O país sai maior e melhor

Minha primeira consideração sobre o dia do depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro: juntar 5 mil pessoas na Praça Santos Andrade, em Curitiba, é pouco. Muito pouco. É mixaria.

5 mil foi o número de pessoas divulgado pela PM. O mesmo número, aliás, antecipado no Facebook pelo DataTibério, o “instituto de pesquisa” de Tibério Canuto Queiroz Portela, que já havia cravado, no domingo agora, antes da apuração dos votos do segundo turno na eleição presidencial da França, o número exato que acabou dando, 65% para Emmanuel Macron, 35% para Marine Le Pen.

Os organizadores da manifestação falaram em 50 mil. Claro que é cascata gigante, e aí estão as fotos para demonstrar isso. Mas mesmo que tivessem sido 50 mil pessoas, teria seria um fiasco.

PT, PCdoB, UNE, Ubes, MST, MTST, PSOL, etc, etc, passaram semanas e semanas anunciando que reuniriam uma multidão em Curitiba no dia do depoimento de Lula na 13ª Vara da Justiça Federal na capital paranaense. O primeiro de vários, a gente sabe.

Toda a força do PT, PCdoB, UNE, Ubes, MST, MTST, PSOL, etc, etc, com as lideranças todas lá, inclusive ele mesmo, o próprio Padim Padre Lula, ele mesmo, recém saído do prédio da Justiça Federal, e mais Dilma e Gleisi e Lindbergh, praticamente toda a bancada do PT na Câmara e toda a bancada do PT no Senado – tudo isso consegue juntar, no dia que eles transformaram no grande embate Lula x Moro, o Bem x o Mal, o Nós x Eles, 50 mil pessoas?

50 mil seria fiasco.

5 mil é prova de que está acabando. O PT está acabando.

(A foto é de Marcos Leone/FolhaPress.)

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Para a claque reunida diante do prédio da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, Lula perdigotou que irá prestar depoimento todas as vezes que for chamado.

Como se isso fosse um grande mérito. Como se não fosse obrigação do cidadão comparecer diante do juiz que está julgando uma ação contra ele.

Tentou transformar um dever, uma obrigação, em ato do heroísmo.

Antes, meses atrás, havia dito que iria a pé até Curitiba para depor. Foi de jatinho particular.

Jatinho, aliás, pertencente ao empresário Walfrido Mares Guia, ex-deputado do PTB que foi acusado de participar do esquema do “mensalão tucano” em Minas Gerais.

Nos dias que antecederam a data marcada para o depoimento, apelou ao Tribunal Regional Federal para adiar a ida ao juiz Sérgio Moro. Perdeu. Na véspera, entrou com três pedidos de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ), para tentar fugir de Moro. Perdeu, foi obrigado a ir.

Saiu do prédio da Justiça Federal direto para o palanque armado na Praça Santos Andrade para perdigotar que é grande herói porque vai prestar depoimento sempre que for chamado.

Durante o depoimento, tentou empurrar para cima da falecida Marisa Letícia a responsabilidade pelo imbróglio do triplex do Guarujá.

É de fato de uma coragem exemplar. Maior que a coragem de Lula, só sua coerência.

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Tão grande quanto a coragem e a coerência de Lula, só seu apego à verdade. Lá pelas tantas, para esnobar ainda mais o triplex do Guarujá, que tinha “uns 500 defeitos”, disse que Dona Marisa não gostava de praia.

Poucas horas depois de terminado o depoimento de Lula, Olga Kunze, de Cuiabá, e muitas outras pessoas postaram no Facebook o conjunto de fotos aí ao lado.

Imagine se Dona Marisa gostasse de praia.

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A jornalista Vera Magalhães publicou no Facebook um post admirável. Transcrevo:

“Lula:

– fala pejorativamente que quer ver se uma ministra tem “grelo duro”

– fala pejorativamente que sua amiga da vida toda, Clara Ant, viu policiais federais entrarem em sua casa e ficou animada achando que eram homens atras dela

– transforma o velório da mulher num comício barato em que a estrela é ele

– cita a mulher morta como grande responsável pelas tratativas do triplex em seu primeiro depoimento como réu diante de Sergio Moro.

Mas as feministas de esquerda piram e usam hashtag defendendo o cara por aí.”

As feministas de esquerda são tão coerentes quanto o ídolo delas.

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Mary ficou chocada com o fato de coleguinhas jornalistas estarem tratando em pé de igualdade os “manifestantes a favor do ex-presidente Lula” e os “manifestantes a favor do juiz Sérgio Moro”.

Como se fossem movimentos semelhantes.

O jornal O Globo publicou na página 4 da edição desta quarta, 10, um infográfico que mostrava onde iria se concentrar “o grupo contra Lula” e onde iria ficar “o grupo a favor de Lula”.

O Jornal Nacional da Rede Globo mostrou a manifestação da Praça Santos Andrade e o grupelho de no máximo 20 pessoas com bandeiras brasileiras reunidas no Centro Cívico, da mesma maneira com que o noticiário da Globonews mostrou os dois grupos, ao longo de toda a tarde, sem uma frase sequer que lembrasse que eram movimentos absolutamente díspares.

Sem esclarecer que de um lado havia uma manifestação organizada por partidos políticos, central sindical e uma série de organizações, com gigantesco palanque, shows de música, dirigentes sindicais e lideranças e parlamentares do PT, e, de outro, um grupelho de pessoas não convocado por qualquer entidade – sendo que o próprio juiz Sérgio Moro havia pedido, em vídeo amplamente divulgado nas redes sociais e na própria imprensa, que não houvesse manifestação pública das pessoas que apóiam a Operação Lava-Jato.

Do que vimos na TV, apenas um jornalista – o âncora do Jornal das 10 da Globonews, Dony De Nuccio – deixou clara para o respeitável público a diferença entre as duas manifestações.

Pobre respeitável público.

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Mas o mais importante é que o País sai deste dia 10 de abril maior e melhor.

O lulo-petismo passou semanas anunciando o depoimento como uma luta de vida ou morte entre Lula e Moro. A revista Veja resolveu engrossar o coro com sua capa ridícula, mostrando o encontro Moro e Lula como uma luta de super-heróis.

O juiz Sérgio Moro insistia em que era apenas um depoimento, coisa corriqueira, normal, usual.

O lulo-petismo usou o velho esquema de montar caravanas, encher ônibus de várias cidades com destino a Curitiba. Dá-lhe mortadela.

Por via das dúvidas, as forças de segurança montaram uma operação grandiosa até demais em torno do prédio da Justiça Federal.

E não é que a montanha tenha parido um rato. A montanha não pariu coisa alguma.

Lula deu seu primeiro depoimento como réu. Ainda haverá muitos outros.

E só. Mais nada. A vida segue.

O lulo-petismo sai menor. O Brasil sai maior e melhor.

10 e 11/5/2017

3 Comentários para “O país sai maior e melhor”

  1. Adorei o perdigortar!
    E ainda tivemos que aguentar o Rui Falcão a dizer que o Lula saiu do depoimento nos braços do povo!
    (Um abraço de boas-vindas em nossa viajante).
    MH

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