Coitado do Brasil

Já não sou carnavalesca, mas já fui. Em criança, me fantasiavam e levavam aos bailes infantis. À aproximação dos dias de folia, a casa se enchia de confetes e serpentina e todos, ou quase todos, sabiam as marchinhas que iriam encantar os foliões naquele ano.

Mais tarde, fui aos deslumbrantes bailes no Theatro Municipal do Rio, que eram a quintessência da alegria, e onde o prefeito da cidade abria e fechava os bailes. Quando o prefeito, em seu camarote, dava a ordem para a orquestra tocar “Cidade Maravilhosa”, era aquela loucura, todo mundo querendo curtir até o último minuto a festa carnavalesca.

Brinquei também no Carnaval do Recife, de Olinda, de Pelotas, nos bailes do Hotel Quitandinha, em Petrópolis. Eram festas animadas, divertidas, todo mundo cantando e dançando na maior alegria.

Muitos namoros e casamentos surgiram nessas festas. O meu namoro e posterior casamento floresceu no baile do Clube Internacional do Recife.

Beijos e abraços vi de montão. E como era bom namorar e cantar e dançar!

Mas nunca vi, nem ninguém me contou, cenas deprimentes e nojentas como essa que o Presidente da República achou que devia publicar em uma de suas redes sociais. Por falar nesse estranho hábito do capitão, de se comunicar com seus eleitores via redes sociais, juro que eu pensava o seguinte: logo que ele for empossado, vai ter tanto trabalho que não vai ter tempo para ficar dando uma de internauta. A não ser que… Bem, melhor nem pensar, que dirá escrever…

Cantar o hino, perfilar-se diante da bandeira, nada disso tem importância se não for feito com grande amor pelo Brasil. O gesto em si, simplesmente formal, não quer dizer nada. O que importa, o que vale, o que conta é o carinho entranhado em nosso peito pela terra onde nascemos, o cuidado com a língua materna, o orgulho por nossas figuras históricas, a admiração por nossa cultura, por nossa arquitetura, por nossa música, por nossas festas.

Dentre essas, o Carnaval, a mais querida e a mais democrática das festas populares brasileiras, de norte a sul, de leste a oeste do país.

Temos um presidente da República que não entendeu nada do que é ser brasileiro. Ele pensa, se é que pensa, que o Carnaval é uma festa de maus bofes. Ao contrário, capitão, é uma festa onde extravasamos as dores acumuladas durante o ano.

Temos um prefeito do Rio que se recusa a entregar as chaves da cidade ao Rei Momo, tradição simpática que já perdura há muitos e muitos anos.

O Brasil tem milhares de problemas. Muitos, Graves, sérios. Mas o Carnaval não é, definitivamente, um deles.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 8/3/2019. 

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