Na sexta-feira passada eu estava meio ocupada com uma série de afazeres, mas curiosa pra saber como estava sendo a votação para a presidência do Senado. Abri rapidamente o iPad e a primeira coisa que li foi “Kátia Abreu rouba pasta de Alcolumbre”.
Eu, meio perdida porque ainda não sabia quem eram todos os candidatos ao Oscar da casa, não entendi de pronto que a nota pertencia à tal votação. Achei que era notícia velha, que em outro momento, Kátia Abreu tinha ido viajar e que teria roubado uma pasta de algum lugar histórico da Andaluzia.
ALcolumbre podia ser um palácio remanescente da ocupação moura, assim como é ALhambra localizado em Granada. (AL é o artigo, masculino ou feminino, que precede palavras de origem árabe, muito presente nas línguas espanhola e portuguesa. E de carona aqui, nos deliciamos com as ALmôndegas, as ALcaparras, as ALcachofras, a ALface, a ALfafa (ops! Essa é só para alguns…).
Pensei comigo: será que o nosso ministro sem educação, da Educação, o colombiano Ricardo Velez, tinha razão quando declarou à Veja que os turistas brasileiros são ladrões e canibais quando viajam? “Roubam coisas dos hotéis, assento salva-vidas do avião…”. Fiquei na dúvida. Vai ver a senadora resolveu roubar uma pasta durante uma viagem, sei lá!
Em seguida liguei a TV pra saber mais a respeito. Descobri que o caso tinha acabado de acontecer na ALdeia lotada pela ALcateia senatorial.
ALcolumbre, um ilustre desconhecido que habita o baixo clero da política desde 2001, primeiro como vereador em Macapá e depois por três vezes seguidas como deputado Federal, até chegar em 2014 a senador, assumiu o comando da mesa, e acabou provocando mó buchicho entre alguns membros da honrada casa.
Ele chegou, chegando, com ares de “daqui não saio, daqui ninguém me tira” e foi ficando. (Disseram as más-línguas que o moço usava uma sonda urinária, porque não arredou pé da cadeira, nem pra fazer xixi.)
Inconformada e sob a alegação de que um candidato não poderia estar no comando da votação, Kátia Abreu, incorporou a pomba-gira, subiu nas tamancas e surrupiou a pasta da mesa.
Baixaria? Essa foi só mais uma! No dia seguinte tivemos de ver o probo Renan Calheiros metendo o dedo no nariz do Tasso Jereissati, ao mesmo tempo em que bradava “você é um merda”, repetidas vezes.
Além do você é isso, você é aquilo e a quase troca de bofetões entre as crianças do prezinho, teve (e não seria normal se não tivesse) fraude na votação. Oitenta e um senadores votaram, mas oitenta e dois votos aparecerem na urna. (Seriedade e honestidade, acima de tudo!)
No começo da noite do sábado, finalmente a ALgazarra teve fim. ALcolumbre, o candidato apoiado pelo ministro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, venceu o candidato topa-tudo-por-dinheiro, Renan Calheiros.
Vamos soltar os rojões, então? Seria por um bom motivo, mas melhor não soltar todos ainda. Varremos da presidência do Senado um político que é mais sujo que pau de galinheiro, mas ganhamos um que também não tem lá uma ficha muito limpinha. Ele já foi indiciado em dois processos, um de fraude eleitoral, onde teria apresentado notas frias na prestação de contas da campanha, e outro por suposto desvio de dinheiro da Saúde. Seu nome apareceu na operação Pororoca, deflagrada em 2004 no Amapá!
Como deputado, votou a favor de Aécio Neves por duas vezes, no caso de suspeita de corrupção do político. Em 2005, chegou a assinar documento para instalação de CPI dos Correios, mas voltou atrás.
Também aprovou pra inglês ver (depois deu ré) a CPI que envolvia o Corinthians com a MSI (Media Sports Investiments) no imbróglio de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha.
É, parece que não tá fácil achar uma florzinha que se cheire lá dentro.
E diante disso, vem a pergunta: até quando vamos ter de trocar o pior pelo menos ruim?
Difícil saber! Mas ainda assim, como a esperança é a última que morre, vamos esperar que essa briga de foice no escuro pela disputa de poder traga, em algum momento, benefícios para esse povo que já está cansado de trocar as moscas a cada eleição! Que as reformas, desta vez, saiam do papel, pelo menos!
E pra que a gente não se esqueça de quem são os nossos “legítimos representantes”, reproduzo aqui a última (última da semana, porque ele não é do tipo que vai parar por aí) do ilustre senador Renan Calheiros. (Esse tweet de 03/02/2019 mostra bem o caráter, ou a falta de, desse senhor.)
Lembrete 1 – O “fiel” Renan Calheiros teve uma filha, fora do casamento, com a jornalista Mônica Veloso.
Lembrete 2 – O “íntegro” Renan Calheiros é alvo de mais de 15 inquéritos que o envolvem em crimes de corrupção.
ALgemas nele!
Este artigo foi originalmente publicado em O Boletim.