Idéia de Jerico, a Saga – Parte 2. No último texto, contei sobre o prato de bateria que transformei em um cinzeiro de meio metro de diâmetro. Confesso, no entanto, que não acabou aí.
Vejam a vitrola muito antiga que achei aqui em Guarulhos. Jeito de anos 1940. Móvel vertical, envernizado, com o dial do rádio na frente. Em cima, abria-se a tampa e aparecia o pick up para os discos.
Ficou na sala, como peça decorativa. Não funcionava. Eu tinha um Gradiente, em um rack. Toca-discos em cima. Duas divisões com controles. Espaço para guardar os long-plays embaixo.
Certo dia olhei bem para a vitrola, peguei uma trena, medi. Fui ao Gradiente, medi. Peguei um serrote e abri uma porta no velhinho. Retirei todos os componentes, e coloquei o rack com o Gradiente lá dentro. Juro!
Fechada, a porta ficava despercebida. Aberta, me permitia manejar o Gradiente. O toca-discos coube certinho no vão deixado pelo pick-up. Bastava abrir a tampa, em cima, para ter acesso.
As pessoas entravam em casa e davam com a vitrola, encostada na parede em frente. Às mais interessadas, eu dizia que ela produzia um bom som. Na menor distração, abria uma fresta de porta e ligava o rádio.
O som saía, vigoroso, de duas putas caixas acústicas, em cantos diferentes da sala. Os ouvintes não percebiam; estavam encantados. Ouvi de um deles o comentário: “Puxa, esses aparelhos antigos é que eram bons”.
Em uma festa, em casa, um amigo mais pra lá do que pra cá chutou sem querer a porta aberta e acabou com a brincadeira. Não tinha conserto. Livrei-me dos escombros e o Gradiente voltou à luz do sol.
A sala tinha um pé direito bastante alto. Em certo ponto, sob telhas translúcidas, havia um jardim. Um jardim dentro da sala não é idéia torta; no máximo uma ousadia. No entanto… que tipo de planta viçava no jardim? Margaridas, petúnias, folhagens? Não, uma bananeira!
Não era volumosa, mas esguia, alta… decorativa. Francamente, podia ser idéia de jerico, mas tinha sua graça. Durou pouco. Assoalhamos o jardim, com medo de que roedores asquerosos – aqueles – entrassem pela terra.
Agosto de 2018