Marina em modo declaratório

Marina está perguntando de vcs!”, mensageou minha filha, na hora do almoço.

Tinha uma semana inteira que não víamos a pequena. Em geral a vemos duas vezes por semana, às vezes até três, mas tem acontecido mais recentemente de ficarmos longe uma semana. Nunca mais que isso, felizmente.

Tínhamos pego a pequena na escolinha na quarta passada, dia 23, e trazido ela aqui pra casa (a foto abaixo é daquele dia). Na agenda do vô, escrevi que Marina estava naquele dia em modo declaratório. Fez umas duas ou três declarações de que gosta de estar com a gente, e então registrei:

A criaturinha não apenas é fofa, suave, doce, afetuosa, grudendinha. Ela não apenas gosta muito das pessoas todas que são muito próximas dela, pai, mãe, a Cau, nós, a Abuelita, a tia Dri, a Nina, a Marcela – ela gosta de declarar o amor que sente.

Hoje, a quarta seguinte, 30 de agosto, continuava em modo declaratório.

No finalzinho da tarde, eu me preparando para ir até lá vê-la, toca o telefone. Vejo o nome da Cláudia; Cau é rápida, diz que Marina quer falar.

Aos 4 anos e 5 meses, Marina ainda não é muito de falar ao telefone, e então meu coração quase parou.

– “Vovô, quando você e a vovó vêm aqui?”

E, depois de um momento de silêncio: – “Desde a segunda-feira estou perguntando quando você e a vovó vêm aqui.”

Quem não é avô não vai saber jamais o que acontece no coração da gente quando a gente ouve algo assim.

Só tem comparação com um plano-sequência especialmente magistral de um Hitchcock, um Lelouch, um Brian De Palma. Um gol do Corinthians quando você está no campo. A canção mais bela que começa a tocar quando você está inteiramente distraído e aí você se percebe a três centímetros do chão.

Marina mora a exatas seis quadras de mim. Um quilômetro, contado nos aplicativos de caminhada (atualmente uso o MapMyWalk). Do outro lado de um vale: tem uma descida, uma subida. É Perdizes, afinal, cacete. De carro são 3 minutos, mas hoje Mary não poderia ir, afogada em um trabalho. A pé são 15 minutos.

Chamei um táxi.

***

Expliquei bem explicadinho que a vovó estava morrendo de saudade mas não tinha podido ir porque está com um trabalho muito grande. A pequena entende bem o que é ter muito trabalho, porque ouve isso tanto do pai quanto da mãe quase o tempo todo. (Muitas vezes, quando está brincando de casinha, de pai, mãe e filhinha, e interpreta a mãe, diz para a filha que está com muito trabalho. Quando pedia para brincar com minha Olivetti Lexington 80, dizia que tinha muito trabalho a fazer.)

E então entendeu, ficou tudo bem.

Na hora em que eu estava esperando o elevador para voltar para casa, ela e a mãe no umbral da porta, declarou, confirmando que está mesmo em estado declaratório nestes últimos dias:

– “Vovô, fale para a vovó que eu estou com muita saudade dela. (Rápida pausa.) Mande um abraço apertado nela. (Rápida pausa.) Não vai esquecer de dizer, hein, vovô?”

Ah… Mas que plano-sequência, que gol do Corinthians, que bela canção que nada…

30/8/2017 

As fotos são de 23/8/2017.

 

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