Idéia de jerico. A expressão corria solta quando tive a melhor das minhas, aí por 1980. Tratei de fazer uma mesa de centro para a sala da nossa nova casa. A sala, tirada ao rústico, tinha piso coberto por nata de cimento, e paredes sem acabamento fino.
Achei, em uma serraria, uma peça de madeira maciça de 1,90 metro por 0,84. Tirei duas fatias para fazer os pés; os 1,40 restantes resultaram no tampo da mesa. Submetida ao arranhar de um pente de pregos, e ponta de formão, tomou o aspecto de antiga e gasta. Tingida com extrato de nogueira ficou, perdoem a imodéstia, bem interessante. ENTÃO…
Xeretando na Casa André Luiz, aqui de Guarulhos, que vende móveis e trastes usados, dei com um prato de bateria. Levei para casa, sem saber bem o que fazer com ele. Aí veio a idéia brilhante.
Estuprei a mesa (só mais tarde teria consciência disso), para produzir um afundamento de 0,50 centímetros de diâmetro e nele instalar o prato de bateria. Para que, bom Deus? Para servir de cinzeiro!
Maravilha. Podia-se reunir os amigos, tomar uma bebida e fumar, sem a necessidade de tirar as costas do sofá em busca do cinzeiro. Bastava usar aquele meio metro metálico.
Aquelas bitucas todas, muitas vezes mal apagadas; o cheiro, o aspecto, não incomodavam. Faziam parte da festa. Só mais tarde, quando todos paramos de fumar, me dei conta do grotesco e retirei o prato.
Ficou o afundamento, que tem no centro um buraco de 20 centímetros. Disfarço, colocando sobre ele o Estadão de fim de semana e revistas. Mas com frequência tento um remendo. Um prato de metal, um sol inca, que cobre só o buraco, foi a última tentativa. Não agradou. Além disso, me lembrava o cinzeiro.
Julho de 2018
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