossem levados a sério por ele. Na questão do desmatamento da Amazônia por exemplo, a medida tomada pelo governo não foi para conter a derrubada das árvores. Foi para conter a divulgação dos dados alarmantes do enorme dano verificado. Achou que despedindo o diretor do Inpe tudo voltaria ao normal e ninguém mais iria falar sobre o buraco branco da floresta.

No dia 12, o presidente disse em Pelotas (RS) que a construção de um terminal de contêineres no Paraná estava parada porque ainda está esperando por licenciamento ambiental por parte da Funai, e arrematou: “o cara vai lá e se encontrar, já que tá na moda, um cocozinho petrificado em índio, já era, não pode fazer mais nada ali”.

No dia 14, lá no Piauí, Jair Bolsonaro, já pensando em uma eventual reeleição em 2022, mais uma vez expeliu seu cocozinho com a declaração: “nas próximas eleições vamos varrer essa turma vermelha do Brasil… Vamos acabar com o cocô do Brasil. O cocô é essa raça de corruptos e comunistas”.

Como explicar essa fixação escatológica do presidente? Freud explica? Se ainda não explicou, fica a dica para estudiosos da psicanálise pesquisarem e tentarem explicar.

Outra dica vai para os escritores que queiram escrever um livro sobre isso.

Podem ficar ricos e famosos escrevendo o oportuno “Cinquenta Tons de Marrom”. Material é o que não falta!

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 16/8/2019. 

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