Já devia estar acostumada a ler ou ouvir sem surpresa nossos políticos. Afinal, aos 79 anos e com título de eleitor emitido em 1956, não dá para ser surpreendida com mais nada…
Vai ver é o sonho que não acaba nunca de um dia ver o Brasil figurar entre as nações mais respeitáveis do mundo. São ilusões da juventude que não me abandonam.
Mas como resistir ao espanto ao saber que Michel Temer telefonou para o senhor Edison Lobão com o intuito de parabenizá-lo por sua ida para a presidência da CCJ, a grande, a mais importante comissão do nosso Senado? Lobão merece os cumprimentos ou quem os merece é seu protetor máximo, o inexplicável José Sarney?
E ao saber que o maranhense teve o desplante de dizer que não ficou constrangido ao ser lembrado que foi citado em delações que ele alega serem caluniosas, você, leitor, não fica envergonhado?
Pois eu fico, já que não consigo aceitar que Edison Lobão, em vez de ficar constrangido, declare que é bom ser investigado para poder demonstrar que está sendo caluniado.
Então por que ele não desfaz essa calúnia antes de ir parar na CCJ?
Se fosse só ele o caluniado, eu ainda poderia tentar engolir, mas acontece que a CCJ tem como membros dez parlamentares alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal.
Ô, leitor, diga, por favor: pode uma Comissão de Constituição e Justiça contar com tantos indiciados e ser presidida por um senador que nem se sente molestado pelos indiciamentos que sofre, a ponto de afirmar que dorme tranquilo, sob a proteção de Deus?
E é essa CCJ, com tantos membros já indiciados, que sabatinará o tucano Alexandre de Moraes em sua indicação para ministro do Supremo Tribunal Federal! Nomeado para o STF depois dessa sabatina que precisava, essa sim, ser severamente sabatinada, Moraes será o revisor dos processos dos membros indiciados na CCJ!
Será que esses fatos não vão constranger os brasileiros?
Outra notícia que a mim me constrangeu: o presidente Temer restringiu a circulação de jornalistas no quarto andar do Palácio do Planalto. Será por quê? Por que será?
Tenho medo que o Brasil entre no tipo de crise que John Reed, o grande jornalista autor de Os Dez Dias Que Abalaram O Mundo, descreveu assim: “Nas relações entre um governo fraco e um povo insatisfeito, chega um momento quando qualquer ato das autoridades exaspera as massas e toda recusa em agir desperta sua fúria”.
É o que nos falta.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 10/2/2017.