Dia nº 15 – Segunda-feira, 22 de outubro
Uma palavra do Bozo, e caímos na ditadura?
A questão maior, básica, fundamental hoje é: Jair Bolsonaro eleito significa que o Brasil vai virar uma ditadura?
Não quero simplificar as coisas. Há um grande número de questões, sem dúvida alguma. Bolsonaro eleito, aumentarão os casos de agressões a minorias? A violência aumentará? Haverá aumento de número de assassinatos cometidos por policiais, incentivados pela discurseira bolsonarista?
(Há quem tema que o perigo, aqui, seja muito grande. Assustador.)
Haverá censura à imprensa? Há condições, no Brasil de hoje, para um governo impor censura à imprensa?
(O PT bem que gostaria de ter conseguido. Fez diversas tentativas – não deu certo.)
O STF será fechado – ou conspurcado, com uma alteração drástica de sua composição?
Um conselho de bolsonaristas será criado para tomar conta do Ministério Público? Aposentar promotores, procuradores não benquistos, botar bolsonaristas no lugar?
Sob a presidência de Bolsonaro, o Itamaraty abandonará mais uma vez – como já fez nos 13 anos, 4 meses e 12 dias de governo petista – a posição de independência que sempre manteve nos demais períodos da História? Em vez de uma postura independente, soberana, em defesa de seus próprios interesses, o Brasil, na cena internacional, passará – depois daquele período de anti-americanismo tosco, infantil, ginasiano, do governo petista – a uma posição de subserviência diante dos interesses dos Estados Unidos da era Trump? Passaremos, por exemplo, a apoiar incondicionalmente o Estado de Israel, como já foram dadas indicações?
(O perigo aqui, especificamente, é muito grande. Assustador.)
Voltaremos a ter – como nos governos militares e nos governos petistas – um Estado grande, todo-poderoso, que acha que tem o poder de conduzir os agentes econômicos na direção que deseja? Voltaremos a ter – como na época da ditadura e no período petista – um governo que não abre mão das estatais? Um governo a rigor anti-privatista, e sim estatizante?
(O perigo aqui, especificamente, é muito grande. Assustador.)
Os militares se sentirão tentados a tomar o poder – como José Dirceu admitiu recentemente que esse é o desejo do PT, tomar o poder, e esse é o curso irreversível da História?
Bolsonaro eleito, acaba o respeito que as Forças Armadas vêm demonstrando pela Constituição nos últimos 33 anos – assim, como por encanto? Ou não por encanto, mas com o passar de alguns meses?
São várias questões, mas todas elas acabam interligadas, e todas podem ser resumidas em uma só, aquela lá, inicial: Bolsonaro eleito, o Brasil vai virar uma ditadura?
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“É muito difícil chamar à razão a quem se considera o dono dela”
“A sobrevivência da democracia não está ameaçada. Mas algumas escoriações podem empurrá-la para o viés autoritário que hoje cresce no mundo”, analisa Fernando Gabeira, uma das cabeças pensantes mais perspicazes e capazes do Brasil destes últimos anos, em seu artigo no Globo desta segunda-feira, 22/10.
Ele prossegue:
“As fake news, por exemplo, sempre existiram, mas hoje têm um peso maior, pelo alcance e velocidade. Utilizá-las sem escrúpulos e denunciá-las no adversário apenas confirma o pesadelo moderno da decadência da verdade.
“É muito difícil chamar à razão a quem se considera o dono dela. Os intelectuais condenam as escolhas populares, mas, às vezes, não percebem a sede de sinceridade que há por baixo delas. Pena.”
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Capitão só manda em general em regime civil
“Há certa histeria rondando a política brasileira”, resume, na abertura de artigo no Globo deste sábado, 20/10, o professor Jorge Zaverucha, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco.
“O alarmismo é alavancado por setores acadêmicos e midiáticos (in)ternacionais. Faz-se uma previsão épica do tipo civilização ou barbárie. Além de moralmente pretensiosa, peca por não alcançar a complexidade do momento atual.
“O principal bordão diz que Bolsonaro é um ‘risco à democracia’. Não se especifica o tamanho deste risco (pequeno, médio ou grande?) nem em que aspecto a nossa avacalhada democracia seria atingida. A inexatidão conceitual prevalece. Subtendendo que Bolsonaro golpearia as instituições ou erodiria as mesmas ao ponto de lançar o país nas trevas. Seria o novo Chávez com sinal trocado.
E ele prossegue:
“Chávez, antes chegar ao poder, tentou derrubar o presidente por duas vezes. Já Bolsonaro, nos últimos 30 anos, viveu obscuramente no Parlamento. Suas ações restringiram-se a uma série de discursos antidemocráticos. Contudo, há uma outra possibilidade. Ele seguir os passos do peruano Ollanta Humala. Considerado um militar radical de esquerda, disputou a primeira eleição com apoio de Chávez. Perdeu. Distanciou-se dele, e ganhou a segunda eleição. Terminou seu mandato sem maiores problemas. Já na Turquia, Erdogan começou como líder moderado e hoje é exemplo de autoritarismo. A dinâmica do jogo forja o comportamento dos atores políticos. Para um lado ou para outro.
E aqui o professor Jorge Zaverucha chega no ponto central de seu artigo, na minha opinião:
“É preciso distinguir militar como indivíduo do militar como instituição. Os interesses que acompanham estas duas unidades de análise nem sempre são convergentes. Bolsonaro, como indivíduo, não possui autonomia para ir contra os interesses das Forças Armadas como instituição. Ele sabe que, em caso de golpe, pode perder o emprego, pois um general da ativa tomaria as rédeas do poder. Capitão só manda em general no mundo civil…
“As Forças Armadas aprenderam com 1964. Na visão da instituição, os militares foram convocados a golpear a democracia. E depois largados no meio do caminho. O ponto de Equilíbrio de Nash (situação em que os atores políticos não abandonam suas posições com receio de que possam piorá-las) é as Forças Armadas não almejarem o ônus de ser governo deixando a democracia eleitoral para os civis. Em troca, os civis asseguram aos militares o papel de garantidores da lei e da ordem mantendo seu poder tutelar. Além de garantir os enclaves autoritários, muitos deles insculpidos na Constituição de 1988. Não há sinal de que este equilíbrio esteja para ser rompido. A não ser que venha a ocorrer uma situação de anomia, como lembrou o general Mourão. Situação plausível caso nossos problemas não sejam debelados.”
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Ditadura é exagero. Mas o céu está carregado de nuvens escuras
Em seu artigo no Estado deste domingo, 21/10, Vera Magalhães falou dessas questões básicas:
“Uma das maiores discussões sobre o que será um governo de Jair Bolsonaro é se ele colocará ou não em xeque a democracia. Ou, num grau mais extremo, se existe risco de volta à ditadura.
“Considero a segunda formulação um evidente exagero, que tem sido proclamado em tom alarmista por eleitores do PT, políticos e até alguns analistas. Mas não estou entre aqueles que, no polo contrário, não vêem nenhuma nuvem no horizonte democrático do País. Acho que o céu está carregado delas, e que, para que comecem a se dissipar, há algumas iniciativas que cabem ao candidato, para que comece a mostrar quem será o presidente Bolsonaro, caso se confirme sua eleição daqui a uma semana.”
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O PT já fez pior do que esse filhote de Bolsonaro
Especificamente sobre a idiotice dita por um dos filhos de Jair Bolsonaro, sobre fechamento do Supremo – para fechar o Supremo “basta um soldado e um cabo” –, deve seguramente haver na legislação vigente algo mais forte do que o puxão de orelhas que o pai do rapaz disse que deu.
O Brasil tem instituições que podem não ser lá tão sólidas assim – mas também não são propriamente um pote de sorvete diante do sol do Planalto Central. Que a Procuradoria Geral da República processe o idiota, ora bolas. O ministro Alexandre de Moraes sabiamente levantou a suspeita de que o Bolsonarinho cometeu crime de incitação a golpe de Estado, previsto na Lei de Segurança Nacional.
De qualquer forma, é bom lembrar que petistas já disseram coisas bem semelhantes – e o tal do mundo não se acabou.
Lula da Silva, ele mesmo, o Padim Padre Cìcero, o Papa, o Deus, disse que o Brasil tinha um STF totalmente acovardado, um STJ totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado, etc e tal, etc e tal.
Em abril deste ano, o deputado Wadih Damous (PT-RJ) disse que “tem que fechar o Supremo Tribunal Federal”, que é preciso “redesenhar” o Poder Judiciário.
Este mês de outubro mesmo, José Dirceu disse que “tem que tirar o poder de investigação do Ministério Público”. Em entrevista ao portal de notícias do Piaui 180 graus, disse que “é preciso tirar todos os poderes do Supremo” – que, aliás, segundo ele não deveria ser chamado de Supremo: “Deveria ser só Corte Constitucional”. Mais ainda, muito pior ainda: disse que “Judiciário não é poder da República, é só um órgão, mas se transformou em um quarto poder”.
O comissário de fato não entende nada de democracia. Não entende sequer que um dos pilares da democracia é a existência de três poderes independentes, Executivo, Legislativo e Judiciário. Dirceu não entende sequer por que a Praça dos Três Poderes tem esse nome.
O lulo-petismo fez muito mais do que falar idiotices, tão idiotas quanto falou o Bolsonarinho: o lulo-petismo botou Ricardo Lewandowski entre os ministros do Supremo.
Golpe maior do que esse contra a mais alta corte de Justiça de um país, só Adolf Hitler, Hugo Chávez, e mais uns poucos.
E nem mesmo assim o tal do mundo se acabou.
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(Filhos. Me ocorre aqui que é dureza esse negócio de filhos de presidente. Os filhos de Lula. Os filhos de Bolsonaro. Uns enriquecem, sabe lá Deus como. Outros são eleitos e falam idiotices. Credo. Horror. Horror,)
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O horror passa, o país fica
Concordo com Fernando Gabeira, com o professor Jorge Zaverucha, com Vera Magalhães. Não estamos a um passo de uma ditadura. Há, sim, uma certa histeria no ar – e é claro que é do interesse do PT inflar a onda de histeria, e nisso o partido é bom pra cacete, é craque.
Concordo perfeitamente com Vera Magalhães, com Fernando Gabeira e com todos os brasileiros de boa índole que temem pelos retrocessos que serão defendidos e tentados pelo governo Bolsonaro. O governo Bolsonaro deverá sem qualquer sombra de dúvida ser um horror, nas mais diversas áreas, em especial, é claro, na economia, nas relações externas. Tanto quanto foram os governos lulo-petistas – e até mesmo pior, em alguns aspectos específicos, os relacionados aos direitos humanos, às liberdades civis, às minorias.
Mas sou um otimista, um danado de uma Polyanna. Se o Brasil sobreviveu a 13 anos, 4 meses e 12 dias de PT, por que não sobreviveria a 4 anos de Bolsonaro?
Estamos aí para fazer oposição, uai! Todas as forças democráticas do país. E até mesmo as que não são, como o PT e seus satélites.
22/10/2018
Dia nº 12 – O PT agora quase cabe no Vão do Masp.
Um comentário para “Crônica da eleição do horror (13)”