A manchete do Estadão de domingo, 30 de dezembro, começava no meio da página, exatamente acima da dobra: “Para Temer, Bolsonaro não”. Desdobrando o jornal surgia a segunda linha: “deve desprezar Congresso”. Resolvi fazer uma gaiatice. Introduzi um ponto final na primeira linha. Ficou: “Para Temer, Bolsonaro não.”
Mais tarde meu filho Paulo bateu os olhos na manchete e se surpreendeu. Como Temer, que havia sido cooperativo com Bolsonaro, dizia isso?
– Desdobre o jornal – sugeri.
Achou a segunda linha do título, e entendeu o significado completo.
Imaginei, então, como um mancheteiro atrevido poderia jogar com a dobra da página para vender mais jornal.
Jornal dobrado, primeira linha do título:
- Bolsonaro atira e mata
- Lula tenta fuga
- Ciro usa linguagem de sinais
- Dilma acerta uma.
- Damares vê e pira.
- Chanceler Araújo elogia Cuba
- Paulo Guedes se aposenta
Jornal desdobrado, segunda linha completando o título:
- o tempo no estande do clube
- da realidade com esoterismo
- para ofender desafetos (Cada sinal…)
- Bingo! Exclama agitando a cartela
- Garota e rapaz abraçados. Ela de azul, ele de rosa
- Libre, e barman exulta
- da vida acadêmica
Janeiro de 2019
Saí anteontem de camisa rosa, só para provocar a Damares. Fui comer um crepe de rúcula e tomate seco, acompanhado de suco de laranja, na 113 Norte de Brasília.
Deus castiga: derramei o copo cheio na minha camisa rosa. Todo mundo ficou rindo nas mesas ao lado, sem demonstrar um pingo de solidariedade. Provavelmente até Jesus se divertiu com a cena, vendo tudo lá do alto da goiabeira.