Em memória de Umberto Eco, vamos lembrar aqui uma reflexão recente do mestre da semiótica que, em seus estudos, como o marcante “Apocalípticos e Integrados”, deu um verniz de nobreza às manifestações da cultura de massas, como as histórias em quadrinhos ou o cinema.
Numa cerimônia realizada em 2015 na Universidade de Turim, onde ensinava, Eco foi impiedoso com as consequências do uso indiscriminado das mídias sociais para discussões supostamente edificantes:
“As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel”.
Esta semana tivemos o exemplo mais sólido do que pode acontecer quando a miséria intelectual do debate político brasileiro se mistura ao direito de fala concedido aos milhões de imbecis. Só podia dar no que deu: um espetáculo de degradação e desinformação de fazer corar, como se dizia antigamente, um frade de pedra.
Vamos passar por cima e desconsiderar, para efeitos de discussão do uso desqualificado das redes sociais, dos mexericos da Candinha que envolveram a vida privada de políticos de relevo, com discussão sórdida de detalhes que só interessam aos envolvidos e que não trouxeram a mínima evidência do uso de dinheiro público.
Baixarias à parte, houve um outro tema que não envolvia alcova, mas que demonstra, de maneira chocante, a superficialidade e a desinformação que pautam grande parte da opinião pública assim dita “engajada” numa guerra de palavras de ordem e slogans sem pé nem cabeça em torno de um assunto de grande interesse para o País: a exploração dos campos de petróleo das províncias do pré-sal, que os dois últimos presidentes chamaram de “bilhete premiado”.
Até as rochas submersas sabem que os governos petistas se agarraram a essa descoberta como se ela fosse a lâmpada de Aladim da redenção nacional. Fizeram de tudo com o pré-sal: tiraram fotos com as mãos sujas de óleo (ah, se fosse só de óleo…), gastaram por conta, resolveram os problema de educação até o fim dos tempos, e só não dançaram fantasiados de barril de petróleo na Praça dos Três Poderes porque Shigeaki Ueki, o “japonesinho do Geisel”, já tinha prometido fazer isso antes.
No meio dessa euforia, o governo criou um marco regulatório substituindo o sistema de concessão pelo de partilha, e sacou da algibeira uma decisão insensata, que foi a de OBRIGAR a Petrobrás a comandar a operação de todos os campos, com uma participação mínima de 30%.
A Petrobrás, que atualmente deve 5 vezes mais do que vale, não tem, neste momento, condições de cumprir a OBRIGAÇÃO. Portanto, sem dinheiro para cumprir o que manda a lei, a Petrobrás não pode licitar campos porque não tem dinheiro para investir neles. Obviamente, a exploração dos campos, prejudicada além de tudo pela queda brutal dos preços do óleo cru, diminuiu de ritmo.
O projeto de lei de José Serra, aprovado no Senado, OBRIGA a Petrobras a ceder os campos? Não, ele só a DESOBRIGA de participar e comandar a operação de todos e com um mínimo OBRIGATÓRIO de 30%. Se União acha que a empresa tem condições de entrar com 30%, tudo bem. A decisão é da União. A lei aprovada pelo Senado não prejudica em nada a Petrobras. Pelo contrário: lhe dá mais alternativas para uma escolha racional, que mais interesse à empresa naquele momento.
As redes sociais, povoadas de imbecis ideológicos, desenterrou dos seus baús de memórias afetivas slogans velhos e bichados como “entreguistas” e condenou a união de bárbaros pela “entrega” do pré-sal aos “agentes do imperialismo”.
Pode haver coisa mais enferrujada do que essa? Os “patriotas” do arco da velha preferem ficar sem petróleo nenhum do que abrir mão de seus mitos ideológicos.
Não existe maneira mais fácil de identificar os imbecis de Umberto Eco.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 26/2/2016.
Sou assumidamente um imbecil. Mas não pauto minhas opiniões nas “redes sociais” e tão pouco na opinião de jornalistas candidatos a nomes de ruas.
O texto do Vaia e indica a reflexão. Seria o pré sal nossa salvação? Tirando o ufanismo de Lula que vai do biodiesel ao petróleo com uma convicção de prostituta até a visão privatizadora e entreguista de Serra chego a uma imbecil conclusão: O preço do barril de petróleo é o fiel da balança que pende à direita ou à esquerda sem se importar com o futuro do planeta. A responsabilidade com o futuro é sempre retórica hipocrisia, de imediato a retórica demagógica é que importa. Os IMBECIS disputam o poder enchendo e esvaziando pixulecos e trocando insultos pelas redes sociais insuflados pela mídia golpista sempre pronta a servir interesses
contrários à formação do capital social.
Vender o petróleo do pré sal vi atender aos interesses imediatistas, vai continuar patrocinando a corrupção, gerando lucros, luta pelo poder, num país cheio de sol, de fonte de energia renovável, limpa e cada vez mais acessível.
Lamento que minha imbecilidade se restrinja à mesa de bar. Nunca ganharei uma premiação Nobel.
Também sou imbecil, mas contextualizo minhas imbecilidades. Aí vai:
– A Constituição traz em si o ADCT, que permitiu ao País, em certos momentos, adiar alguns procedimentos e transições; tal poderia, também, ser feito com respeito ao petróleo, SEM LEI ENTREGUISTA;
– O Sr. Vaia insiste em citar uma Petrobrás hiperenfraquecida pouco capaz. Relega a segundo plano a redução brutal dos preços do óleo bruto, sem citar que isto é uma jogada geopolítica para quebrar Irã, Venezuela e outros países enjoados.
Que tal deixar os preços do barril petrolífero voltarem a níveis decentes? Aí a Petrobras volta ao seu plano de investimentos, e mesmo paga dívidas!
– A Petrobras foi criada com capital e esforço brasileiros. O Serra convida as empresas “7 Irmãs”, mesmo em crise, a participar do Pré-Sal, que é um esforço predominantemente brasileiro, e cujos ganhos deveriam ser brasileiros.
O Sr. Vaia segue a tradição do “50anosdetextos”: vivendo num “conto-de-fadas”, onde ninguém faz DUMPING, TRAPAÇAS FINANCEIRAS, GUERRAS POR PETRÓLEO etc.
Posso ser imbecil, mas não vivo num mundo cor-de-rosa.