No shopping com Marina

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Hoje fui pela absoluta primeira vez a um shopping com Marina, e ela me deixou chocado.

Fomos ela, a mãe dela e eu.

O passeio tinha um propósito específico: Marina iria cortar o cabelo. Fazia já um bom tempinho que eu dizia que gostaria de ir com ela ao salão, ver ela cortar o cabelo. E então hoje Fê me convidou.

***

Mary, que dirigiu até a escolinha para pegarmos Marina, nos deixou na porta e foi cuidar de coisas que precisava fazer. Na escola, foi uma delícia, porque me ofereci para pegar a pequena, deixando Mary e Fê no carro; então, quando me viu, fez uma cara de estranhamento. Diva, uma das professoras, abriu um sorriso, brincou que Marina não tinha avisado que era o vovô que a pegaria hoje, e aí ela disse: – “Eu achava que era a mamãe”. Falei que hoje tínhamos vindo todos – a mamãe, a vovó e eu. Ela ficou numa alegria imensa – um daqueles momentos deliciosos em que dá vontade de agarrar e morder a delícia. “Todo mundo! Todo mundo!”, dizia. Quando viu as mãos das duas abanando para ela no carro, do outro lado da rua, deu pulinhos de alegria no meu colo. No carro, notamos que tinha vindo todo mundo – só faltou o papai, que estava trabalhando.

Além de alegríssima com a novidade de “todo mundo” ir pegá-la, estava no modo tagarelinha, e contou coisas do dia de hoje na escola – teve festa de encerramento das paraolimpíadas – durante todo o trajeto, que não é longo, até o shopping. A mãe fez perguntas, e ela respondeu a todas, animadinha, falante. (Não é sempre assim: há vezes em que não tem muita vontade de contar como foi o dia.)

Contou como foram vestidos vários dos colegas. A idéia da festa de encerramento das paraolimpíadas na escola era que cada criança fosse vestida como um atleta de alguma modalidade; ela mesma foi de nadadora, com o maiozinho por cima de uma blusa de manga comprida e calça pretas, com roupão por cima – um arraso.

Vários colegas, meninos e meninas, foram também de nadador. Teve um, o Zeca, que foi de jogador de basquete. E teve um que foi – todo mundo achou muito legal – de levantador de peso!

E Marina contou para nós como é que faz um levantador de peso.

É especialmente delicioso ouvir ela dizer “os meus amigos isso”, “os meus amigos aquilo”.

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***

Ao entrarmos no shopping depois de dizer tchau pra vovó, Marina saltitava feliz.

Só há uma coisa tão maravilhosa quanto ver que Marina saltita feliz – lembrar do tempo em que a mãe tinha a idade dela, ou um pouco menos, ou bastante mais, e saltitava feliz. Como Fernanda saltitava feliz!

E então comentei com minha filha que aquela era a primeira vez que entrava num shopping com Marina. Respondeu que isso era bom – que a Marina e eu tivemos então até agora outros programas, além de passeio em shopping.

O salão de cabeleireiras de crianças é um encanto – pessoas extremamente simpáticas, muitos brinquedos, muitas cores; as cadeiras em que os pequenos ficam são carrões coloridos, e diante de cada cadeira, cada estação de trabalho das cabeleireiras, há uma TV ligada a DVD, de tal forma que a criança pode ver um desenho de sua preferência enquanto corta o cabelo.

– “Eu vou cortar o cabelo com a Flávia”, Marina tinha me informado, enquanto saltitava feliz nos corredores do shopping. Era a terceira vez que ia àquele salão, e a segunda em que seria atendida pela Flávia.

Chegamos um pouco antes da hora marcada, a Flávia estava cortando o cabelo de outra criança, e então tivemos que esperar um pouquinho. Havia um display de DVDs infantis, e dei uma olhada. Não tinha as coisas de que Marina gosta – Palavra Cantada, Barbatuques, Tiquequê, Show da Luna, Peppa –, e, na falta disso, fui tentando achar algo palatável para comprar para ter em casa.

Acabei ficando nas mãos com um Disney de princesas e um Backyardigans, de que ela também gosta.

Mostrei para ela, dizendo que estava pensando em comprar um deles para ter em casa, para ela ver quando está lá.

Olhou para os dois, e balançou a cabeça dizendo que não queria.

Uau!

Não queria!

O mais chocante mesmo, no entanto, viria depois.

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***

Quando veio para atender Marina, Flávia, extremamente simpática, perguntou a ela que desenho queria ver. Macaco quer banana, Marina quer Elsa e Anna. Flávia procurou o DVD de Frozen, colocou – e ainda por cima entregou uns cinco bonequinhos para ela brincar, inclusive um de Elsa e um de Anna.

***

Um rápido flashback:

Suely e eu criamos Fernanda tomando cuidado para tentar fazer com que ela não fosse uma criança consumista, acostumada a ter tudo o que pedisse. Foi filha de pais separados desde muitíssimo cedo, mas pai e mãe tinham essa mesma preocupação, esse mesmo cuidado. Quando eventualmente ela manifestava desejo de ganhar alguma coisa, eu procurava sempre adiar um pouco, dizendo coisas do tipo: vou ver se vai dar para comprar, Filha, e aí, se der, semana que vem eu compro. Água bate em pedra dura tanto bate até que… Me lembro de Fernanda, muito criança, em vez de dizer “Eu quero isso!”, “Compra isso pra mim!”, “Me dá!”, falando algo assim: “Paiê, quando der, você poderia comprar aquilo ali pra mim?”

Fim de flashback, rápida consideração: os tempos, sem dúvida alguma, mudaram muito. Mudaram demais, tudo mudou. Muita coisa para melhor, muita coisa para muito pior.

Os tempos de Marina criança, assim em termos materiais, são muito mais fartos que os da mãe dela. Não que não fossem confortáveis os da mãe dela – eram. Mas os de Marina são muito mais.

Fecham-se as considerações, volta a narrativa.

***

Queria oferecer alguma coisa à pequena. Andei pelo salão – há muitos brinquedos, coisinhas, tudo possível e imaginável, à venda.

Vi prendedor de cabelo com a marca Frozen, achei que seria um delicioso presentinho. Mostrei pra mãe, ela disse que não, aquilo era de borrachinha, Marina não gosta muito, está acostumada é com tic-tác,

Voltei à exposição de coisinhas, e tinha lá um tic-tác Frozen.

Àquela altura, a Flávia estava quase terminando o trabalho de cortar um dedinho das pontas do cabelo de Marina.

Mostrei pra pequena, falei que talvez ela quisesse de presente tic-tác do Frozen..

Olhou, olhou, olhou. E me disse, firme, tranquila: – “Não precisa”.

Chocante.

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30/9/2016

Esta última foto aí é só porque adoro ver juntas fotos das duas. 

2 Comentários para “No shopping com Marina”

  1. Por algum motivo eu havia perdido esse texto (pela data, estava viajando).
    Na minha santa ignorância eu não sabia que há salões só para crianças, nunca tinha ouvido falar. Deve ser um filão e tanto.

    Isso dos tempos serem mais fartos, não só para Marina, mas no geral, e das coisas serem mais acessíveis, me incomoda um pouco, apesar de à primeira vista parecer ser algo positivo (e é mesmo ótimo que o público das classes não tão abastadas também tenham poder de compra hoje, não é essa a questão). O que acontece é que as pessoas enchem os filhos de presentes, e se esquecem do principal. Pais incentivam o consumismo, o descarte, o materialismo (não é o caso dela, claro).
    Eu tive muito pouca coisa na infância, acho que foi uma época de vacas magras, e não era do estilo da minha mãe ficar dando brinquedos, mesmo que pudesse; coisa de pedagoga. Eu valorizava e cuidava de cada raro presente que ganhava, e sempre digo que não morri por isso, apesar de na época ter me ressentido um pouco, sim, provavelmente por causa das outras crianças. A dor nasce da comparação, já disse o grande Rubem Alves. Hoje, toda vez que o Natal se aproxima e eu vou ao correio ler as cartinhas que as crianças enviam ao papai Noel, fico besta de ver como só pedem coisas caras, como celulares, tablets, jogos eletrônicos, bonecas e carrinhos que custam mais de 200 reais. Ah, vá! Fala sério! Tudo bem que os tempos são outros, mas mesmo assim. Não dou esse tipo de coisa nem para os meus parentes, até uma certa fase não há a menor necessidade.

    (Tive a vantagem de gostar de livros desde pequena, e de brincadeiras e atividades que não necessitavam de brinquedo: pular, nadar, jogos com bola, etc. Graças a Deus na minha infância não existia essa coisa de ter brincadeiras específicas para cada sexo; do contrário eu estaria frita, porque as de que eu gostava eram todas “de menino”. Na minha casa era assim: eu gostava de brincadeiras ditas do sexo masculino; sempre detesteei bonecas, essas coisas inanimadas, de olhos parados e assustadores. Já um dos meus irmãos gostava de brincar com fogão e panelinhas, e segundo minha mãe, meu pai comprava. E ele também usava o cabelo meio comprido, numa época em que não era comum. E tem gente que ainda acha que brincar de certas coisas faz a pessoa “virar” gay. Quanta ignorância, Senhor!!!). Desculpe o parêntese enorme; nos textos sobre a Marina, não gosto de me alongar ou tergiversar, mas uma coisa puxou a outra.

    Impressionante mesmo que ela tenha rejeitado os presentes, admirável.
    Acho incrível essa seriedade dela em algumas fotos, já falei isso. Acredito que ela seja uma criança índigo ou cristal, uma alma velha, no bom sentido (para quem acredita, lógico).
    Também gosto de ver fotos das duas juntas, é legal para vermos as semelhanças.

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