É como se fosse reprise de um filme. Em toda eleição os candidatos prometem mundos e fundos, esquivando-se de assumir compromissos com medidas antipáticas, ainda que necessárias, várias delas, obrigatórias.
Como se alimentam de votos, preferem iludir os eleitores a enfrentar a realidade tal qual ela é. Quem não se lembra da campanha de 2014, quando Dilma Rousseff vendia a imagem de um país paradisíaco inexistente, para depois de eleita gerar a maior recessão de nossa História?
Não está sendo diferente na disputa presidencial deste ano. Seja quem for o futuro presidente, terá de adotar medidas duras, sob pena de o país cair na insolvência. Economistas conceituados estimam a necessidade de um ajuste fiscal da ordem de 5% do PIB. Do contrário, a dívida pública degringolará de vez. Mas o que dizem os presidenciáveis sobre isso?
Da mesma forma, o sistema previdenciário pode gerar uma crise de proporções maiores do que a da Grécia. Atualmente já consome cerca de 12% do PIB. Poderá faltar dinheiro para pagar aposentadorias e pensões dentro de poucos anos se as mudanças na Previdência forem postergadas. As reformas, atualmente congeladas, serão mais urgentes face às nuvens negras que se anunciam no cenário internacional com a crise da Turquia.
Em vez de dizerem como pretendem cortar na carne, alguns presidenciáveis douram a pílula, pondo em dúvida até mesmo o caráter deficitário da Previdência. Isso quando não vão na linha do expansionismo fiscal e propõem retrocessos no que duramente foi conquistado, como a revisão do teto dos gastos públicos e da reforma trabalhista.
É mais fácil vender terreno na lua, como faz Ciro Gomes com sua promessa de zerar a inadimplência de 60 milhões de pessoas do que apresentar propostas consistentes e tecnicamente viáveis.
Como mágicos de circo, sacam soluções miraculosas sem lastro algum. Nisso Ciro tem sido imbatível. Fala em uma Previdência pelo sistema de capitalização sem definir como será o financiamento do longo processo de transição, ou seja, de onde sairão os recursos para pagar as atuais aposentadorias.
Na teoria todos os presidenciáveis se dizem comprometidos com a retomada dos investimentos, mas Ciro, Boulos e a candidatura do PT defendem em seus programas medidas que geram insegurança jurídica e afugentam os investidores. Qual o investidor externo vai participar de algum leilão na área do pré-sal, por exemplo, sabendo que os lotes adquiridos poderão ser desapropriados mais à frente?
A estratégia de não desagradar os eleitores e de fazer concessões às corporações religiosas leva os candidatos a contornar uma seríssima questão de saúde pública, a descriminalização do aborto. Políticas públicas, como as relativas às drogas, deixam de ser abordadas, por medo de perder votos.
Como mercadores de bondade, os candidatos conseguem ludibriar os eleitores. Mas a ressaca do pós-eleição tem um alto custo para o Brasil, aprofunda crises, gera frustrações. O day after é sempre terrível.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 22/8/2018.