A coisa foi nacional – ampla, geral e irrestrita: o Brasil rejeitou o PT nestas eleições municipais. Depois de 13 anos de lulo-petismo na Presidência da República, 4 eleições presidenciais consecutivas vencidas, um universo de corrupção e o país enfiado na maior crise econômica da História, o PT sai deste primeiro turno de 2016 como o décimo partido em número de prefeitos eleitos.
Em 2012, elegeu prefeitos em 619 municípios. Foi o terceiro partido com mais prefeitos. Agora, venceu em 235. Caiu do terceiro para o décimo lugar.
Nos primeiros momentos da apuração, colecionei alguns números. Eis as percentagens de votos obtidas pelos candidatos do PT em capitais cidades importantes que finalizaram a apuração ou chegaram bem perto disso até as 20h30 do domingo:
Rio de Janeiro (PCdoB coligado ao PT, com Dilma e Lula no palanque) – 3,34%
Belém – 1,71%
Vitória – 3,4%
Curitiba – 4,28%
João Pessoa – 4,43%
Campo Grande – 1,98%
Londrina (PR) – 1,75%
Palmas – 3,71%
Maceió – 2,43%
Boa Vista – 3,83%
Goiânia – 6,8%
São Caetano do Sul (ABC Paulista) – 0,96%
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Mas o partido do mensalão, do petrolão e da recessão não foi ainda inteiramente jogado na lata de lixo da História. Teve votações superiores a dois dígitos em algumas cidades importantes:
Recife – 23,7% – Vai para o segundo turno!
Natal – 10,1%.
Porto Alegre – 16,37%
Fortaleza – 15,01%
Manaus – 10,99%
São Paulo – 16,70%
Sobrevive, ainda, o partido do mensalão, do petrolão e da recessão.
Mas menor, muitíssimo menor.
Então, a coisa é nacional, ampla, geral e irrestrita.
Como bem resumiu @edmilsonpapo10 no Twitter: “Lula viajou para o Recife, Natal, Fortaleza, São Paulo e Rio. Todos os candidatos que ele apoiou perderam. Até seu filho perdeu para vereador.”
Mas, para mim, o que mais pega, o que mais fala, é o que está aqui bem perto de mim.
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Ali na Baixada Santista, onde a OAS reformou o tríplex para a família Lula da Silva, o PT não elegeu ninguém. Foi assim, segundo conta meu amigo Elói Gertel:
Santos – O prefeito do PSDB, reeleito com 77,74% dos votos.
Praia Grande – o candidato do PSDB foi eleito com 76,03% dos votos.
Itanhaém – O candidato do PSDB foi eleito com 76,02% dos votos.
Bertioga – O candidato do PSDB foi eleito com 63,41% dos votos.
São Vicente: – O candidato do PMDB foi eleito com 50,43% dos votos.
Cubatão – O candidato do PSDB foi eleito com 41,53% dos votos.
Mongaguá – O candidato do PSDB foi eleito com 38,41% dos votos.
Peruíbe – O candidato do PSDB foi eleito com 28,50% dos votos.
Guarujá – Na única cidade da Baixada que terá segundo turno, disputarão a candidata do PPS e o do PSB.
No ABC, o lugar em que o PT nasceu, e nas duas maiores cidades da Grande São Paulo depois da capital e das do próprio ABC, o PT também se ferrou.
Em Diadema, ficou em terceiro.
Em Guarulhos, ficou em terceiro.
Em Osasco, ficou em quinto.
Em São Bernardo do Campo, a cidade em que Lula mora, a cidade em que fez a carreira sindical, a cidade em que o prefeito é Luiz Marinho, o cara da CUT, o PT ficou em terceiro!
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E aí tem São Paulo, a capital, a cidade que, quando tinha 18 anos, nenhum tostão no bolso e um bando de sonhos e esperanças, escolhi para viver.
O amor que a gente tem pela cidade que a gente escolhe é um pouco diferente do que sente a pessoa que já nasceu ali. Para quem já nasceu ali é um tanto obrigatório gostar. Para quem escolhe, acho que o amor é maior, mais cheio.
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Dá para imaginar o que passou o povo mais ligado à campanha de Fernando Nuliddad, nas últimas horas? Pouco depois das 18 horas do sábado, dia 1º/9, véspera do dia da eleição, sai o Datafolha, dando que Haddad tinha pulado de 13 para 16 pontos, enquanto Marta Suplicy caía de 17 para 14 e Celso Russomano despencava de 26 para 16 pontos.
Meu, o Datafolha assegurava que Nuliddad passaria para o segundo turno!
Era a grande esperança vermelha!
Haveria o chamamento geral: povos lulo-petistas de todo o país, uni-vos em São Paulo! Estamos vivos na maior cidade do país! Não nos renderemos! No pasarán!
Menos de 24 horas depois, às 17h01 do domingo, vem o resultado da pesquisa boca de urna do Ibope, ratificando o que o Datafolha havia anunciado: Dória, 48%, Nuliddad, 20%, Russomano, 14%, Marta, míseros 11%.
O povo do Nuliddad deve ter entrado em alfa, em ômega, em absoluto êxtase – para, míseras duas horas depois, ver que os números da realidade são diferentes dos números dos institutos de pesquisa. Poucas vezes na vida esse pessoal terá experimentado tamanha reversão de expectativa.
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Comigo aconteceu o contrário.
Tinha confiança em que Nuliddad não iria para o segundo turno, de jeito algum. Tinha certeza – talvez baseada, em boa parte, na esperança, na torcida.
O anúncio dos números da boca de urna do Ibope me deixou triste, desacorçoado, desanimado.
Quando os números reais, do TRE, foram dando João Dória com 52%, 53%, fui botando cada vez mais o pé atrás: não, não, ele vai cair nos próximos minutos, me dizia.
Quando enfim terminou de vez a apuração, tive uma explosão de alegria.
Não porque ganhou João Dória, o candidato do meu partido, apesar de ser um arrivista. Não era o meu candidato. O meu candidato era Andrea Matarazzo, tucano histórico, e este sim, extremamente bem preparado, o melhor candidato de todos.
Dória foi o candidato do governador Geraldo Alckmin, figura menor, por quem tenho desprezo. (Como não desprezar o sujeito que jogou fora a herança bendita de FHC comparecendo a um debate de TV usando jaqueta com os logotipos de todas as principais estatais do país?)
E no entanto não pude me impedir de ter uma explosão de alegria.
A cidade que escolhi para viver, a cidade que é como o mundo todo, chutou Fernando Nuliddad para a lata de lixo da História.
O Estado que escolhi para viver chutou o PT para escanteio. Para fora do jogo.
Vade retro, Petenás.
2/10/2016
O gráfico mostra o número de prefeitos eleitos pelos principais partidos em 2012 e agora em 2016. Não tenho condições de dar o crédito ao autor porque peguei no Facebook, reproduzido por alguém que não anotou de onde retirou.
O PT foi derrotado nas urnas. O LULISMO derrotado e renegado. As derrotas impostas aos tucanos durante 14 anos fizeram uma cultura de ódio que traz felicidade da pauliceia. São Paulo não decepciona em termos de decepção.
Contra Haddad elegeram Dória candidato de Alkimim, voto útil em Martarrazzo. Que fazer?
Vejam só: Em São Paulo, quase 40% dos eleitores não votaram para prefeito, somando brancos, nulos e abstenções. Isso diz muita coisa, não? Foram quase 2 milhões de abstenções em SP. Somando esse número aos brancos e nulos, são 3.096.186 de pessoas que simplesmente não votaram em NINGUÉM! Dória ganhou com 3.085.181 votos.
O ódio ao PT e ao Lula cega àqueles que amam verdadeiramente a maior cidade da América do Sul. O ódio ao PT derrotou Haddad.
No Rio a candidata Jandira pagou caro sua ousadia em ser valente, leal e coerente. Menos raivosos, mais inteligentes proporcionaram ao Rio uma oportunidade e sepultaram o lulopetismo.
Quando se sentir desamparado lembre-se do paulistano que tem Temer como presidente, Alkimim governador e agora Dória prefeito.
Paulistano. Recebam todo o nosso carinho e a nossa força. Estamos juntos nessa dor e nessa luta.
Muito bom. Agora podem mandar todos os petistas e seus simpatizantes – menos o nosso Miltinho – para o Acre. Em seguida eu e o Sérgio Vaz vamos soprar no ouvido do Bolsonaro a sugestão de iniciar um movimento de devolução do Acre para a Bolívia. Nem precisa de indenização. A entrega seria feita nos mesmos moldes daquela doação da refinaria da Petrobrás feita pelo Lula. Só de ver esse pessoal com medo do castigo que é ser governado pelo lhama de franja cocalero já seria vingança suficente. Pelo menos suficiente para aplacar o meu ódio a esses ladrões do dinheiro público que falta nos hospitais, na segurança e na educação. Ódio ao roubo bilionário que prejudica principalmente os mais pobres, os mais desassistidos, ironicamente os objetos da propaganda mentirosa dessa quadrilha. Que me perdoem os amigos Acrianos, mas não deu para perder a piada politicamente incorreta quando me lembrei que o Acre era boliviano, mas não bolivariano, antes de ser comprado por Rio Branco. Não se preocupem, na hora H a gente vota contra, pois nem eu nem o Sérgio Vaz gostamos das ideías do Bolsonaro.
Agradeço a distinção, afinal eu, Luiz Carlos e Sérgio Vaz um dia votamos no Lula.
Que nos perdoem acreanos, bolivianos Rio Branco não sabia o que fazia.
A proximidade a Bolsonaro é tanta que dá para soprar ideias reacionárias ao ouvido, inda bem que votam contra ao final, coisas da traição premiada.
FORA TEMER!
Haddad, meu querido, aconteceu de você ter amado demais a cidade que ama demais o dinheiro, e consequentemente um de seus símbolos mais antiquados e agressivos: o automóvel.
Não conheci em meu tempo de vida um prefeito que tão elegantemente propôs uma nova ideia de civilidade e que em tão pouco tempo conseguiu mostrar que na selva do cada-um-por-si existia a possibilidade linda de se olhar para o lado e ver o outro, dividir com o outro a cidade, que é e deveria ser de todo mundo.
Talvez São Paulo, lugar que amo tanto, precise de mais alguns anos até entender completamente o que foi Haddad. Talvez o ódio deixe as coisas turvas demais.
Mas o que diferencia a civilização da barbárie é que mesmo triste por São Paulo, ainda assim respeito a soberania das urnas. Mesmo achando Dória o retrato mais constrangedor da alma paulistana, o seu lado mais cafona, arrogante e mesquinho, eu reconheço Dória como prefeito eleito e defendo seu direito pleno de exercer a sua função. Sem rancor. Sem golpe.
Haddad, não foi por você, você sabe. Não foi por você.