Será que o leitor tem a mesma curiosidade que eu tenho? Saber qual o intuito dos três filhos mais velhos do presidente Jair Bolsonaro ao se comportarem como se comportam? Eu não consigo atinar com o propósito deles.
Não duvido por um instante do grande amor que têm por seu pai, mas é aí que minha dúvida bate: se gostam tanto do pai, por que estão sempre criando um caso para deixar o ‘velho’ em maus lençóis?
Nem o momento sério e grave que o capitão viveu nesta semana, com sua quarta operação em decorrência da facada que recebeu em Juiz de Fora, amansou os garotos. O pai internado, sem poder falar por ordem médica, e os garotos dizendo tolices de alto impacto e postando fotos engraçadinhas. Com que intuito?
Às vezes fico tão indignada com o que eles dizem que irritada reclamo com meus botões: não era melhor a Imprensa parar de dar voz a esses sujeitos? Ignorá-los não seria melhor?
Penso que sim. Eles não são importantes para o país. Aliás, são o que há de inútil para nossa vida política, apesar de terem, os três, cargos políticos que adquiriram por eleição: senador, deputado federal e vereador. Mas desconheço qualquer lei ou projeto de lei que saísse da cachola deles e que tenha servido para o progresso do Brasil.
Quando leio notas que se referem ao pensamento deles, imediatamente me vem à mente um livro que foi um grande sucesso: Como fazer amigos e influenciar pessoas, do escritor americano Dale Carnegie. Só que os Bolsonaro kids lançariam outro livro: Como fazer inimigos e influenciar opositores? Não estou afirmando que essa seja a intenção dos garotos, mas estou, sim, afirmando que quando eles abrem a boca, fazem inimigos e influenciam mais oposição para seu pai.
Exemplo: Eduardo, o deputado candidato a embaixador nos EUA, vai ao hospital visitar o pai e leva, enfiado no cós das calças, sua Glock de estimação e faz questão de exibi-la. Será que o pai achou que aquilo era um guarda-chuva, como sugeriu o guru dos garotos?
Outro: Carluxo, o vereador fluminense licenciado, fez bem em dizer a frase que copio a seguir? “Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos”. Palavras assustadoras, não são não? Mas o pior veio depois: quando a maioria da Imprensa comentou com horror essas palavras do Carluxo ele, em vez de ficar quietinho, ainda chamou os jornalistas de canalhas!
Então o filho de um presidente da República eleito por via democrática, com o pai internado, solta uma bomba dessas e não quer ouvir reações à sua mensagem infeliz? E o irmão deputado ainda quer nos convencer de que ele disse exatamente o contrário?
O mais velho, o senador Flávio, trabalha nos bastidores. Não faz o gênero show-man, tipo os irmãos. Mas isso não quer dizer que esteja alienado das intenções mussolinianas dos outros. Apenas demonstra que é mais esperto… E que aprendeu a ficar calado desde que o Queiroz surgiu e… sumiu.
Eles não vão conseguir o que aparentemente pretendem. Nós já estamos vacinados contra regimes fortes e ainda está muito viva em nossa memória o horror que foram os anos de chumbo por aqui.
Nós queremos e defenderemos sempre que as vias autoritárias não são as que nos servem. Seja qual for o intuito deles, nós vivemos e queremos viver no sistema que Churchill descreveu como “a democracia é a pior forma de governo excetuando-se todas as outras que vêm sendo tentadas de quando em quando”.
O grande inglês disse também: “Você nunca chegará ao fim de sua jornada se parar para atirar uma pedra em todo cachorro que late”. Sabem de uma coisa? Acho que esse é um grande conselho.
Vamos em frente que atrás vem gente…
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 13/9/2019.
Talvez os três sejam a prova da hereditariedade do QI e do caráter.
Disso não tenho dúvida alguma, caríssimo Luiz Carlos. Hereditariedade da falta de QI e de caráter. Mas a pergunta da Maria Helena continua sem resposta: com que intuito os sem-QI e sem caráter falam tanto?
Um abraço!
Sérgio