Os fatos acontecem à velocidade de um raio e dissipam ilusões quanto à capacidade da presidente Dilma Rousseff construir um mínimo de apoio no Parlamento para barrar o processo de impeachment.
Soma-se a isso a absoluta impossibilidade de reverter o sentimento amplamente majoritário de repulsa ao seu governo.
O desembarque do PMDB e seu efeito cascata são evidências de que o projeto de poder do lulo-petismo está vivendo seus estertores.
Só lhe resta uma última e desesperada manobra: exacerbar até não poder mais o clima de radicalização e confronto para ganhar sobrevida ou para se preparar para o amanhã, se tiver de ir para oposição.
Assim sendo, o lulo- petismo procura criar a imagem de que está em curso uma ruptura democrática e ameaça um day after no qual o país ficaria em chamas, no caso do impeachment da presidente.
É pura guerra psicológica diversionista. Estamos longe de uma “guerra civil” ou da iminência de um desvio de rota do Estado de Direito Democrático. As instituições republicanas têm se pautado conforme determina a Constituição. Excessos eventualmente cometidos foram corrigidos pelos próprios mecanismos de freios e contrapesos da democracia.
As manifestações, por sua vez, têm sido, na sua maioria, ordeiras e pacíficas. Assim se pautaram os 6 milhões de brasileiros que foram às ruas no dia 13 de março.
E é assim que tem de ser. Na lei e na ordem.
No ordenamento democrático, todos, absolutamente todos, podem dar sua opinião sobre se há, ou não, motivos para o impeachment. Podem fazer manifestações contrárias ou favoráveis ao impedimento da presidente.
A apreciação da matéria, contudo, cabe, de forma privativa, ao Congresso Nacional, observados os trâmites definidos pelo Supremo Tribunal Federal. Serão a Câmara e o Senado que farão o julgamento do impeachment. Para isto têm inteira legitimidade. A Suprema Corte, se provocada, se pronunciará, mas provavelmente para verificar se o rito processual esteve em sintonia com a Constituição. Simples assim.
Mas, por ideologia ou má fé, setores da nossa intelectualidade alardeiam que estamos vivendo situação semelhante à de 1964 e a própria presidente assume o mesmo discurso, na sua estratégia de vitimização. Até certo ponto, e até certo grau, entende-se tal comportamento.
Há em parte da esquerda brasileira uma cultura maniqueísta, de dividir o mundo entre os bons e os maus, de se achar depositária da virtude, de acreditar que os fins justificam os meios. Em nome da causa, vale tudo.
Vale fazer vista grossa à corrupção praticada para perpetuar um projeto de poder. Vale a relativização dos valores da democracia, se tais valores forem violentados pelos chamados governos populares.
O lado mais ideológico do lulo-petismo nunca engoliu muito bem este negócio de presidencialismo de coalizão. Nunca enxergou os partidos aliados como parceiros de um projeto. Ao contrário, viam como um estorvo, cujo apoio poderia ser comprado. Por dinheiro ou por repartição do butim ministerial.
O condomínio PT-PMDB, com seus partidos satélites, baseou-se na desconfiança mútua, no desejo irresistível de um jogar o outro no mar, quando chegasse a hora.
E a hora chegou.
Com 50 anos de janela, os “profissionais da política” foram mais rápidos. Pularam fora do Titanic, deixaram Dilma a ver navios.
Ainda não é possível descortinar como serão os últimos capítulos do lulo-petismo no poder. Certamente, o país viverá momentos de sobressalto e de tensão, até o desfecho desta novela.
Acreditamos nas instituições e em um final feliz. E torcemos para que a lei e a ordem continuem falando mais alto.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 30/3/2016.
Questão de ordem, quem é bom? Quem é mau? O maniqueísmo é de esquerda? Ou de direita? Aproxima-se um golpe dentro da lei, veremos os coxinhas amanhã bajulando o poder, tal como após de 31 de março de 1964.