Vai melhorar. Não há dúvida, é certeza: vai melhorar. Já começam a aparecer os primeiros sinais.
São “vários sinais de melhora nas expectativas”, escreveu Míriam Leitão no Globo na terça, dia 7.
São apenas sinais, por enquanto. As melhoras não são ainda perceptíveis no dia-a-dia das pessoas, e vai demorar para que sejam, porque o buraco em que a incompetência, o voluntarismo, os erros e a corrupção de 13 anos e quatro meses de lulo-petismo enfiaram o país é fundo demais.
Mas o mais importante agora é isto: é a certeza de que vai melhorar.
A não ser, é claro, que no Senado Federal não haja 54 pessoas responsáveis por seus atos, que sejam capazes de votar pelo afastamento definitivo da presidente diretamente responsável pela maior crise econômica da História do Brasil.
Mas tragédia de tamanha dimensão é inimaginável.
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Não se interrompe uma trajetória de queda da noite para o dia. Muito menos se inverte a trajetória de queda para uma de subida para longe do fundo do poço. A recuperação vai ser necessariamente lenta – mas vai vir.
Vai melhorar – porque já se inverteu o rumo das decisões de todo o governo na área econômica. A maldita “nova matriz econômica” gerada por Dilma Rousseff, Guido Mantega e Arno Augustin, que deixou de lado a responsabilidade fiscal, promoveu uma gastança inominável, descontrolou totalmente as contas públicas e levou à recessão prolongada e deixou a taxa de desemprego em espantosos 11% foi inteiramente abandonada.
Essa equipe de técnicos de mais do que reconhecida capacidade, experiência, craques – Henrique Meirelles, Ilan Goldfajn, José Serra, Pedro Parente, Maria Silvia Bastos Marques – já pôde apresentar, em menos de um mês, os rumos que vão definir suas ações.
É tudo o contrário do que Lula, no segundo mandato, e Dilma, em seus 5 anos e 4 meses de horror, fizeram.
É tudo na direção correta.
Em vez de “nova matriz” – agora vale de novo o tripé básico que fez o Brasil viver um período de bonança, premiado com a conquista do grau de investimento dado pelas agências de análise de risco: meta de inflação, equilíbrio das contas públicas e taxa de câmbio flutuante.
Em vez de farra fiscal, pedaladas, contabilidade criativa – responsabilidade. Limite de gastos públicos.
Em vez de complacência com a inflação, de tolerância, de achar que 6,5% é a meta, quando a meta é 4,5% – rigor no combate à inflação.
Em vez de financiamentos do BNDES a obras faraônicas nos países bolivarianos, para a alegria das grandes empreiteiras, em vez de paparicar empresas poderosas, em busca de “campeões nacionais”, como na época da ditadura militar – investimento em empresas de menor porte, e ênfase nas privatizações.
Em vez de concessões envergonhadas, com grandes exigências aos possíveis investidores, restrições ao lucro futuro – privatização com planejamento, com regulamentação claramente definida, com regras que sejam atraentes.
Em vez de focar todo o comércio exterior no Mercosul e em acordos globais via OMC, que deixaram o país fora da realidade nestes últimos 13 anos – uma política sensata, aberta a acordos com países e/ou grupos.
Em vez de submissão da política externa à ideologia partidária pró-bolivarianos e anti-americanos de uma maneira geral – o retorno do Itamaraty aos interesses do Estado brasileiro.
Vai melhorar. Não há dúvida, é certeza: vai melhorar.
É só o país não cometer a insanidade de permitir a volta da insanidade lulo-petista.
“Os cenários começam a ficar mais favoráveis”, escreveu Míriam Leitão.
“O triste é ter que fazer tudo de novo; o reconfortante, digamos assim, é saber que já foi feito uma vez e, pois, pode ser feito de novo”, escreveu no Globo de quinta, dia 9, Carlos Alberto Sardenberg.
Aí vão os dois textos:
Cenário melhor
Por Míriam Leitão, no Globo de 7/6/2016.
Economistas começam a prever uma queda forte dos juros a partir de agosto, diante dos vários sinais de melhora nas expectativas. Bancos e consultorias estão reduzindo a projeção de recessão deste ano e elevando o crescimento de 2017. José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, está prevendo um crescimento para o PIB do ano que vem entre 2% e 2,5%.
No Focus de ontem (6/6, segunda-feira), a previsão de inflação subiu um pouco, pelo efeito dos preços agrícolas. Segundo Mendonça de Barros, é temporário. O mesmo fenômeno que eleva ligeiramente as previsões de inflação, para 7,2%, está por trás da recuperação: subiram fortemente os preços internacionais de açúcar, soja, milho e carnes. Isso eleva a exportação de produtos agrícolas:
—A demanda chinesa voltou a crescer na área de alimentos, porque eles decidiram ampliar as importações. E até carne vermelha, que não faz muito parte dos hábitos dos chineses, eles estão importando um milhão de toneladas.
Mendonça de Barros, cuja consultoria acertou ao prever há muito tempo o cenário de ruptura no governo Dilma, acha que a conjuntura continua sendo de muita incerteza, mas diz que são muitos os sinais de melhora nas expectativas, como a elevação dos indicadores de confiança dos empresários e consumidores. Além disso, as exportações estão subindo em volume. Ele reduziu sua projeção de recessão de 2016, de 4,1% para 3,3%. E elevou o crescimento do ano que vem, para 2% a 2,5%, um dos níveis mais altos do mercado.
Na reunião do Copom que começa hoje (7/6, terça), a última a ser presidida por Alexandre Tombini, as taxas devem permanecer estáveis. Mas Mendonça de Barros acha que até o fim do ano podem cair dois pontos percentuais, e que no ano que vem pode continuar em queda, um ciclo total de cinco pontos de redução até o fim de 2017:
— Tudo depende de que o governo Michel Temer consiga conduzir algumas medidas de ajuste fiscal. Uma das vantagens do momento atual é que o Brasil saiu da situação em que estava, com a economia em queda livre. Depois, começará a recuperação. A nova equipe econômica é sólida.
O economista-chefe para América Latina do Banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho, tem um cenário benigno para a inflação nos próximos meses. Por isso, espera que o BC comece um longo ciclo de cortes nas taxas de juros a partir de agosto. Pela sua projeção, a Selic, hoje em 14,25%, cairia para 13% em dezembro e chegaria a 9% no final de 2017.
— Há uma recessão muito forte, com efeito principalmente sobre a inflação de serviços, o dólar passou a ajudar nos últimos meses, com uma taxa menor do que chegou a ser projetada pelo mercado, e houve um ganho muito forte de credibilidade, com a troca da política econômica. As projeções voltaram a ficar “ancoradas” no longo prazo, e isso é uma grande diferença — explicou.
O economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, tem uma visão mais pessimista sobre o cenário dos preços. Ele ainda enxerga uma resistência muito grande da inflação de serviços, que só começou a cair no início deste ano. Camargo prevê uma inflação na casa de 7,5% a 8% em 2016.
— A alta dos preços da energia e de outros serviços públicos saiu da conta, e a inflação caiu de 11% para 8% este ano. A alta dos juros não derrubou a inflação, apenas impediu que houvesse um contágio dos preços administrados para os preços livres. Se o BC quiser levar a inflação à meta em 2017, está com pouco espaço para cortar a Selic — explicou.
O tom muda, dependendo do economista, mas os cenários começam a ficar mais favoráveis. Só a definição política, contudo, ajudará a consolidar essa nova esperança de melhora na economia.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)
Começar de novo
Por Carlos Alberto Sardenberg, no Globo de 9/6/2016.
A parte animadora da história: Ilan Goldfajn, novo presidente do Banco Central, cravou o compromisso de restabelecer o básico tripé de política econômica, com meta de inflação, equilíbrio das contas públicas e taxa de câmbio flutuante.
A parte triste: o país já havia se beneficiado dessa combinação de estabilidade e crescimento, até que Dilma Rousseff resolveu desmontar o tripé com sua nova matriz.
O Brasil levou 14 anos para sepultar a superinflação e o total caos das finanças públicas. Isso aconteceu desde a introdução do real (1994) e da série de reformas que sustentou a moeda — formando o tripé — até a conquista do grau de investimento, em abril de 2008. A Standard & Poor’s foi a primeira agência a conceder essa nota à economia brasileira, reconhecendo inclusive a maturidade política do país. Isso porque Lula, que se elegera pela oposição a FHC, havia mantido e até aprimorado o tripé no seu primeiro mandato.
Em setembro de 2015, a mesma S&P foi a primeira a retirar a nota e rebaixar o Brasil ao grau especulativo (ou junk, como dizem no mercado internacional). Lula começou o desmonte no seu segundo mandato, mas foi Dilma quem se dedicou meticulosamente à destruição das bases da estabilidade. Em menos de cinco anos, conseguiu botar abaixo um edifício que levara 14 anos para ficar mais ou menos pronto.
Assim, lá vamos nós de novo. As duas tarefas principais são as mesmas de 22 anos atrás: eliminar o déficit das contas públicas e voltar ao superávit primário para equilibrar e depois reduzir a dívida pública; e colocar a inflação na meta, agora de 4,5% ao ano. A terceira parte é garantir a taxa de câmbio (a cotação do dólar) mais flutuante do que manipulada pelo Banco Central.
A grande vantagem em relação ao passado recente é que agora já temos a moeda. Embora maltratado, o real está aí, pode ser reequilibrado, o que afasta a necessidade de uma complicada reforma monetária. Lembram-se da URV e da complexa troca do papel moeda?
Pois é, disso não se precisa mais. Aliás, convém reparar: isso prova a força da construção anterior.
Outra vantagem é que o conjunto de regras de estabilidade fiscal também já está montado. Essas normas foram desrespeitadas na gestão Dilma — com as pedaladas e a contabilidade criativa ou simplesmente mentirosa —, mas continuam vigentes. É preciso aperfeiçoá-las e garantir que não possam ser dribladas.
Para isso servirá a proposta já anunciada pela equipe econômica de estabelecer um teto para o gasto público: o valor do ano anterior mais a inflação. Em termos reais, o que importa, a despesa total ficará congelada.
O presidente Michel Temer disse que a proposta vai ao Congresso na semana que vem. Será importante passo — a depender, como todos os outros, do ambiente político.
A óbvia crise institucional pode atrapalhar e bloquear a política econômica. Isso todos sabemos. Mas também é verdade que um bom andamento na economia pode ajudar o governo a passar pelos impasses da política partidária.
Daí a importância das medidas que o Executivo pode tomar sem passar pelo Congresso. Além das mais óbvias — ações da Fazenda para controlar as contas e do BC para apontar a inflação para a meta —, o que mais ajudaria seria um bom programa privatizações e concessões.
Com o governo quebrado, a única possibilidade de turbinar investimentos está no setor privado. A parte do governo nessa história será preparar vendas e licitações competitivas e atraentes para o capital nacional e estrangeiro.
Aliás, isso também já foi feito, no final dos anos 90 e início dos 2000. De novo aqui, é começar de novo.
Moral da história: o triste é ter que fazer tudo de novo; o reconfortante, digamos assim, é saber que já foi feito uma vez e, pois, pode ser feito de novo.
9/6/2016
Apocalypse Now !!
Poeta Sérgio Vaz
..
A VIDA É LOKA
Esses dias tinha um moleque na quebrada
com uma arma de quase 400 páginas na mão.
Uma minas cheirando prosa, uns acendendo poesia.
Um cara sem nike no pé indo para o trampo com o zóio vermelho de tanto ler no ônibus.
Uns tiozinho e umas tiazinha no sarau enchendo a cara de poemas. Depois saíram vomitando versos na calçada.
O tráfico de informação não para,
uns estão saindo algemado aos diplomas depois de experimentarem umas pílulas de sabedoria.
As famílias, coniventes, estão em êxtase.
Esses vidas mansas estão esvaziando as cadeias e desempregando os Datenas.
A Vida não é mesmo loka?
Sergio Vaz
*Do livro “Flores de Alvenaria” Global Editora