Mesmo que por unanimidade, uma pena proferida em segunda instância permite diversos movimentos dos defensores de réus que podem empenhar fortunas para tal. Portanto, a banca de Luiz Inácio Lula da Silva, composta por oito advogados, vai correr atrás e até poderá colher algum sucesso em cortes superiores. Mas nada, nem o melhor causídico do planeta, conseguirá inverter os fatos que enlodaram em definitivo a biografia do ex-presidente.
Além de condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula é réu em outros cinco processos da Lava-Jato, Zelotes e Janus, acusado por obstrução da Justiça, tráfico de influência e organização criminosa. E denunciado em mais três. Sozinho, seus crimes fecham todo o colarinho branco.
Em bom português, o caso do tríplex do Guarujá é fichinha perto do que ainda está por vir.
A Lula só resta incentivar fiéis a elevar o tom das bravatas que já vinham sendo desfiadas. A ordem é radicalizar a luta, incendiar o país, desobedecer a lei. Mas faltam exércitos para cumpri-la. E fôlego, especialmente daqueles que pretendem disputar votos pela legenda.
Não há ânimo da sua turma nem mesmo para ocupar espaços até a chegada do pior — a cadeia –, quanto mais para uma campanha eleitoral, que petistas graúdos já imaginam contaminada por Lula. Não pela presença, que se faz indesejável pela sentença.
O contágio ultrapassa as hostes petistas. Bateu forte nas siglas de esquerda próximas ao lulismo e paralisou os demais campos. Até o deputado Jair Bolsonaro, cuja candidatura à Presidência tem o contraponto a Lula como fermento, esteve mais tímido do que seu público torcia. Os demais pré-candidatos ou falaram obviedades em favor da Justiça ou não deram um pio sequer.
As moções em todas as esferas da Justiça dificilmente vão reverter a sentença ampliada para 12 anos e um mês imposta pelo TRF4 ou incluir a foto de Lula nas urnas de outubro, mas certamente ocuparão espaços generosos na mídia. E enfadonhos, visto o cansaço do público em geral com o tema.
Ainda assim, Lula estará nas eleições. Ao que tudo indica, não na pele do candidato, como pretendia, mas como réu que luta para adiar a inevitável prisão. De quebra, deverá protagonizar o estrago de judicializar o debate eleitoral, tão necessário para que se conheça como os candidatos pretendem enfrentar os gigantescos problemas do país.
Lula estará nas eleições. Não como candidato, e sim assombrando-as.
Sua história de roubalheira e traição aos votos recebidos é para lá de lastimável, mas pode ter um efeito didático: evitar que o eleitor seja novamente ludibriado.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 28/1/2018.