O martírio do Padre Hamel

O crime bárbaro, cruel como todos os crimes, que tirou a vida do padre Jacques Hamel na Igreja de Saint-Étienne-du-Rouvray, na Normandia, foi ainda mais chocante pela figura da vítima que morreu tal como o padroeiro de sua igreja, martirizado por sua fé, na terça-feira, 26 de julho de 2016.

Vítima de monstros piores do que os piores monstros.

Senti uma dor profunda ao ler sobre a morte do padre Hamel. Ao olhar suas poucas fotos, ele não era um padre midiático, era um padre devotado ao seu ofício, isso sim, o que percebemos é uma expressão da mais profunda paz interior. Um homem bom, um homem que se dedicou aos outros a vida toda.

Santo Estêvão (Saint Étienne) morreu lapidado em 36 D.C. Foi o primeiro mártir da Cristandade. Como eu gostaria de saber que padre Hamel foi o último!

Mas, como disse o papa Francisco em voo para Cracóvia, onde vai participar de uma nova Jornada da Juventude, o mundo está em guerra. Segundo ele, não é uma guerra religiosa, mas sim por dinheiro e poder.

Concordo com o papa. É uma guerra sim, uma guerra imunda e covarde, como todas as outras, aliás.

Passaram-se dois mil anos desde o martírio de Santo Estêvão e o Homem se vangloria da civilização em que vive.

Civilização? Que civilização?

O que faz o governo francês que não toma uma atitude drástica contra os fundamentalistas islâmicos que se valem de tudo que a França lhes oferece de bom, mas que a odeiam a ponto de degolar um padre de 86 anos que não lhes fazia mal algum, só lhes dava conforto espiritual e auxílio quando necessário?

No Libération, no dia de sua morte, li muitos comentários de pessoas comovidas com o sofrimento do padre que os batizou ou aos seus filhos, que casou seus pais, que dava assistência aos muçulmanos que habitam a pequena cidade, espalhados que estão por toda a França. País onde têm escola de primeira linha, saúde de qualidade e gratuita, onde, para os que querem, há trabalho e moradia, mesquitas para orar livremente, mas ao qual retribuem com atentados e matanças inacreditavelmente violentos.

O padre foi assassinado em plena missa das 10 horas por dois muçulmanos, um dos quais recém-saído da cadeia e que usava uma tornozeleira eletrônica. Ele só podia sair de casa entre 8h30 e 12h30, horário que o desgraçado cumpriu… Além de obrigar o padre a se ajoelhar, ele e seu comparsa pregaram em árabe diante de sua vítima e depois o degolaram.

Quando, há poucos meses, perguntaram ao padre Hamel por que ele não se aposentava, idoso como era, ele respondeu:

— Já viu um padre se aposentar? Vou trabalhar até meu último suspiro.

E foi o que fez. Foi diante do altar onde cumpria seu ofício e rezava a missa do dia que Jacques Hamel foi degolado pelos infelizes do ISIS. Foi diante do altar que ele deu seu último suspiro.

Sem saber o que dizer diante de tanta brutalidade fui buscar na poesia de T.S.Eliot, em sua magistral peça teatral Murder In The Cathedral, cujo tema é o martírio do Arcebispo Thomas Becket em 29 de dezembro de 1170, na catedral de Canterbury, os versos a seguir:

A morte tem cem mãos e anda em mil caminhos.
Pode passar à vista de todos, chegar sem ser vista nem ouvida.
Chegar como um sussurro no ouvido, ou um choque súbito na nuca.

E foi assim que a morte chegou para Jacques Hamel, padre há 58 anos, logo após a celebração da Eucaristia na Igreja de Saint-Étienne-du Rouvray.

Este artigo foi originalmente no Blog do Noblat, em 29/7/2016. 

 

2 Comentários para “O martírio do Padre Hamel”

  1. EM NOME DO PAI,
    algumas pessoas passam o dia de joelhos,
    mas não estendem a mão para um amigo
    Não leem cartas de amor nem poemas
    somente o que o demônio escreve.
    DO FILHO,
    exaltam sua humildade,
    porém com extrema arrogância
    carregam sua cruz,
    mas não o libertam.
    DO ESPÍRITO,
    querem uma vaga no céu
    sem jogar água no inferno
    com martelo na mão
    pregam na carne
    o aço da palavra.
    SANTO,
    devia ser toda pessoa
    que pratica e acredita naquilo que fala.
    E que o diabo carregue
    toda religião
    que não respeita
    a fé alheia.
    AMÉM.
    sergio vaz
    Do livro ‪#‎floresdealvenaria‬ Global Editora

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