As elites formam o grupo minoritário de pessoas que, numa sociedade, ocupa um lugar de relevo devido a certos atributos muito valorizados, quando não invejados.
Seu peso, em todas as sociedades, é imenso. Os passos que dá podem mudar os destinos de um país, conforme vimos nos últimos dias nas reuniões realizadas no Clube das Elites de Brasília, o Senado Federal.
É um clube curioso: em suas reuniões podemos encontrar sócios permanentes, sócios atletas, sócios temporários e às vezes até alguns penetras.
Quando se reúne todo o corpo societário, o que é muito raro, naturalmente o ambiente fica mais nervoso ou mais festivo. Em sua última reunião, nos dias 30 e 31 do inacreditável mês de agosto, o salão do clube ficou agitado e dividido entre a alegria e o nervosismo.
Salão que será o cenário principal do filme O Impeachment, breve nos cinemas. Talvez por isso os sócios se esmeraram em atitudes marcantes: ninguém quer aparecer como coadjuvante, todos querem figurar como atores principais, mocinhos ou bandidos. Lembrando que em muitos filmes o bandido tem mais apelo que o mocinho…
Minha intenção aqui é colaborar com o roteirista do filme e destacar algumas das atuações que, creio eu, merecem escapar da lata de lixo da sala de montagem.
Vamos lá:
* Lindbergh Farias, querendo sobressair, resolveu pisar um terreno que não lhe é familiar, o da História do Brasil. Em seu último pronunciamento do dia 31 quis comparar o “Canalha! Canalha! Canalha!” do bravo Tancredo Neves quando foi deposto João Goulart. Evidentemente, pagou um belo de um mico, já que foram momentos absolutamente distintos.
* Janaína Paschoal, a quem devemos a base sólida para o impeachment que nos livrou de um governo muito danoso ao país, teve seu momento infeliz: chorar porque seu brilhante trabalho estava ajudando a destituir uma presidente mulher, francamente, foi um passo em falso. O que tem o gênero da presidente a ver com os motivos para cassar seu mandato? A não ser que ela concorde com Dilma que esse processo foi misógino, homofóbico e racista! Misoginia? Homofobia? Racismo? De quem Dilma falava?
* Renan Calheiros sacudindo um exemplar da Constituição como um salvo-conduto para seus correligionários fatiarem o Artigo 52 do livrinho! Foi o que fizeram esquecendo-se, propositadamente, que a preposição COM não deixa margem a dúvidas no parágrafo único do dito artigo. Não se trata de ‘e/ou’ perda de mandato e direitos políticos, mas sim de ‘com’. O presidente do clube disse que não queria ser mau, nem desumano e que não seguiria um dito comum nas Alagoas: “Depois da queda, o coice”. O que será que passou pela cabeça de Fernando Collor ao ouvir confirmado aquilo que sofrera em 1992, o coice que levou depois da queda? Mas Collor, que de bobo não tem nada, sabe muito bem que o fatiamento foi inventado para que os sócios do clube não percam o direito ao foro privilegiado.
* Vanessa Grazziotin… O que foi mesmo que ela disse? Desculpem, não consigo me lembrar. Mas como o filme tem que ter uma estrela, sob pena de ser considerado machista… cito a amazonense.
* Ricardo Lewandovski passou o julgamento batendo na tecla de que não estava ali como juiz. Mas, na Hora H, esqueceu seu papel e decidiu, sem os votos do plenário, pelo fatiamento do Parágrafo Único do Artigo 52.
O que ainda não sabemos é em que categoria entrará o filme. Comédia, terror, ou drama romântico? Logo saberemos, precisamos só de um pouco mais de paciência.
Termino sugerindo outro título. Em vez de O Impeachment, meio ultrapassado, que tal As Elites Em Todo Seu Esplendor?
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 2/9/2016.
Que título poderia ser mais sugestivo?