Vai melhorar (11). A não ser que Dilma volte

Após apenas três meses do afastamento de Dilma Rousseff, a principal responsável por ter enfiado o Brasil maior crise econômica da sua História, jornalistas da área econômica, economistas, empresários e analistas manifestam dúvidas sobre o governo Michel Temer e sua equipe econômica. A mesma equipe econômica que apenas três meses atrás foi quase unanimemente saudada como o dream team.

Entre os que já há algumas semanas duvidam da capacidade de o governo Temer implementar de fato as medidas de ajuste fiscal estão – como citei em outro texto de hoje mesmo – nomes como Carlos Alberto Sardenberg, Gil Castello Branco, Adriana Fernandes, Rogério Furquim Werneck, Míriam Leitão. Gente digníssima, que não pode de forma alguma ser acusada de pessimista, de torcer pelo pior, de ter simpatia pelo lulo-petismo.

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E no entanto…

* “Índice do BC aponta melhora da economia em junho”, noticiou o Estadão no sábado, 13/8. E, abaixo do título, o olho, a linha fina, informava: “IBC-BR registrou alta de 0,23% na comparação com maio; economistas enxergam sinal de estabilização na atividade econômica.”

* “Ritmo de retração do PIB diminui no segundo trimestre, diz FGV”. Esse título foi publicado também no Estadão de sábado, 13/8. E o olhinho especificava: “Economia brasileira encolheu 0,2% no período, o melhor desempenho desde o quarto trimestre de 2014”.

* “Confiança da indústria na economia tem alta”, dizia título do Estadão nesta quarta, 17/8. E o olhinho afirmava: “Indicador da CNI ficou acima de 50 pontos pela primeira vez em 28 meses, mostrando empresários mais otimistas com a atividade econômica’.

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Pessoas mais exigentes, mais rígidas, mais rigorosas, poderiam contestar o olhinho do segundo item aí acima. Poderiam argumentar que dizer que um encolhimento de 0,2% no trimestre é “o melhor desempenho” é um absurdo. Encolhimento, retração, crescimento negativo, isso nunca bom ser considerado um desempenho “melhor”. No mínimo, no mínimo, seria necessário dizer que foi o desempenho menos pior desde o quarto trimestre de 2014.

Você pode mexer com as palavras. Pode até mexer com números. Mas o fato – noticiado pelos jornais no sábado, dia 13 – é que houve uma melhora. Ou uma diminuição da piora. “O PIB está ali na beirinha de zerar e ficar positivo”, disse à repórter Daniela Amorim, do Estadão, o coordenador do Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas, Claudio Considera. E Claudio Considera não se furta a interpretar os números: “Eu acho que a mudança de governo fez toda a diferença, embora os resultados sejam muito recentes. Acho que está havendo melhora mesmo na confiança do consumidor e um pouco do empresário.”

E sintetizou: “Você tem uma melhora consistente”.

O economista disse com todas as letras o que os números mostram: sem Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, sem PT no governo, as coisas melhoram.

E a melhora é consistente, segundo ele.

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Há bons indícios até mesmo nos números relativos ao emprego – e qualquer pessoa que conheça um pouquinho mais do que a soma de 2 + 2 sabe que o nível de emprego é o último indicador a sofrer alteração, quando uma economia se afunda numa recessão.

“Mercado de trabalho dá sinais de melhora” – este é o título do editorial econômico do Estadão de domingo, 14/8.

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Três meses depois que o novo governo assumiu, os especialistas estão agora cheios de dúvidas. Estão com o pé atrás. Estão céticos – no mínimo, no mínimo, estão cuidadosos.

Melhor assim. Eles ajudam a impedir que se crie um clima falso de imensa expectativa de que depois de amanhã estaremos no melhor dos mundos.

Promessa de que estaremos amanhã no melhor dos mundos é coisa de marqueteiro do PT. É coisa de João Santana e a mais criminosamente  mentirosa campanha eleitoral que já houve neste país ou em qualquer outro, a campanha de Dilma Rousseff em 2014, aquele roubo, aquele estelionato descarado.

O Brasil não precisa disso.

Promessas falsas, ilusões, isso são coisas do PT, da campanha de Dilma – coisas do passado, que, graças ao bom Deus, está morto e enterrado.

A verdade é que – sem milagres, sem ilusões, vendo os fatos e os números de forma realista – as coisas vão melhorar. Pouco a pouco. Devagar. Mas vão melhorar.

Só há um jeito de as coisas piorarem ainda mais, e é um jeito bem simples: basta que no final deste mês 27 senadores votem para reconduzir Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto.

Aí seria o fim do mundo, o armagedom, o juízo final.

Mas essa hipótese é absurda. Ninguém com seriedade e lucidez considera que isso venha a ser possível.

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Abaixo vão um artigo de Míriam Leitão e dois editoriais do Estadão publicados nos últimos dias.

As análises contidas nestes textos são animadoras para todos os brasileiros que esperam um país melhor.

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A animadora prévia do PIB

Editorial, Estadão, 15/8/2016.

Sinais vitais da economia continuam melhorando, embora a atividade continue muito abaixo do ritmo do ano passado e bem distante do observado em 2014, último ano do desastroso primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Dois novos informes animadores – embora insuficientes para indicar o fim da recessão – foram divulgados na sexta-feira passada. O primeiro, de fonte oficial, é considerado no mercado financeiro uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), incompleta, mas suficiente como sinalização de tendência. O índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) subiu 0,23% de maio para junho, depois de ter caído 0,45% no mês anterior. A média do segundo trimestre foi 0,53% inferior à do primeiro, mas a queda havia sido bem maior dos três meses finais de 2015 para os três primeiros de 2016. De janeiro a março deste ano, a atividade foi em média 1,45% menor que a de outubro a dezembro do ano passado. Estes números são da série com ajustes sazonais.

É cedo para abrir champanhe, mas esses dados parecem confirmar uma tendência à estabilização. Só mais tarde se poderá dizer se a economia bateu no fundo do poço ou, ainda melhor, se a recuperação começou. O mero retorno aos padrões anteriores à recessão deverá tomar um bom tempo. No segundo trimestre, o IBC-Br ainda ficou 4,37% abaixo da média de abril a junho do ano passado, na série sem ajuste. Em 12 meses, a queda acumulada bateu em 5,60%. Depois de voltar ao nível de um ano antes, ainda faltará o percurso até o de 2014, quando a queda começou.

O outro informe positivo foi publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em seu Monitor do PIB. Os dados, nesse relatório, são até mais animadores que os do IBC-Br, com crescimento de 0,47% de maio para junho e produção no segundo trimestre 0,2% inferior à do primeiro. Entre abril e junho, a atividade foi 3,5% mais baixa que no período correspondente de 2015. A indústria, embora com produção 3,5% menor que a do segundo trimestre do ano anterior, teve um desempenho melhor que o dos trimestres móveis anteriores, neste ano. Em 12 meses, o PIB, de acordo com os cálculos da FGV, acumulou uma redução de 4,8%, já observada nos períodos de 12 meses até abril e maio.

Divulgado com mais detalhes que os do IBC-Br, o Monitor mostrou dados menos negativos – embora ainda muito ruins – de um componente especialmente importante, o valor investido em máquinas, equipamentos e obras. Nas contas nacionais, esse item aparece como formação bruta de capital fixo. No segundo trimestre, essa variável foi 8,8% menor que entre abril e junho de 2015. O dado de junho ficou 1,2% abaixo do contabilizado um ano antes. São os números menos negativos desse componente desde o início de 2016.

Os números setoriais divulgados até agora pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também mostram alguns sinais positivos – ou menos negativos – na atividade industrial e no investimento produtivo. Por esses dados, a distância até os níveis pré-recessão continua muito ampla, mas indícios de estabilização começam a aparecer.

As contas nacionais do segundo trimestre devem ser publicadas pelo IBGE no fim de agosto. Pelos dados conhecidos até agora, a recessão deve ter continuado no período de abril a junho. Mesmo com alguma reação até o fim do ano, o PIB de 2016 deve ser inferior ao de 2015, segundo as projeções já publicadas. Pelas estimativas coletadas pelo Banco Central no mercado, e divulgadas na semana passada, o PIB deve diminuir 3,23% neste ano. O próprio Banco Central apresentou em julho uma previsão de queda de 3,3%.

A enorme capacidade ociosa da indústria poderá facilitar a retomada do crescimento, a partir de algum impulso inicial. Mas esse impulso dependerá de aumento de confiança de empresários e consumidores. A continuação da retomada só ocorrerá com mais investimento. A senha esperada para o começo da grande mudança é, por enquanto, o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff.

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Primeiros sinais

Por Míriam Leitão, O Globo, 14/8/2016.

Há sinais, mas eles são sutis. É preciso usar a lupa e olhar os números. Juntos, eles revelam uma luz fraca ao longe. É a saída do difícil túnel desta crise econômica. Estamos vivendo uma grande recessão em formato de “U”, na qual o país cai, estabiliza no fundo e aos poucos começa a se recuperar. Seria melhor se o movimento do PIB desenhasse a letra “V”, em que cai, bate e volta.

Mas, olhando com a lupa, dá para ver algumas boas novas. Nas consultas feitas em abril aos analistas do mercado financeiro pelo Banco Central, sobre o PIB do ano que vem, a mediana foi que o país cresceria 0,2%. Agora, quatro meses depois, a previsão é de que o país crescerá 1,1%. É só previsão, pode mudar, mas antes nem isso o país tinha.

A confiança do empresário do comércio estava em 77 pontos em novembro do ano passado e agora está em 87 pontos. A intenção de consumo das famílias, calculada pela Confederação Nacional do Comércio, despencou desde 2014, quando a recessão começou. Foi de 132 para 68 pontos. Mas nas duas últimas coletas parou de cair. Se compararmos o Índice de Vendas de Varejo nos meses de junho, houve queda em 2014 de 1,1%, queda em 2015 de 0,7%. E agora ficou em 0,1% positivo. Não é nada, é zero, mas não é negativo. A indústria caiu durante anos e há quatro meses os números de produção são de alta em comparação com o mês anterior.

É assim, ponto a ponto, que vamos colhendo os sinais de melhora. No mercado financeiro, as mudanças nos números são mais rápidas e fortes porque antecipam o que pode vir a acontecer. Acham que haverá recuperação econômica, reversão de ciclo, saindo de recessão para crescimento, e por isso o dólar caiu 25% desde o ponto mais alto em janeiro. O Ibovespa teve uma alta espetacular de 54% desde o pior momento, em janeiro. Saiu de 37 mil para 58 mil pontos. A expectativa que anima a bolsa é a de que o pior tenha passado.

A inflação cai gota a gota. Mais devagar do que era de se supor. Dias atrás mesmo o IBGE divulgou o IPCA de julho que mostrou alta em relação ao mês anterior. Mas uma quedinha de nada na comparação em 12 meses. Era de 8,84% e foi para 8,74%.

Há explicações pontuais: a inflação ficou alta em julho porque os preços dos alimentos estão de amargar. A grande questão é por que o Brasil é assim. Por que neste país, que está há três anos em recessão, com uma taxa de juros de 14,25% — uma enormidade para uma economia caída — a inflação resiste tanto?

O país que venceu a hiperinflação em batalha árdua precisa voltar a se esforçar para desmontar os mecanismos de indexação e de alta de gasto público para ter taxas de inflação compatíveis com as do mundo. Ainda somos estranhos. Matamos o monstro da hiperinflação e resta matar o monstrinho da inflação alta resistente. Pelo menos, as expectativas são de que a taxa continuará caindo. Em abril, perguntados pelo Banco Central sobre a previsão de inflação para 2017, os economistas do mercado apostavam em 6%. Agora, estão em 5,1%. E para provar que eles acreditam que no longo prazo estaremos todos salvos, para 2018 a previsão é de que o índice ficará cravado no centro da meta. Os preços do atacado de alimentos começou a cair, o que deve aparecer no IGP-10, que pode ter deflação. O problema não é como reverter um problema pontual, mas como ter uma economia que reaja como todas as outras em que, se os juros são altos, a inflação cede.

Esta é a mais complexa das crises que tivemos nas últimas décadas porque aliou a derrota da economia com a aflição na política. Por isso, qualquer previsão que use apenas a lógica econômica será falha, porque da política continuará vindo incerteza.

Hoje o país precisa juntar vários números para construir alguma certeza de que o PIB está caindo menos e começará a se recuperar. Quando encerrarmos este ciclo recessivo, teremos aprendido muito do que não fazer. Governantes terão medo de deixar a inflação subir a dois dígitos. O caminho do descontrole dos gastos, da leniência com a inflação, da repressão dos preços e posterior tarifaço derrubou a economia como se fosse um ippon. E dessa queda a economia começa a dar os primeiros sinais de se levantar.

(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)

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Mercado de trabalho dá sinais de melhora

Editorial econômico, Estadão, 14/8/2016.

Indicadores divulgados há pouco pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) reforçam as perspectivas de um início progressivo de recuperação do ritmo de atividade econômica. O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), que vem crescendo por cinco meses consecutivos, avançou 6,9 pontos em julho, em relação a junho, alcançando 89,1 pontos, o maior nível desde março de 2014. Convém lembrar que, embora a geração de empregos naquele ano tenha sido inferior à dos anos precedentes, ficou próxima de 400 mil novos postos de trabalho com carteira assinada.

“Se a atividade econômica corresponder à expectativa, o emprego vai aumentar”, afirmou o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV. Ele preveniu, contudo, que os índices de desemprego ainda devem aumentar. A taxa está muito alta e não se sabe quando a geração de empregos no futuro será em quantidade suficiente para fazê-la baixar.

Um elemento a considerar é que, além da grande massa daqueles que perderam o emprego, há um grande número de jovens que buscam ingressar no mercado de trabalho. O que se nota, na realidade, é que, durante o período em que o País apresentava taxas de desemprego baixas, muitos jovens postergavam a entrada no mercado para continuar estudando ou por não ter necessidade premente – era o caso daqueles classificados como “nem-nem”, ou seja, aqueles que não trabalhavam nem estudavam. Com a queda da renda das famílias, aumentou consideravelmente o número de jovens que buscam colocação e, quando não a encontram no mercado formal, partem para a informalidade. Alguns se estabelecem por conta própria por meio de microempresas individuais (MEI).

O IAEmp foi puxado pela indústria, pois teve pouca influência das séries extraídas das sondagens dos serviços e do consumidor. Mas houve melhora também sob esse ângulo, como mostra o Indicador Coincidente do Desemprego (ICD), construído a partir de Sondagem do Consumidor sobre a situação presente do mercado de trabalho. O ICD evoluiu 0,8 ponto, ficando em 96,8 pontos.

Na análise do economista da FGV, “as pessoas pararam de esperar uma piora no mercado de trabalho”. Tudo parece indicar que a população está mais consciente de que o País está a caminho de superar uma difícil fase de transição e iniciar a retomada do crescimento.

17/8/2016

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