É fogo 1!
Nesta semana, em meio a muito fogo, o presidente lança um fumacê sobre as ONGs da Amazônia, e uma enorme nuvem preta paira sobre os céus do Brasil, com repercussão internacional.
Jair Bolsonaro acusou as ONGs que tiveram suas verbas cortadas de saírem por aí com uma caixinha de fósforo assassina nas mãos, tacando fogo na floresta.
Essa tentativa do presidente de querer apagar o incêndio com gasolina gerou um baita ti-ti-ti, aqui e lá fora. A declaração foi no mesmo momento em que o ministro do Meio Ambiente – tapando os ouvidos pra não ouvir a salva de vaias com que foi recebido no evento “Semana do Clima”, em Salvador – dizia que a seca e os ventos fortes contribuem para o alastramento do fogo na Amazônia.
Uma conclusão lógica até mesmo para Ricardo Salles.
Afinal, não é só a Amazônia que está pegando fogo. Há vários focos de incêndio no Brasil inteiro e nem todos são criminosos. Boa parte é provocada pela ignorância do povo que ainda não aprendeu que uma bituca de cigarro acesa ou simplesmente uma “limpeza” do seu terreno pode acabar virando uma tragédia. No caso da Amazônia, porém, esses incêndios específicos estão nas áreas mais desmatadas da floresta, segundo imagens da NASA.
Antes de sair acusando por aí, o certo, na minha modesta opinião, seria pegar uma mangueira tão comprida quanto a sua língua e tentar apagar a fogueira, para depois, sim, procurar, apurar e, se encontrar, punir os responsáveis.
Até outro dia Portugal estava pegando fogo. Culpa de quem? Das ONGs? A Espanha estava pegando fogo. Culpa de quem? Das ONGs? A Califórnia está sempre pegando fogo. Culpa de quem? “Da má gestão das florestas”, segundo Trump. (Esse é outro que fala porque tem boca.)
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É fogo 2!
É fogo ver um governador de Estado saindo de um helicóptero dando pulinhos de alegria numa situação de pânico total como foi a do sequestro do ônibus na ponte Rio-Niterói.
Essa reação provocou comentários, alguns até impublicáveis, sobre o comportamento desse ser humano. Enquanto ele saltitava de alegria na ponte ao ver um corpo estendido no chão, o pai de uma das reféns abraçava a mãe do sequestrador morto. A sua alegria de ver a filha viva não impediu o gesto de solidariedade para com quem estava sofrendo naquele momento. Entendeu que mãe é mãe, seja de quem for.
Felizmente para os 39 passageiros do ônibus tudo terminou bem. O BOPE realizou seu trabalho com precisão, sem estardalhaço, mas quem deu IBOPE (negativo, porém) com essa atitude foi o seu Pretzel – nome de guerra de Wilson Witzel nas redes sociais. (Esse apelido só pode ter sido dado pela sonoridade da palavra porque não tem nada a ver com aquela espécie de rosquinha feita com massa de pão. Ela é gostosa, macia, apetitosa e tem até uma versão doce!)
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 23/8/2019.