Para sair do buraco

Possivelmente a crise econômica bateu no fundo do poço. Há sinais de discretas melhoras, ou de que as coisas pararam de piorar. Os indicativos são de aumento da confiança de empresários e consumidores, de desaceleração das demissões, embora o desemprego continue altíssimo e seja o grande tormento dos brasileiros. As previsões sobre o desempenho da economia para este ano e para 2017 estão sendo revistas para melhor. Ou menos ruim.

A leve mudança do cenário não deve alimentar leituras cor-de-rosa. O país não sairá do buraco, no qual submergiu em decorrência do desarranjo da economia promovido pelo governo Dilma Rousseff, apenas pela força da inércia. Por aí, o PIB brasileiro terá sempre vôos de galinha.

Para dar o salto na direção do crescimento sustentado, o Brasil terá de passar por um novo momento de modernização de sua economia por meio de um amplo programa de privatizações e da definição de novos marcos regulatórios em diversas áreas hoje engessadas.

Em última análise, trata-se de retomar o eixo perdido na segunda metade do primeiro mandato de Lula, quando se adotou um modelo “nacional-desenvolvimentista” equivocado e tardio. Também não teve continuidade a política iniciada, com sucesso, no governo FHC.

A primeira vaga de privatizações e concessões trouxe enorme ganhos para o país, permitiu a modernização das telecomunicações, deu competitividade à Petrobrás e estabeleceu regulamentos para dar segurança aos investidores.

O fim da “bolha das commodities” levou ao esgotamento do modelo pautado no protagonismo estatal, cuja consequência nós todos sabemos: estagnação, desindustrialização, fuga dos investidores, inflação e desemprego.

O desafio da equipe econômica do governo Michel Temer é estabelecer as bases para um modelo em que o grande protagonista seja a iniciativa privada, como acontece nas economias desenvolvidas. Só assim serão gerados os milhões e milhões de empregos de que os brasileiros necessitam.

A nova vaga de privatizações e concessões não é uma imposição apenas da necessidade do Estado fazer caixa para reduzir a dívida pública, mas também da própria retomada do crescimento. O Estado não é mais o “motor do desenvolvimento”. Não tem mais sentido, portanto, manter em suas mãos atividades que podem ser tocadas pela iniciativa privada.

E mesmo aquilo que deve ficar nas mãos do Estado por ter uma função social ou econômica, não pode ser reserva de mercado, tem de ser submetido à concorrência para não se acomodar.

Temos um bom exemplo: quando a Lei 9.478, de agosto de 1997, quebrou o monopólio do petróleo foi um Deus nos acuda, tal a vociferação dos estatistas. Uma década depois havia amplo consenso quanto aos seus efeitos benéficos: fortalecimento da Petrobrás, geração de empregos e de receitas para o Estado. Se assim foi, qual a razão de se manter o monopólio dos Correios, por exemplo?

Algumas condições são básicas para a atração dos investidores. A primeira delas, e aparentemente óbvia, é a estabilidade econômica, pois ninguém vai investir em um país de inflação alta, de contas públicas desajustadas. A segunda é a existência de um ambiente favorável aos negócios, com regulamentação clara, tanto para dar segurança jurídica aos investidores como para proteger os consumidores.

As agências reguladoras foram pensadas com este fim. Eram instituições do Estado e não do governo do momento. Um dos maiores crimes do lulo-petismo – e Dilma tem muita culpa nisso – foi o esvaziamento das agências, seu sucateamento e loteamento político. O sucesso de um novo programa de privatização passa também pelo resgate das agências reguladoras.

São imensas as possibilidades de o país atrair grandes investidores, particularmente na cadeia de óleo e gás, em que os investimentos podem chegar a US$ 30 bilhões por ano e gerar 1 milhão de empregos até 2030.

Mas aí voltamos ao início. Isto não acontecerá por osmose. É preciso quebrar as amarras, alterar o marco legal do pré-sal, uma camisa de força ideológica criada no governo Lula.

O Brasil não está condenado a ficar no buraco. Tem todas as condições para sair dele. A conferir se Temer será o homem para puxá-lo das profundezas.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 6/7/2016. 

9 Comentários para “Para sair do buraco”

  1. O país precisa de nova etapa de modernização da economia a conferir se Temer será o homem para puxá-lo das profundezas.

    Reunido na CNI (Confederação Nacional da Indústria), o presidente escutou de Robson Braga de Andrade, afirmou que o governo deve promover “medidas muito duras” na Previdência Social e nas leis trabalhistas para equilibrar as contas públicas.

    Ele citou como exemplo o caso da França e afirmou que lá é permitido trabalhar até 80 horas por semana.
    Nós aqui no Brasil temos 44 horas de trabalho semanais. As centrais sindicais tentam passar esse número para 40. A França, que tem 36 horas, passou agora para 80, a possibilidade de até 80 horas de trabalho semanal [na verdade, são 60 horas] e até 12 horas diárias de trabalho.

  2. Sempre existiram egoístas exagerados, a diferença é que antes, “as pessoas tinham vergonha de ser publicamente egoístas, porque havia uma pressão cultural. Hoje, elas têm orgulho. Depois que passar a vergonha do Temer, vai continuar esse orgulho e ele vai continuar enquanto esse modelo civilizatório prevalecer”.

  3. Imagine um mundo onde não haja SUS, as pessoas tenham que trabalhar 11 horas por dia, sete dias por semana (as tais 80 horas), e que só possam se aposentar aos 75 anos de idade, independente de terem começado a trabalhar aos 14.
    Imaginou?
    Pois, o Temer imaginou!!!

  4. A vida se resume a economia e na força da grana que ergue e destrói coisas belas.

  5. Miltinho, da imprensa toda, que colocou na boca do Edson Braga, presidente da CNI, essas afirmações que você está atribuindo ao Temer?

  6. Sobre quem vai puxar o Brasil das profundezas onde Dilma nos levou, Miltinho, o importante é que a simples saída da “estarrecida” já serviu para frear o naufrágio. Portanto, desista dessa mania petista de passar Temer no moedor de reputações, como o PT faz com todos os adversários, aliás. Esse truque velho agora só faz efeito com a militância, cada vez mais diminuta. Sorte que muitos integrantes do partido vão poder aproveitar o tempo ocioso na cadeia para aprender novos truques sujos. Estão atacando Temer como se houvesse uma grande confiança da população nele, ou como se ele fosse uma escolha da oposição. Imaginam certamente que, se Temer errar, vão poder dizer “tá vendo, eu não disse?”. Ora, Temer no poder não é opção de ninguém, é prescrição constitucional. Dentro das regras da democracia, ele é o substituto de Dilma e qualquer solução fora do que prescreve a legislação seria golpe. Todos temos que tolerar o vice eleito pelos petistas, porque isso aqui não é Cuba. Lá, a Constituição é a vontade de Fidel e ele pode simplesmente nomear o irmão para a Presidência e botar na cadeia quem não gostar. Felizmente, nossa democracia já está madura o suficiente para, depois do tremendo desastre que foi a administração petista, seguirmos a Constituição e aceitarmos a posse do vice eleito pelo mesmo PT. Por outro lado, não é difícil perceber que Temer teria que caprichar muito, mas muito mesmo, para ser pior do que aquela mulher que, por falta de vocabulário, vivia ficando estarrecida nos debates eleitorais. Ou seja: depois de toda corrupção e incompetência do PT e de Dilma, o que vier é lucro.

  7. “É preciso responder aos problemas sociais. A lógica da responsabilidade nos chama à ação.
    A lógica da culpabilidade apenas aponta o culpado.
    E apontar culpados não resolve nada”

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