Não põe corda no meu bloco

Com o fim das festas momescas a política entra em clima eletrizante. Luciano Huck promete levar ao ar mais um capítulo final de sua novela. Todos querem saber se o apresentador será ou não candidato. Se entrar no jogo, balançará o coreto eleitoral de quem se acostumou ao dueto nacional.

Por dueto entenda-se velhas polarizações do tipo esquerda-direita, PT versus PSDB, nós contra eles, que se tornaram anacrônicas numa sociedade identitária marcada pela crise de representação. No nosso caso, há ainda o impacto da Lava Jato em um mundo político carcomido.

Sem Lula na urna eletrônica, uma candidatura de Huck complica a vida de muita gente. A do governador paulista Geraldo Alckmin, que já anda cheio de problemas no seu partido, claro. Mas não apenas a dele. Sobra pouco espaço para outras pretensas candidaturas do centro.

Os dois extremos também serão afetados. Parte do eleitorado de centro que se deslocou para Jair Bolsonaro pode fazer movimento de volta, se houver uma alternativa viável ao lulo-petismo.

Segundo pesquisas qualitativas nas mãos do apresentador, sua candidatura tem potencial de crescimento em áreas cativas do PT, inclusive no Nordeste, onde o PSDB jamais penetrou.

É um baita problema para os petistas. Sobretudo porque o discurso da conspiração das elites contra Lula não cola em Huck. O que ele tem a ver com isso? Nada. Não tem aderência no eleitorado das camadas populares acusá-lo de candidato da Globo. Isso pega apenas numa pequena elite intelectualizada.

Huck tem cara de tucano, nariz de tucano, mas não é tucano, navega em outros mares, daí a dificuldade dos adversários em colar qualquer selo em sua testa.

A incógnita é saber se realmente oferece expectativa de poder. Política tem dessas coisas. Alckmin e Huck têm, cada um, 8% nas pesquisas. Mas para um o percentual é sinônimo de anemia e para outro de potencial eleitoral. E se esta tendência se confirmar, fidelidades começarão a ser rompidas, resultando em um palanque televisivo para além do pequeno PPS.

Dá-se como favas contadas que a eleição presidencial será definida por tempo televisivo e palanques estaduais. Será?

Roberto Freire e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, políticos que raciocinam estrategicamente, vislumbram a hipótese de êxito de um candidato fora do escopo da política tradicional, tal a repulsa ao modelo político atual.

Nesta lógica, um outsider teria dupla vantagem: potencial para ser o pólo aglutinador de um centro atomizado e de se tornar o estuário do sentimento de renovação da sociedade.

Está dado o espaço para um bloco renovador e reformista que sacuda e arrebente o cordão de isolamento e areje a política nacional como prega o samba Plataforma de João Bosco. A conferir se Luciano Huck aceita ser seu porta-estandarte.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 14/2/2018. 

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