Quem enfiou o Brasil no buraco

Neste Dia Internacional da Mulher, Dilma Rousseff publicou um vídeo em seu site oficial e distribuiu também um artigo, reproduzido pelos simpatizantes do lulo-petismo, como o site da revista Carta Capital, em que afirma que os governos do PT construíram “a mais ampla política para equidade de gênero, com interseções de raça e etnia, reconhecendo a diversidade entre as mulheres”.

É a velha história: para o lulo-petismo, a História do Brasil começou em 2003 – e acabou em maio de 2016, quando Dilma foi vítima, como ela escreve em seu artigo, de “um golpe parlamentar, sem crime de responsabilidade”.

Segundo ela afirma no vídeo (transcrevo parágrafo do site lulo-petista Rede Brasil Atual), “o governo Temer vem desarticulando e fragilizando políticas de proteção, como a Casa da Mulher Brasileira, o programa Mulher Viver Sem Violência e o Disque 180, além de programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, que beneficiam prioritariamente as mulheres e suas famílias”.

Como faz parte da estratégia do lulo-petismo reescrever a História, através da repetição constante de mentiras, aproveito a oportunidade para transcrever aqui o editorial de O Globo e o artigo de Míriam Leitão deste 8 de março. Os dois textos dão os nomes dos responsáveis pela pior recessão da História da Brasil – evidenciada nos dados do PIB, divulgados na véspera pelo IBGE.

É sempre bom repetir a verdade dos fatos. Muito mais: é necessário. Como todos sabemos (o lulo-petismo talvez mais ainda), este é um país de memória curta, e portanto terreno fértil para plantar mentiras, embustes, falsidades.

Aí vão os textos que relembram que foram Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff que enfiaram o Brasil no atoleiro da recessão e dos mais de 12 milhões de desempregados.

Os reais responsáveis pela crise histórica

Editorial, O Globo, 8/3/2017.

A informação do IBGE, de que o país se manteve em grave recessão em 2016, pelo segundo ano consecutivo — sequência rara — tem uma evidente dimensão econômica e, por inevitável, repercussão política, por estarmos a uma distância não muito grande do ano eleitoral de 2018.

Os 3,6% da recessão do ano passado se somam aos 3,8% da queda no exercício anterior, para subtrair 7,2% do PIB, algo sequer comparável à perda relativamente menor que teve a economia brasileira na Grande Depressão americana, com duros impactos no mundo, em 1929 e 30.

Há um fato estatístico que não se pode creditar à mera coincidência: com a recessão do ano passado, a produção da economia brasileira voltou aos níveis do segundo semestre de 2010, quando o país teve um crescimento de 7,5%, forjado por políticas “desenvolvimentistas” de aumento descuidado de gastos públicos, via indução a investimentos subsidiados pelo BNDES e práticas do tipo.

Entenda-se, portanto, que estes 7,2% de perda de produção, causa de um mastodôntico desemprego de quase 13 milhões de pessoas — que amargarão muito tempo até voltarem ao mercado formal de emprego —, são o preço que a sociedade paga pelo populismo adotado por Lula no segundo governo, sob inspiração da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. E, ao ser eleita presidente pelo ex-chefe, Dilma completou o serviço, em grande estilo. Tanto que sofreu impeachment por irresponsabilidades fiscais.

A adoção de medidas heterodoxas de aperto no acelerador das despesas sem qualquer preocupação fiscal gerou a euforia dos 7,5%, permitiu naquele ano a eleição da pupila e, mantida a dosagem de irresponsabilidades fiscais, ainda foi possível reeleger Dilma Rousseff. Mas já com a aplicação desbragada de técnicas de “contabilidade criativa”, ou seja, manipulação estatística, a fim de esconder o verdadeiro estado das contas públicas.

O gráfico ao lado resume a tragédia produzida pelo lulopetismo: PIB em queda, desemprego em alta e inflação de volta aos dois dígitos. Uma mistura tóxica para a renda, os salários e, claro, o emprego.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem razão em dizer que a recessão está no espelho retrovisor. Há sinais de que ela terá estancado neste primeiro trimestre. Mas esta cena vista por cima dos ombros é que deverá, em alguma medida, pautar a discussão político-eleitoral que tende a crescer daqui para frente.

A dimensão do desastre

Por Míriam Leitão, O Globo, 8/3/2017.

A maior queda do PIB da nossa história foi construída na marcha da insensatez do governo Dilma. Ontem foi o dia de olhar de frente para todos os números do nosso desastre e é espantoso que haja quem duvide da origem dos erros que nos trouxeram ao ponto em que estamos. Mais de 7% de recessão em dois anos, mais de 9% quando a conta é feita pelo PIB per capita desde 2014.

A história econômica registrará o ineditismo do momento. Desde que há estatísticas, em 1901, nunca se viu um biênio como esse. A crise foi feita por Dilma, mas Temer ainda não a reverteu. Estamos numa transição. O dado do último trimestre de 2016 foi mais negativo do que o esperado, mas, felizmente, não é uma tendência.

Há várias formas de se olhar esse índice. O PIB caiu 0,9% no último trimestre comparado ao trimestre anterior. Havia sido de -0,3% no segundo trimestre e -0,7% no terceiro. Quem olha a sequência de números pode pensar que estamos no meio de um agravamento da recessão. Mas não. A melhor forma de olhar os dados é compará-los com o mesmo trimestre do ano anterior. Por essa conta, no começo do ano passado, a queda era de 5,4%, e agora, 2,5%. Atenua-se lentamente o tamanho da recessão.

A melhora vai ser demorada e com isso o país vai continuar convivendo com números desastrosos. A taxa de investimento — que mostra possibilidade futura de crescimento — teve uma queda no ano de 10,2%. Em 2015, havia caído mais: 13%. E chegou a estar em queda de 18,7% no último trimestre de 2015. Ainda está muito ruim, mas já foi pior.

A história que os números contam é a de um país que despencou em queda livre e longa desde o fim de 2014, época em que a então presidente e candidata Dilma Rousseff perguntava sempre a cada entrevista: “crise? que crise?” O que ela não via estava diante dos olhos dos economistas e analistas do país. A recessão estava sendo contratada pela displicência com a inflação, pelo gasto excessivo, pelos subsídios insustentáveis aos empresários, pelo seu pensamento econômico rudimentar.

Hoje o IBGE vai divulgar a produção industrial e a previsão é de novo número negativo em janeiro. O governo Temer já governa desde maio do ano passado. Tem conseguido algumas melhoras na economia, mas não fez a virada rápida que o país precisava. É, de fato, muito difícil mudar em pouco tempo uma situação tão ruim. O governo Temer tem tomado decisões acertadas na economia, mas permanece imerso em ambiguidades e suspeições. O pior ficou para trás, contudo a recuperação será lenta.

Como o dado do último trimestre foi pior do que o esperado, os economistas explicam que o carregamento estatístico para 2017 também piorou: saiu de -0,7% para -1,1% no cálculo da Tendências. Isso significa que a economia começou o ano de um ponto ainda mais baixo do que se esperava. Para voltar ao zero, na média, terá que, primeiro, recuperar esse 1,1%. Por isso, as projeções para o PIB, de vários bancos e consultorias, já estão sendo revistas para baixo.

A inflação caminha para o centro da meta e no dado de fevereiro, que o IBGE divulga na sexta-feira, deve ficar abaixo de 5%. Com o nível de atividade mais fraco e a redução da inflação, o Banco Central vai acelerar o ritmo de corte dos juros de 0,75% para 1% na reunião de abril. Esse impulso da política monetária chegará à economia real, mas apenas no segundo semestre. No primeiro semestre a grande esperança está na agricultura. Mesmo com todos os impulsos o país terá um número pífio em 2017.

Há ainda uma grande incerteza. O economista Sérgio Valle, da MB Associados, diz que se não for aprovada a reforma da Previdência o país pode ter recessão também em 2017, em vez do ligeiro positivo que todos esperam. Parece exagero. Mas uma parte da melhora dos indicadores é resultado da expectativa de que o país vai começar a sair buraco fiscal.

Ele diz que, sem a reforma, o limite de teto de gastos não se sustenta e o aumento das despesas com aposentadorias continua em ritmo insustentável. Isso elevará o risco-país, o dólar, o pessimismo. É o que pensam os economistas em geral. O país terá que fazer reformas difíceis num governo cheio de fragilidades para sair do fundo desse poço.

(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)

8/3/2017

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