Um textinho ameno, para vésperas de Natal. O personagem é este que vos escreve, em seus dias de foca da Folha.
“O estagiário estava na Redação, incorporado à equipe de repórteres que cobriam polícia. Jamais estivera em uma delegacia, ou vira um local de crime. Um dia, na Redação, pediram-lhe para ir ao segundo andar (estávamos no quarto) buscar a calandra.
O diligente aprendiz de repórter apresenta-se ao funcionário indicado, no segundo andar.
– Bom dia, sou da Redação. Vim buscar a calandra.
E o outro:
– É essa aí, pode levar.
A calandra pesava algumas toneladas. Era uma máquina gigantesca, que quase chegava ao teto. O estagiário recebera um trote. Estava batizado.
Os colegas da reportagem policial tratavam de ensiná-lo. Certo dia o mandaram cobrir o assassinato de um homem. Foi, apurou o caso, voltou e escreveu seu texto. Registrou em algum momento, de passagem, que a vítima usava um patuá, um amuleto de proteção. Carlos Torres (ou terá sido Ebrahim Ramadã?) leu a notícia. Seguiu-se um diálogo mais ou menos assim:
– Você sabe o que é um patuá?
– Disseram que é para proteger a pessoa…
– É um amuleto, para “fechar” o corpo.
– Eu coloquei na matéria.
– Sim, mas não no lugar certo. Devia estar na abertura: ‘O patuá que fulano de tal usava para “fechar o corpo” não impediu que fosse morto…
Mais uma bela lição aprendida.”
(De alguns registros que fiz sobre aqueles tempos.)
Dezembro de 2019