Os boquirrotos

Começo citando dois gigantes: Leonardo da Vinci e Henry David Thoreau. O grande artista do Renascimento disse em carta para Ludovico Sforza: “Nada fortalece mais a autoridade do que o silêncio”.

Já o magnífico ensaísta americano deixou para a posteridade este belo pensamento: “Se você quer convencer um homem de que ele está errado, faça o certo. Não tente convencê-lo. Os homens acreditam naquilo que vêem. Deixe que vejam”.

Infelizmente, os dois governos mais boquirrotos da história, tanto dos EUA quanto do Brasil, não seguem esses conselhos.

Falam sem parar sobre todos os assuntos e estão convencidos de como são brilhantes. Talvez nem se dêem conta do quanto têm que se desdizer logo adiante. Ou talvez não se importem em se desmentir diariamente. Sei lá. O que sei é que, na minha idade, nunca vi governos tão boquirrotos quando os de Bolsonaro e Trump.

Periga o Brasil ficar falando sozinho, já que aos poucos Bolsonaro e seu chanceler espicaçam países com os quais, até prova em contrário, temos boas relações. Com alguns, é verdade, não nos relacionamos tão bem, mas é melhor agir com elegância e delicadeza do que dar caneladas a torto e a direito.

Convidar e desconvidar, não creio que haja algo mais grosseiro em matéria de relações pessoais ou entre países. Sair por aí dizendo que está insuportável viver em algumas partes da França, diante de tantos imigrantes, francamente, só é menos polido do que declarar, como o fez o embaixador Ernesto Araujo, que o Velho Continente vive um vazio cultural. Recebemos foi uma resposta cheia de picardia do embaixador da França nos EUA, Gerard Araud, em sua redes sociais: “63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários”.

Trump, o escolhido pela família Bolsonaro como o exemplo e líder mundial que irá nortear o Brasil, troca membros de seu gabinete com a velocidade com que troca de camisas. O despenteado presidente americano está encabeçando todas as listas de malfeitos que um governo pode fazer. Vai à Rússia, diz que sua visita foi um sucesso e o mundo aguarda até agora provas do tal sucesso. Vai à Coréia do Norte, faz relatos fantásticos de seus papos com o baixinho da Coréia que logo em seguida continua a fazer o que sempre fez e ignora totalmente o americano.

Trump é um boquirroto de marca maior. Pensou, falou, ou melhor, tweetou, e seu país que amargue as consequências.

Boquirrotos daqui e dos States, por favor, aprendam com Jonathan Swift, o irlandês: “É melhor manter a boca fechada e deixar que as pessoas pensem que você é bobo, do que abri-la e remover todas as dúvidas”.

E lembrar sempre: quem fala o que quer ouve o que não quer, dizia-se no tempo de meus bisavós. O que continuamos a dizer em nossos dias…

Um Bom Natal para todos são meus votos.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 21/12/2018. 

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