No afã de proteger seu mais ilustre e não tão defensável cliente nos imbróglios envolvendo o PSL, a advogada Karina Kufa mostrou que está disposta a fazer o diabo. Em entrevista ao jornal O Globo, ela jogou no lixo, com uma só vassourada, a Justiça Eleitoral e o seu colega Admar Gonzaga, ex-ministro do TSE, que, antes de integrar a banca do presidente, relatou e aprovou as contas de campanha de Jair Bolsonaro. Algo que, no mínimo, atenta contra a ética.
Conselheira do presidente quanto à solicitação de auditoria nas finanças do PSL para que Bolsonaro possa aparecer na fita não como praticante mas como denunciante de ilicitudes, a causídica afirmou com todas as letras que o TSE analisa as contas de campanha de “forma superficial”. E que não vê qualquer conflito no fato de o ex-ministro Gonzaga ser um dos proponentes da ação que contesta contas que ele próprio aprovou. “Não existe, pela legislação, uma quarentena.”
Só mesmo neste país sem pé nem cabeça é que uma advogada especialista em questões eleitorais, professora e coordenadora de pós-graduação de Direito Eleitoral na Faculdade de Direito Público de São Paulo, pode fazer tão pouco caso da Corte sem que isso tenha qualquer consequência. Pior, sem nem mesmo levar um pito, por menor que fosse.
Ora, se o TSE, que custa uma fortuna aos brasileiros pagadores de impostos, julga contas de políticos “sem se aprofundar”, para que serve o Tribunal? E o que mesmo o ex-ministro Gonzaga fazia lá, já que as análises eram, como diz a sua nova parceira, superficiais? E poderá ele fazer uma petição contra contas que ele próprio aprovou? E se a pendenga de agora do PSL for parar no TSE, qual será o comportamento da advogada? Vai respeitar a decisão de um Tribunal que ela considera superficial?
Sem se pronunciar, o TSE aceita a superficialidade de sua existência. Para o deleite dos que aprontam com as contas eleitorais.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 16/10/2019.
A foto é de Daniel Marenco.