O ministro da Saúde da República Federativa do Brasil administra um orçamento maior do que o Produto Interno Bruto da Nicarágua, do Haiti, de Honduras, do Paraguai, da Bolívia, de El Salvador, do Panamá.
A soma de todas as riquezas produzidas ao longo de um ano no Panamá – incluindo, claro, tudo o que os navios do mundo inteiro pagam para atravessar o canal e passar do Pacífico para o Atlântico e do Atlântico para o Pacífico – é menor do que a soma total de dinheiro que o ministro da Saúde brasileiro tem para gastar.
O Ministério da Saúde tem um exército de 140 mil funcionários. É o equivalente a toda a população de São Caetano do Sul, ou de Bragança Paulista, ou de Pindamonhangaba, ou de Itu.
É gente demais. É um orçamento grande demais.
Para administrar esse latifúndio – e que latifúndio! Os Severinos de João Cabral jamais poderiam imaginar que existe no mundo um latifúndio destes –, seria preciso um super executivo, um administrador muito bem formado na teoria e com vasta experiência prática. Um sujeito que poderia perfeitamente se candidatar a CEO de uma empresa gigantesca, uma multinacional poderosa.
Certo?
Marcelo Castro formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Piauí e doutorou-se em Psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Além da experiência no Legislativo, tanto na Assembléia do Piauí como na Câmara dos Deputados, seu currículo inclui um período como presidente do Instituto de Assistência e Previdência do Estado do Piauí e também como secretário de Agricultura no governo Mão Santa, em seu Estado natal.
Deputado federal pelo PMDB, o partido que é o maior aliado do PT no governo (ao mesmo tempo em que divide com o PT o posto de principal partido de oposição ao mesmo governo), Marcelo Castro está há menos de 4 meses no cargo de ministro da Saúde de Dilma Rousseff, onde foi colocado não por suas qualidades como gestor, e sim como parte das barganhas políticas com os partidos da base aliada que são o jeito lulo-petista de governar o país.
Em suma: foi colocado no cargo para garantir a continuidade do apoio do PMDB ao governo.
Quiseram os deuses, o fado, o destino, as coincidências, o esperado e o inesperado da História que Marcelo Castro estivesse no posto de ministro da Saúde exatamente no momento em que o país vive uma crise absoluta, geral – econômica, administrativa, política, moral – e uma crise específica na área de saúde pública como não se tem notícia em nenhum outro momento da história.
Exatamente quando os jornais dão notícias assim:
* Os casos de microcefalia relacionados ao vírus zika já passam de 4 mil. A cada semana, surgem 200 novos casos suspeitos.
* O Rio de Janeiro tem 158 casos novos de dengue por dia. O número aumentou quase 100% em uma semana. Este ano, já são 3.954.
* A epidemia de zika no Brasil ganha destaque na imprensa internacional, quando faltam apenas seis meses para os Jogos Olímpicos do Rio.
* “Fique longe do Rio se estiver grávida”, diz o título de reportagem do The Independent de Londres na terça-feira, dia 26.
* O Comitê Olímpico Internacional (COI) passou a fazer consultas sistemáticas ao Comitê Rio-2016 sobre as medidas que estão sendo adotadas para evitar que a doença atinja atletas, integrantes das delegações, espectadores, voluntários e trabalhadores envolvidos na Olimpíada.
* Sem roupa limpa e comida para os pacientes, o Hospital Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, está antecipando as altas médicas. E as UPAs, por medida de economia, vão deixar de fazer internações.
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O ministro Marcelo Castro andou se saindo com o que o jornal O Globo definiu como “uma epidemia de frases infelizes”. Sobre o risco da microcefalia para as futuras mães, ele disse: “Tomem os cuidados devidos quando forem engravidar. Sexo é para amador, gravidez é para profissional”.
Dias depois: “Vamos torcer para que as pessoas, antes de entrar no período fértil, peguem a zika, para ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí não precisa de vacina.”
Na segunda, dia 25, disse: “Nós estamos há três décadas com o mosquito aqui no Brasil e estamos perdendo feio a batalha para o mosquito”.
A frase é verdadeira, correta, a mais pura expressão da verdade dos fatos.
Exatamente por isso, Dilma Rousseff e seus mais fiéis cães de guarda ficaram furiosos com o ministro que ela escolheu para o cargo. Ela não está acostumada a dizer ou ouvir verdades – muito ao contrário. O que fala não tem lastro, não tem contato algum com os fatos – são meras palavras ao vento, que não significam absolutamente nada, ou são simplesmente fantasias, ficção pura. Mentira, em suma.
Os jornais noticiaram que Dilma Rousseff ficou fula com o homem que ela botou para cuidar do Ministério que tem verba maior que o PIB do Panamá e mais funcionários do que toda a população de Itu.
O Estadão cravou em editorial nesta quarta, 27: “Sua recente declaração reconhecendo que o Brasil ‘perdeu feio’ a batalha contra o mosquito Aedes aegypti ao menos trata com transparência um problema sério, que até agora a presidente Dilma Rousseff não enfrentou nem dá mostras de querer enfrentar com a devida severidade. Ela prefere divulgar sua irritação com as palavras do ministro e anunciar medidas demagógicas. Com esse modo de governar, o problema só tende a aumentar – do mesmo modo que cresce a mais que justificada irritação da população com a presidente da República.”
E depois:
“A presidente Dilma adota postura demagógica, na qual a principal preocupação não é o mosquito Aedes aegypti, e sim a imagem de seu governo. Em primeiro lugar, a presidente Dilma não transmite com transparência à população a gravidade da atual situação. Nas vezes em que integrantes do governo o fazem, como o ministro Marcelo Castro, a presidente da República faz saber que ficou irritada.”
Em sua coluna no Estadão, Eliane Cantanhêde fez a pergunta simples, direta: “A culpa de ter um ministro desses é de quem?”
Com seu estilo virulento, certeiro, afiado como as peixeiras de sua Paraíba Natal, José Nêumanne (quando eu for grande, gostaria de escrever como ele) corta a carne dos incompetentes em seu artigo no Estadão desta quarta, 27:
“Na semana passada, Tania Monteiro, da sucursal do Estadão em Brasília, informou que a presidente ainda não demitiu o ministro da Saúde, Marcelo de Castro, por não querer desagradar a seu candidato a líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, e assim evitar transtornos à condução de seu único projeto de governo: evitar o próprio impeachment.”
E corta mais: “Cem anos após Oswaldo Cruz ter combatido a febre amarela expulsando o mosquito Aedes aegypti do Brasil, esse senhor cometeu a insânia de dizer, entre risos de mofa, em entrevista, que torce para as mulheres contraírem o vírus da zika antes da fertilidade, ficarem imunes e assim seu desgoverno sem caixa não ter de comprar vacinas caras. Dois séculos depois de José Bonifácio de Andrada e Silva ter articulado a nossa independência, contamos com um líder do pré-sal do baixíssimo clero da Câmara para garantir no posto um ministro que atua como se sua missão fosse disseminar a doença, e não proteger a saúde das vítimas de sua incúria.”
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Pois eu digo que não importa tanto se o dr. Marcelo Castro está ou não preparado para a tarefa hercúlea, ciclópica, de administrar o Ministério da Saúde de um país tão gigantesco e tão assolado por tantos males – alguns transmitidos por mosquitos, outros tantos por políticos populistas sem moral, sem vergonha.
O homem está há apenas quatro meses no cargo. Menos de quatro meses, para ser exato.
O PT de Lula e Dilma desgoverna o país há longos 13 anos e daqui a uns dias mais um mês. Marcelo Castro do PMDB substituiu o petista Arthur Chioro, que se sentou na cadeira de fevereiro de 2014 a outubro de 2015, após o cargo ter sido ocupado por outro petista, Alexandre Padilha, aquele que os eleitores paulistas mandaram voltar pra casa na última eleição para o governo do Estado, e que por sua vez ocupou o cargo de janeiro de 2011 a fevereiro de 2014.
A culpa não é de Marcelo Castro. A culpa pode até começar por Tomé de Souza, mas nos últimos intermináveis, tétricos 13 anos e um mês, a culpa é única e exclusivamente do PT e dos governos petistas.
Porque é como disse Merval Pereira em artigo no Globo nesta quarta, 27: “Digamos que as áreas da Saúde e da Educação fossem prioritárias para esse governo. Se pegarmos os critérios utilizados nas indicações de seus condutores, veremos que não pode dar certo esse sistema deturpado de presidencialismo de coalizão, que se transforma em cooptação pura e simples. Em nenhum momento se fala sobre projeto de governo, sobre programa para a Saúde e a Educação. (…) Então, não adianta a presidente Dilma ficar irritada com as tiradas do ministro da Saúde.”
Aí vão as íntegras do editorial do Estado e dos artigos de Merval Pereira e Eliane Cantanhêde sobre o tema. E, para fechar, o artigo de José Nêumanne, que, como metralhadora giratória, não deixa quieta qualquer área do desgoverno lulo-petista.
Dilma e o vírus zika
Editorial do Estadão em 27/1/2016
Não é difícil de perceber que o ministro da Saúde, deputado federal Marcelo Castro (PMDB-PI), é um pouco trapalhão com as palavras. Em menos de quatro meses no cargo, já acumulou inúmeras frases infelizes. Há males, no entanto, que vêm para bem. Sua recente declaração reconhecendo que o Brasil “perdeu feio” a batalha contra o mosquito Aedes aegypti ao menos trata com transparência um problema sério, que até agora a presidente Dilma Rousseff não enfrentou nem dá mostras de querer enfrentar com a devida severidade. Ela prefere divulgar sua irritação com as palavras do ministro e anunciar medidas demagógicas. Com esse modo de governar, o problema só tende a aumentar – do mesmo modo que cresce a mais que justificada irritação da população com a presidente da República.
É urgente combater eficazmente o mosquito Aedes aegypti. As palavras do ministro da Saúde, que tanta irritação causaram na suscetível presidente, mostram a dimensão do problema. “Nós temos 30 anos de convivência com o Aedes aegypti aqui no Brasil. Disse e vou repetir, sem querer culpar ninguém: acho que houve uma certa contemporização com o mosquito. Mas agora a situação é completamente diferente. Além da dengue, o mosquito está transmitindo chikungunya e zika”, afirmou o ministro da Saúde, após reunião com a presidente Dilma.
Essa é a dramática realidade, que deve ser enfrentada responsavelmente. É sabido que o combate ao Aedes aegypti depende da participação da população, para evitar os focos de proliferação do mosquito. A calamitosa situação brasileira – cujos efeitos começam a se espalhar internacionalmente – é fruto do descaso de muitos cidadãos. Reconhecer esse fato não significa, no entanto, eximir de responsabilidade o governo federal, como parece almejar a presidente da República.
Se o combate ao mosquito exige a colaboração da população, é dever do governo federal fazer as devidas campanhas de comunicação e de alerta à população. Não basta dizer que já fez algumas campanhas. Se o problema persiste – na verdade, ele vem se agravando –, é necessário fazer mais e fazer melhor. Diante de tão grave problema de saúde pública, o mínimo que se espera é que o governo coloque todos os meios que estão ao seu alcance para estimular a população a adotar os cuidados necessários para evitar a proliferação do mosquito.
Não é, no entanto, o que se tem visto. A presidente Dilma adota postura demagógica, na qual a principal preocupação não é o mosquito Aedes aegypti, e sim a imagem de seu governo. Em primeiro lugar, a presidente Dilma não transmite com transparência à população a gravidade da atual situação. Nas vezes em que integrantes do governo o fazem, como o ministro Marcelo Castro, a presidente da República faz saber que ficou irritada.
Depois, para que a população não tenha qualquer dúvida a respeito do grau de confusão do atual governo, são prometidas medidas de baixíssima eficácia. Anunciou-se, por exemplo, a ida das Forças Armadas às ruas para combater o mosquito. Ou também que 400 mil mulheres grávidas, participantes do programa do Bolsa Família, receberão repelentes gratuitamente.
Essa parece ser a exata medida da responsabilidade do governo federal. Sem utilizar os meios de que dispõe para promover uma mobilização da população contra o mosquito – justamente esse governo que é tão entendido em marketing e marqueteiros –, prefere fazer depender a saúde das gestantes e de seus filhos da eficácia dos repelentes. Um governo sério ficaria envergonhado de anunciar tamanha irresponsabilidade. O governo Dilma, porém, faz isso com a maior normalidade.
Não é compartilhando irritações que a presidente Dilma Rousseff deve enfrentar o grave problema de saúde pública causado pelo mosquito Aedes aegypti. É hora de assumir a responsabilidade pelo que está aí e agir consequentemente, com campanhas efetivas de comunicação. Está em risco a saúde da população e, como disse o ministro, até agora o País está perdendo feio.
Causa e consequência
Artigo de Merval Pereira em O Globo em 27/1/2016
Toda essa polêmica sobre as gafes cometidas em série pelo ministro da Saúde Marcelo Castro, até chegar ao “sincericídio” de admitir que perdemos a guerra contra o mosquito da dengue, da zika e da chicumgunha, só tem importância por um aspecto: a maneira como os cargos são preenchidos.
Juntar causa e consequência não é um esporte muito praticado no Brasil, mas o fato de que a corrupção já aparece como o principal problema do país pode indicar que os brasileiros finalmente estão descobrindo que ela é uma das causas da crise em que estamos metidos.
Não adianta a presidente Dilma ficar nervosa com os desacertos verbais de seu ministro – logo quem –, se o substituto também será escolhido da mesma maneira e, pior que isso, provavelmente não haverá substituto, pois Marcelo Castro foi nomeado por indicação do então líder do PMDB na Câmara Leonardo Picciani, que não pode abrir mão de seu apoio, pois continua lutando para se manter no cargo.
A presidente Dilma sabe que, na atual circunstância, é melhor para ela continuar com um ministro da Saúde ineficiente e boquirroto do que perder o apoio do líder do PMDB. O deputado Hugo Motta, colocado pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha na presidência da CPI da Petrobras e agora disputando a liderança na Câmara sob os mesmos auspícios, já saiu em defesa do ministro da Saúde, nomeado pelo mesmo Picciani com quem disputa agora a liderança na Câmara.
Isso quer dizer que Motta já vislumbra na crise da Saúde uma boa oportunidade para arrebanhar alguns votos na bancada peemedebista que apóia o ministro Castro, que deve estar muito irritado com as críticas que vem recebendo do Palácio do Planalto.
Não será surpresa se nos próximos dias, a pedido de Picciani, a própria presidente Dilma ou seu ministro principal Jaques Wagner sejam obrigados a dar declarações favoráveis a Marcelo Castro. Isso porquê a disputa pela liderança do PMDB está acirrada, e Picciani corre o risco de perder a eleição, o que vai levar novamente o impeachment para o centro do debate político.
Até aqui, tratamos de dois aspectos da crise brasileira: as negociações internas do PMDB, e a maneira como os governos nomeiam seus principais ministros. Digamos que as áreas da Saúde e da Educação fossem prioritárias para esse governo. Se pegarmos os critérios utilizados nas indicações de seus condutores, veremos que não pode dar certo esse sistema deturpado de presidencialismo de coalizão, que se transforma em cooptação pura e simples.
Em nenhum momento se fala sobre projeto de governo, sobre programa para a Saúde e a Educação. A “Pátria Educadora” não passou de um slogan vazio, e a escolha do filósofo Renato Janine apenas uma propaganda enganosa dessa prioridade. Não havia intenção de implementar nada, nem foi dada ao ministro condição mínima de atuação nos cerca de 5 meses em que esquentou a cadeira do ministério da Educação.
Logo um arranjo político obrigou a sua saída para acomodar o então Chefe do Gabinete Civil, Aluizio Mercadante, que voltou para a Educação como uma espécie de castigo por má atuação na coordenação política do Palácio do Planalto.
Então, não adianta a presidente Dilma ficar irritada com as tiradas do ministro da Saúde, assim como não deve esperar nada de um ministro como o da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, cujo maior mérito é ser “muito simpático, um gringão”, como o definem no PMDB do Rio, e ter sido dono de um restaurante rodízio na Baixada Fluminense.
Escolhido pelo PMDB do Rio, ele está lá da mesma maneira que Marcelo Castro está na Saúde, escolhido por Picciani para fortalecer a ala do PMDB que é contra o impeachment de Dilma. E como agora vão exigir deles o que não podem oferecer?
Já estamos vendo uma nova edição da mesma novela. Newton Cardoso Junior anuncia que em troca de apoio a Picciani, Minas exige a nomeação do ministro da Aviação Civil “antes da eleição”.
Do jeito como as negociações partidárias são feitas, é impossível imaginar uma saída a curto prazo dessa situação de anomia, onde ninguém é de ninguém e não se sabe quem manda, e com que objetivo.
Deu “zika” na Saúde
Artigo de Eliane Cantanhêde no Estadão em 27/1/2016
O carnaval nem começou e a Olimpíada será só no segundo semestre, mas o mosquito Aedes Aegypti já está sambando e batendo um bolão pelo Brasil afora. Em 2014, o País passou a conviver com o vírus chikungunya. Em 2015, bateu o recorde histórico de casos de dengue. Em 2016, já começou o ano com o zika vírus nas manchetes e contabilizando mais de 3 mil casos de microcefalia. Espantoso!
A dengue existe desde sempre no mundo, o chikungunya também não é exclusividade brasileira, o zika vem se espalhando por mais de 20 países e a febre amarela está controlada. (Ela também é transmitida pelo Aedes, mas com uma diferença vital: há vacina eficaz.) O mais espantoso, portanto, é tudo isso junto e o Brasil chegar a esse estado de calamidade tendo quem tem no Ministério da Saúde.
Enquanto as cúpulas do PT, do PMDB e do PP se refestelavam no mensalão, na Petrobrás, em outras estatais, no Carf, na edição de medidas provisórias, nos fundos de pensão e na relação do BNDES com as “campeãs nacionais”, tudo o que sobrou para empurrar na Saúde foi Marcelo Castro.
Quem é mesmo esse cidadão? Um médico renomado, respeitado e admirado pela própria categoria? Especialista de um dos centros de excelência do Brasil, com experiência comprovada em saúde pública? Ou um político com grande liderança? Nada disso. Marcelo Castro é um médico sem currículo, um político medíocre, um deputado do “baixo clero”, que só virou o que virou porque o inexpressivo líder do PMDB, Leonardo Picciani, indicou e a errática presidente da República, Dilma Rousseff, nomeou. Agora, aguentem! Ou melhor: agora, brasileiros, aguentem!
Sem ter o que dizer aos cidadãos, apavorados com dengue, zika e chikungunya, e aos especialistas em Saúde, que precisam de orientação, coordenação, recursos e decisão política, o nosso Marcelo Castro se dedica a… falar, falar e falar sobre o que não sabe. Na falta do que dizer, improvisa.
Primeiro, horrorizou brasileiros e brasileiras ao “torcer” para que as mulheres pegassem o zika ainda meninas: “Vamos torcer para que mulheres, antes de entrar no período fértil, peguem a zika, para elas ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí, não precisa da vacina”. Agora, chocou o mundo e irritou Dilma ao dizer uma singela verdade: “nós estamos com o Aedes há décadas aqui e estamos perdendo feio a batalha para o mosquito”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) desconversou, considerando a fala do ministro brasileiro “algo fatalista”. E Dilma descabelou-se. Mas a culpa de ter um ministro desses é de quem?
O Brasil discute com os Estados Unidos um acordo de cooperação visando ampliar as pesquisas comuns sobre vacina da dengue para uma futura vacina contra o zika, com participação de outros países que se interessarem. Mas isso, repita-se, é coisa para o futuro.
No presente, a situação é fora de controle, com as grávidas brasileiras querendo fugir para locais mais seguros e os estrangeiros refletindo se é mesmo o caso de vir para o carnaval e a Olimpíada, com dengue sambando, chikungunya em campo, zika treinando dia e noite e um ministro da Saúde que é um caso para junta médica.
Depois do mensalão, do petrolão, da Zelotes, do escândalo do Carf, de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, Renan Calheiros na do Senado e Picciani na liderança do maior partido… Marcelo Castro é a personificação da falência não de um governo, mas de um sistema.
Somos mais de 160 milhões de vítimas
Artigo de José Nêumanne no Estadão em 27/1/2016
Há nove anos chegam a meu computador denúncias de um golpe típico de vigarista: quase 3 mil famílias de associados entraram na Justiça contra a administração da Cooperativa dos Bancários (Bancoop), fundada por Ricardo Berzoini, secretário da presidente Dilma Rousseff. Eles se queixam de ter pago prestações de apartamentos em que não puderam morar. O acusado é o ex-presidente da instituição João Vaccari Neto, suspeito de haver desviado o dinheiro dos cooperados para beneficiar o Partido dos Trabalhadores (PT), de que foi tesoureiro.
Do grupo que mandou no Sindicato dos Bancários de São Paulo sob a égide de Luís Gushiken, absolvido no mensalão pelo Supremo Tribunal Federal e saudado como herói, quase santo, pelo revisor do processo, Ricardo Lewandowski, Vaccari ficou livre, leve e solto até cair na rede da Operação Lava Jato. E, aí, ser recolhido à prisão em Curitiba, onde cumpre penas. Aplaudido de pé em reuniões do partido, tratado pelo presidente nacional petista, Rui Falcão, e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como companheiro prestimoso, Vaccari vê agora ressuscitarem nas mãos do promotor José Carlos Blat as queixas das vítimas da Bancoop, que têm complicado sua situação.
Nos processos há evidências que desfazem a aura de santidade que Lula se outorgou ao falar a blogueiros fiéis: sem ter dado um dia de expediente em agência bancária na vida, o ex-presidente é acusado de ter adquirido a preço de banana um tríplex de 294 metros quadrados com elevador privativo na praia do Guarujá. A revista Veja circula com reportagem de capa que reproduz trechos de depoimentos ao Ministério Público de São Paulo com testemunhos de que o imóvel, cuja propriedade o ex nega, não pertence à empreiteira OAS, acusada de participar do propinoduto da Petrobrás, mas à família Lula da Silva. Outro promotor, Cássio Conserino, informou que “Lula e Marisa serão denunciados” pelo crime de ocultação de patrimônio, que caracteriza lavagem de dinheiro.
A bomba revelada pelo semanário causou controvérsias. O promotor não podia ter dado a entrevista e a revista não devia ter noticiado a perspectiva de denúncia não concretizada? Desde que Guttenberg decidiu imprimir sua Bíblia até nossos dias de internet, o debate sobre o direito à privacidade de homens públicos e o dever dos meios de comunicação de noticiar o que lhes cai nas mãos foi aberto, repetido e dificilmente um dia se resolverá.
Mas há algo mais grave omitido na polêmica: os quase 3 mil chefes de família cuja poupança virou pó de calcário não têm direito a ver punidos o mau gestor que levou a cooperativa à falência e os que o protegeram tanto nela quanto no partido que dela tirou proveito?
Esse episódio pungente e revoltante retrata apenas um tijolo do muro das lamentações a cujas proximidades as vítimas da desumana rapacidade das castas dirigentes sindical, política e burocrática nacionais nunca tiveram sequer acesso. É o caso do camponês diante da lei na fábula de Kafka que Orson Welles usou como prólogo do filme O Processo, lançado em DVD pela Versátil.
Outra evidência de que as vítimas de ignomínias similares são tratadas no Brasil como párias destinadas à danação é a chicana mal disfarçada no desabafo de famosos causídicos na tentativa esdrúxula de configurar a ação da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e do juiz federal do Paraná Sergio Moro, que devassam as petrorroubalheiras, como caudatária de métodos neoinquisitoriais da ditadura militar. Em defesa de seus polpudos proventos, os “profissionais da lei” não invocaram um único fato para execrar o trabalho honesto e competente dos agentes do Estado, que cometem o pecado de introduzir na história penal do País condenações de milionários e meliantes de colarinho branco flagrados em delito. A mistura cavilosa de alhos com bugalhos chega a ser um escárnio, de tão cínica.
Ao tratar acusados de rapina do patrimônio público como se fossem vítimas desse saque, os signatários escarram nos rostos honrados dos mais de 160 milhões de brasileiros que sabem que são espoliados sem dó por um desgoverno de desmandos, um Congresso com muitos representantes venais deles próprios e um Judiciário cuja lerdeza é uma forma de opressão. O número citado não é aleatório, consta do furo de José Roberto de Toledo publicado neste jornal: segundo o Ibope, 82% dos entrevistados sabem que nunca podem contar com a gestão federal do PT, PMDB e aliados para nada.
Difícil é encontrar alguma razão para 14% ainda alimentarem a vã ilusão de que Dilma Rousseff e seus asseclas estejam levando o Brasil para um rumo qualquer. Na semana passada, Tania Monteiro, da sucursal do Estadão em Brasília, informou que a presidente ainda não demitiu o ministro da Saúde, Marcelo de Castro, por não querer desagradar a seu candidato a líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, e assim evitar transtornos à condução de seu único projeto de governo: evitar o próprio impeachment.
Cem anos após Oswaldo Cruz ter combatido a febre amarela expulsando o mosquito Aedes aegypti do Brasil, esse senhor cometeu a insânia de dizer, entre risos de mofa, em entrevista, que torce para as mulheres contraírem o vírus da zika antes da fertilidade, ficarem imunes e assim seu desgoverno sem caixa não ter de comprar vacinas caras. Dois séculos depois de José Bonifácio de Andrada e Silva ter articulado a nossa independência, contamos com um líder do pré-sal do baixíssimo clero da Câmara para garantir no posto um ministro que atua como se sua missão fosse disseminar a doença, e não proteger a saúde das vítimas de sua incúria.
O pior é que combate essa súcia uma oposição que, limitada a atuar para pôr fim a um desgoverno desastrado, em vez de apresentar alternativa decente de poder, só propõe patacoadas como a extinção do partido adversário. Pobres de nós, vítimas dessa vil politicagem!
27/1/2016
EUFEMISMOS DO PIG.
A arrogância e a impunidade levam a mídia hegemônica, corporativa e comprometida, que com hipocrisia se diz isenta (!), a prosseguir, como um trator, reforçando seu perfil de partido político inconfessado e espúrio em que se transformou: o PIG.
Parece sem limites a audácia com a qual falseia a realidade objetiva, perseguida, com esforço, no jornalismo ético. A velha mídia usa palavras e expressões que fazem o papel de “agente contaminador”. Manipula e asperge mais medo e insegurança àqueles latentes em todos nós, neste mundo do século 21. Distorce significados com eufemismos; entorpece, envenena corações e mentes, confunde os desavisados e silencia quando é conveniente aos interesses dos seus proprietários. Ludibria e mente sem pudor.