O alerta foi dado por Eduardo Jorge, do Partido Verde, no ato do Pólo Democrático e Reformista, realizado em São Paulo na semana passada: como a matemática continua valendo nas eleições, os candidatos deste campo ficarão de fora se persistir a sua atomização em várias candidaturas.
A conta é simples: “A esquerda – incluído aí Lula – tem 40%, a extrema-direita 20%. Restam 40%. Se estes se dividirem, os dois extremos irão para o segundo turno”.
Paira sobre o país o fantasma da eleição de 1989, quando a pulverização responsável por 20 candidaturas levou ao segundo turno dois outsider: Lula e Collor. O sinal amarelo acendeu a partir de um sentimento compartilhado por Roberto Freire, Eduardo Jorge e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O quadro eleitoral está estagnado há meses, como comprovam as pesquisas. Dificilmente será alterado durante a campanha, mantidas as atuais condições de temperatura e pressão.
A dose de realismo leva à constatação de que o relógio continua a andar. A inércia provoca a paralisia do campo situado entre os dois extremos. Quebrá-la passou a ser um objetivo de curto prazo. Do contrário, o país se verá diante do desastre anunciado de escolher “entre o ruim e o menos pior”, para usar as palavras de FHC. O ruim e o pior são dois projetos populistas.
Não se trata mais de pregar a unidade no abstrato, mas de construir, de imediato, um amplo diálogo entre as lideranças democráticas e reformistas. Idealmente, antes das convenções partidárias, mas se não for possível durante o percorrer da própria campanha eleitoral, idéia defendida pelo deputado Marcus Pestana.
Nas condições de hoje não é fácil fazer uma articulação envolvendo forças e políticos com projetos diferenciados – todos eles legítimos, registre-se. Certamente a busca da unidade estará fadada ao fracasso se for apenas um expediente tático-eleitoral. A construção de um pólo democrático e reformista tem um sentido estratégico bem mais amplo, pois as mudanças de que o Brasil precisa não serão obra de nenhuma força isoladamente.
A unidade já foi perseguida e atingida pelos brasileiros.
Nos momentos mais difíceis da nossa história, fomos capazes de unir os diferentes em torno de objetivos comuns. Assim foi na campanha das Diretas Já, na eleição de Tancredo Neves e na própria Constituinte. Nesses episódios tivemos a felicidade de contar com políticos à altura do que a história exigia. Mario Covas, Franco Montoro, Leonel Brizola, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves tiveram a grandeza de subordinar seus projetos pessoais aos interesses maiores da nação. Sem abrir mão de seus princípios, souberam construir o entendimento necessário para fazer o Brasil avançar.
O grande ponto de interrogação é se os candidatos comprometidos com a democracia e as reformas sociais terão o mesmo desprendimento ou se cada um continuará remando sozinho. Nesse caso, o sinal passará de amarelo para vermelho.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 4/7/2018.