É bom tomar bastante cuidado com essas coisas de aprovação – ou desaprovação – popular gigantesca, fantástica, abissal. Às vezes quem tem razão é a ínfima minoria.
Por exemplo: houve momentos no governo Dilma Rousseff em que os lulo-petistas diziam que só 5% dos brasileiros eram contra ela.
(Eu tinha enorme orgulho de pertencer à minoria ínfima, ridícula, e toda semana escrevia um texto compilando reportagens e artigos que demonstravam que o governo Dilma era o horror dos horrores. A minoria ínfima, ridícula, estava certíssima. A História saberá colocar Dilma em seu lugar: o de pior presidente do Brasil em qualquer tipo de medida possível e imaginável.)
Aprovação que beira a unanimidade é coisa perigosa.
Ali por 1938, a aprovação a Adolf Hitler na Alemanha seguramente era altíssima.
A aprovação a Fidel Castro poderia ter beirado uns 101%, se o Granma tivesse encomendado uma pesquisa de opinião pública a alguma instituição qualquer. Como só podia haver instituições oficiais, governamentais, do partido único, tudo ficaria entre eles mesmos: o partido, que era o governo, que era dono do Granma e da eventual instituição que sairia às ruas perguntando a opinião das pessoas.
Kim Jong-un seguramente tem 110% de aprovação.
O companheiro Stálin, esse com certeza teria uns 330% de aprovação – não ouvidos, claro, os milhões que ele mandou para os Gulags ou para as covas rasas. Eu, se fosse russo, georgiano, ucraniano ou de qualquer outra das repúblicas socialistas soviéticas, faria as vezes de dez eleitores diferentes para dar apoio ao Grande Líder, para não ter que ser torturado.
E isso não funciona apenas em regimes autoritários, ditadoriais. Funciona também nas mais perfeitas democracias. Nem sempre a maioria tem razão – e isso faz parte da democracia. Basta lembrar – pegando apenas dois exemplos recentíssimos –Donald Trump e o Brexit. É verdade que Trump não teve a maioria dos votos populares, mas quem sou eu pra discutir com um sistema eleitoral que funciona há mais de dois séculos?
E então repito, e insisto: é bom tomar bastante cuidado com essas coisas de aprovação – ou desaprovação – popular gigantesca, fantástica, abissal. Às vezes quem tem razão é a absoluta minoria.
(Um post do meu amigo Roniwalter Jatobá no Facebook me fez escrever isto aqui. Respeito demais o Roni – prova disso é que às vezes discordo dele.)
16/9/2017
de
Também faço parte dessa minoria do “Fica Temer”, por considerar que ele está fazendo um governo capaz de nos conduzir às eleições de outubro de 2018 sem maiores traumas. Pertenço, igualmente, à minoria insignificante que não louva “Rastros de Ódio”, o cultuado faroeste de John Ford. Acho o filme chatíssimo, com personagens sem credibilidade, lugares-comuns abundantes e cenários manjadíssimos e pouco apropriados para compor o enredo. Quem moraria naquele lugar onde Judas perdeu as botas, com fazendeiros sem rebanhos e sem plantações. E por falar em chatisse, ocorrem-me as figuras de Rosa Weber (como é que essa senhora conseguiu virar ministra do STF?) e do Luis Fernando Barroso.Demais, demais, demais da conta, como se diz em Minas.